O tenente-coronel Mauro Cid disse preferir que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) seja reeleito em 2026 a ter Michelle Bolsonaro na Presidência. A declaração se deu em mensagens enviadas pelo ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL) a Fabio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação do ex-presidente.
O UOL teve acesso ao celular de Cid. São 158 mil mensagens no aplicativo, além de mais de 20.000 arquivos. Nas conversas sobre as investigações que tinham o ex-presidente como alvo e sobre o cenário político no Brasil, Cid fazia diversas críticas à ex-primeira-dama e enviava mensagens irônicas sobre ela.
Em 27 de janeiro de 2023, Wajngarten enviou a Cid uma notícia de que o PL analisava lançar Michelle como candidata à Presidência caso Bolsonaro fosse impedido de concorrer nas eleições de 2026. “Prefiro o Lula”, disse Cid. “Idem”, respondeu Wajngarten.
Dias depois, o ex-ministro reencaminhou, sem identificar a origem, mensagem que criticava o partido de Bolsonaro pelo salário pago a Michelle. “Em que mundo o Valdemar [Costa Neto, presidente do PL] está vivendo?”, escreveu o ex-ministro.
O tenente-coronel enviou uma mensagem em áudio. “Cara, se dona Michelle tentar entrar para a política, num cargo alto, ela vai ser destruída, porque eu acho que ela tem muita coisa suja […] não suja, mas ela né, a personalidade dela, eles vão usar tudo contra para acabar com ela”, disse.
Na mesma época, Wajngarten conversou com Cid sobre uma possível candidatura de Michelle ao Senado. Ele afirmou ter conversado com o ex-presidente sobre a possível repercussão negativa que a divulgação desse tipo de informação poderia trazer para a ex-primeira-dama.
“Eu entendo que, cada vez que falarem dela, ela tomará porrada da imprensa. Além disso, ventilar o nome dela nesse momento não trará em absoluto nenhum benefício concreto. Só matérias negativas”, escreveu Wajngarten.
Cid respondeu: “Com certeza! Ela tem muito furo. Muita coisa para queimar… inclusive do passado”.
Outro interlocutor de Cid é o coronel Marcelo Câmara. Ele trabalhou no Planalto durante a gestão Bolsonaro e acompanhou o ex-presidente aos Estados Unidos em 30 de dezembro de 2022.
Pouco antes da viagem, em 28 de dezembro de 2022, Cid enviou a Câmara uma captura de tela de uma conversa que teve com Michelle.
Ela compartilhou uma coluna publicada naquele dia pelo portal Metrópoles que cita que “um auxiliar próximo” de Bolsonaro. Esse auxiliar a teria chamado de “equivocada”, “teimosa”, “melindrada”, “má companheira”, “medíocre” e “falsa crente”.
Ao enviar o texto para Cid, Michelle escreveu: “Agiu rápido né”.
Em 11 de janeiro de 2023, Câmara contou a Cid que saiu com Michelle, referida na mensagem com a sigla PD (primeira-dama).
“Tive que sair com a PD”, escreveu Câmara. “Tua amiga”, acrescentou de forma irônica. Cid ri das mensagens.
O UOL entrou em contato com Wajngarten. O ex-ministro disse que, na época das mensagens, “jamais se imaginou” a ex-primeira-dama como candidata. “Os diálogos ocorridos nada mais eram do que análise de notícias que saíam na imprensa“, declarou.
A defesa de Cid não quis se manifestar porque não teve acesso aos diálogos. A assessoria de imprensa de Michelle não respondeu aos contatos feitos pelo portal.