O governo do Paraguai decidiu nesta 3ª feira (1º.abr.2025) chamar seu embaixador no Brasil, Juan Ángel Delgadillo, para consultas e convocar o embaixador brasileiro em Assunção, José Antonio Marcóndez, para dar explicações sobre um possível ataque hacker feito pela Abin (Agência Brasileira de Inteligência) a autoridades do país.
O anúncio foi feito pelo ministro das Relações Exteriores do Paraguai, Rubén Ramírez Lezcano. Em entrevista a jornalistas, ele disse que a convocação se deu para que o diplomata “ofereça explicações detalhadas sobre a ação de inteligência realizada pelo Brasil por meio da entrega de uma nota oficial, para que, como mencionado, explique detalhadamente as ações desenvolvidas no âmbito dessa ordem emitida pelo governo do Brasil”.
Ramírez Lezcano anunciou também que o país suspendeu as negociações com o Brasil sobre o chamado Anexo C da Itaipu Binacional até que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) explique o possível ataque hacker.
De acordo com o UOL, a agência teria espionado computadores de autoridades do governo paraguaio para obter informações relevantes para a negociação de tarifas de energia elétrica produzida pela usina de Itaipu.
A reportagem diz que o planejamento da operação começou no fim da gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), mas foi executada já no governo Lula.
ENTENDA
Na 2ª feira (31.mar), o governo Lula negou envolvimento com o possível ataque hacker. “O governo do presidente Lula desmente categoricamente qualquer envolvimento em ação de inteligência, noticiada hoje, contra o Paraguai, país membro do Mercosul com o qual o Brasil mantém relações históricas e uma estreita parceria. A citada operação foi autorizada pelo governo anterior, em junho de 2022, e tornada sem efeito pelo diretor interino da Abin em 27 de março de 2023, tão logo a atual gestão tomou conhecimento do fato”, escreveu em nota.
Leia o que diz a reportagem do UOL:
- sob o governo de Lula, a Abin teria realizado um ataque hacker contra a cúpula do governo paraguaio;
- o objetivo da operação de espionagem seria obter informações relevantes para a negociação de tarifa de energia elétrica produzida pela usina hidrelétrica de Itaipu, cuja gestão é dividida pelos países;
- os relatos teriam sido feitos à Polícia Federal durante investigação de mau uso da agência durante a gestão de Bolsonaro;
- os ataques hackers não teriam saído do Brasil, mas os agentes brasileiros teriam atuado no Chile e no Panamá;
- dentre os alvos espionados estariam o Senado paraguaio, Câmara e a Presidência da República daquele país;
- segundo a reportagem, a operação foi autorizada durante o governo Bolsonaro, mas o atual diretor-geral da agência saberia o fato e teria comemorado a iniciativa.
“O atual diretor-geral da Abin encontrava-se, naquele momento, em processo de aprovação de seu nome no Senado Federal, e somente assumiu o cargo em 29 de maio de 2023”, segue a nota.
Apesar de não negar que houve a operação, o posicionamento oficial do Planalto tenta isentar a administração Lula do fato. O texto da reportagem, entretanto, contradiz essa versão.
Em 7 de maio, os governos do Brasil e do Paraguai fecharam, em Assunção, um acordo para definir as tarifas da usina de Itaipu para os próximos 3 anos.
O lado brasileiro concordou com um reajuste menor do que pediam os paraguaios, mas criou um mecanismo para, na prática, manter o custo atual ao consumidor brasileiro. Para isso, acordou contrapartidas com o país vizinho.
O presidente do Paraguai defendia um aumento da tarifa dos atuais US$ 16,71/kW para pouco mais de US$ 22,70. Depois, propôs US$ 20,75. O Brasil, que queria reduzir ou pelo menos manter a tarifa atual, topou fixá-la em US$ 19,28 até 2026.
O valor extra que será recebido pela parte da margem brasileira será revertido para modicidade tarifária e abaterá o valor extra. Com isso, o governo assegurou que o aumento será zero para os consumidores brasileiros.