O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro (Partido Socialista Unido da Venezuela, de esquerda), disse na 2ª feira (28.out.2024) esperar que o chefe do Executivo brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), se pronuncie sobre o veto do Brasil à entrada venezuelana no Brics.
“Prefiro esperar que Lula observe, esteja bem informado sobre os acontecimentos, e que ele, como chefe de Estado, em seu momento, diga o que tem de dizer”, declarou Maduro em entrevista transmitida pela TV pública da Venezuela.
Maduro não responsabilizou Lula diretamente pelo veto, mas criticou o poder que o Ministério das Relações Exteriores teria, de acordo com ele, sobre as decisões do governo do Brasil.
O venezuelano disse que o Itamaraty “tem sido um poder dentro do poder no Brasil há muitos anos”. Ele afirmou que o cubano Fidel Castro costumava afirmar que o Brasil “era comandado por um edifício”, referindo-se ao Ministério das Relações Exteriores.
Segundo Maduro, o Itamaraty “sempre conspirou” contra a Venezuela. “É uma chancelaria muito ligada ao Departamento de Estado norte-americano, desde a época do golpe de Estado contra João Goulart [em 1964]”, declarou.
A Venezuela ficou fora da lista de 12 países que serão analisados pelo Brics para se tornarem novos integrantes do bloco. Maduro foi à Cúpula do Brics em Kazan (Rússia), realizada na semana passada. A orientação do governo brasileiro para a delegação que esteve presente no evento foi de barrar a entrada de novos países.
O Brasil não considera o momento propício para a entrada da Venezuela por causa das tensões depois da eleição presidencial venezuelana de 28 de julho. A recusa de Maduro em enviar as atas eleitorais para comprovar que não houve fraude no pleito azedou a relação entre Brasil e Venezuela.
O governo venezuelano classificou, na última 5ª feira (24.out), o veto brasileiro como uma “agressão”. Em nota, o Ministério das Relações Exteriores venezuelano disse que a gestão de Lula manteve “o pior” de Jair Bolsonaro (PL).
Segundo o documento, a decisão brasileira “contradiz a natureza e a postura” do bloco e nenhuma “artimanha” será capaz de mudar o curso da Venezuela, que seria um país “livre e sem hegemonismos”.
Lê-se na nota: “O Itamaraty, liderado pelo embaixador Eduardo Paes Saboia, decidiu manter o veto que Bolsonaro impôs à Venezuela durante anos, reproduzindo o ódio, a exclusão e a intolerância promovida pelos centros de poder ocidentais para impedir, por ora, a entrada da Pátria de Bolívar a essa organização. E uma ação que configura uma agressão à Venezuela e um gesto hostil”.