Dois dias depois de defender a anistia de presos pelo 8 de Janeiro durante ato na avenida Paulista, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou que o projeto de “perdão” não é de interesse do atual governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“O Executivo não tem interesse em aprovar a anistia, mesmo sabendo de pessoas humildes que estão sendo condenadas com uma pena muito alta. E ele [Lula] se apega a isso como se, agindo dessa maneira, ele evitou que o Brasil se transformasse em um regime de exceção. Eu entendo exatamente o contrário”, disse o ex-presidente.
Segundo Bolsonaro, a sugestão do projeto de anistia durante seu discurso foi uma tentativa de “apaziguamento” e que o apoio do Executivo seria “muito bem-vindo”. No entanto, ele diz achar “muito difícil” que haja esse suporte vindo do governo.
“Isso [a anistia] tem que vir mais do lado de lá. Eu sei que o parlamento é um ente que decide essa questão. Mas, partindo do Executivo, seria muito bem-vindo. Acho difícil”, afirmou em entrevista nesta 3ª feira (26.fev) à Revista Oeste.
“A gente entende, também, que a CPI [do 8 de Janeiro] não apurou absolutamente nada, a não ser cumprir uma determinação do governo. E temos esse problema pela frente, que acho que está mais do que debatido, da forma como as questões de liberdade de expressão estão sendo conduzidas no Brasil”, afirmou Bolsonaro.
O relatório da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do 8 de Janeiro foi aprovado em 18 de outubro de 2023. No parecer, a relatora, a senadora Eliziane Gama (PSD-MA) pediu o indiciamento de 61 pessoas, dentre elas o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Neste mesmo dia, em entrevista à Rede TV, o presidente Lula também comentou sobre a defesa de um perdão aos presos do 8 de Janeiro. A ideia de um projeto de anistia foi criticada pelo atual chefe do Executivo. “Quando o cidadão lá [Bolsonaro] pede anistia, ele tá dizendo: ‘Não, perdoe os golpistas’. Tá confessando o crime”, afirmou Lula.
Na avaliação do ex-presidente, as invasões aos Três Poderes em 8 de Janeiro foram atos de “vandalismo”, mas os presos como resultado dos atos são “pobres coitados que pegam uma pena enorme por ter participado, alguns nem tanto, daquele ato de vandalismo”.
ATO NA PAULISTA
O ato convocado por Bolsonaro foi realizado na avenida Paulista, em São Paulo, no último domingo (25.fev). O público variou de 300 mil a 350 mil pessoas, segundo estimativas realizadas a partir da análise de fotos e vídeos da manifestação.
Em seu discurso, além de defender a anistia dos presos pelo 8 de Janeiro, o ex-presidente também negou a o envolvimento em suposto golpe de Estado, motivo pelo qual é investigado pela PF (Polícia Federal). Na entrevista desta 3ª (27), Bolsonaro disse que a manifestação “saiu dentro do script” e que “o comportamento de todos no carro de som saiu a contento”.
O ex-chefe do executivo também defendeu as falas do pastor Silas Malafaia, que, durante discurso no ato, criticou decisões do STF (Supremo Tribunal Federal) e do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), além do ministro Alexandre de Moraes. Segundo Malafaia, o Judiciário orquestra “uma engenharia do mal” para prender o ex-presidente.
“O Malafaia fez algo, no meu entender, que foi cronológico e desafio qualquer um a provar onde ele mentiu ali. Não tem nenhuma mentira ali”, afirmou Bolsonaro. Aliados do ex-presidente, no entanto, consideram que as falas do pastor “saiu do tom”.