As reações nada discretas de Bolsonaro ao ver Mauro Cid depor no STF

Bolsonaro acompanhou o interrogatório de Mauro Cid no STF – Foto: Ton Molina/STF

No depoimento de Mauro Cid nesta segunda-feira (9), no STF, os olhares também se voltaram para Jair Bolsonaro (PL). Sério, com o cenho franzido, apoiando o rosto nas mãos e pensativo, o ex-presidente acompanhou de perto o interrogatório de seu ex-ajudante de ordens – agora delator no processo que investiga a tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022.

Sentado ao lado de seu advogado e outros réus, Bolsonaro manteve a expressão fechada durante boa parte da audiência, transmitida ao vivo pela TV Justiça.

A linguagem corporal chamou atenção de quem acompanhava o julgamento, que reforçou o clima tenso na abertura da fase de interrogatórios do chamado “núcleo 1” da suposta trama golpista.

Bolsonaro sério e pensativo: os registros do depoimento de Mauro Cid:


Ex-presidente, Jair Bolsonaro - Gustavo Moreno/ND

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Ex-presidente, Jair Bolsonaro – Gustavo Moreno/ND


Ex-presidente, Jair Bolsonaro - Gustavo Moreno/ND

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Ex-presidente, Jair Bolsonaro – Gustavo Moreno/ND


Ex-presidente, Jair Bolsonaro - ROSINEI COUTINHO/STF/ND

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Ex-presidente, Jair Bolsonaro – ROSINEI COUTINHO/STF/ND


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Ex-presidente, Jair Bolsonaro – Gustavo Moreno/ND


- Gustavo Moreno/ND

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– Gustavo Moreno/ND

Mesmo diante das acusações, Bolsonaro e Cid trocaram um aperto de mãos antes do início do interrogatório. Ex-assessor discreto e de confiança, Cid hoje é peça-chave para a investigação, por ter firmado acordo de delação premiada e entregado detalhes da movimentação do grupo próximo ao ex-presidente após a derrota nas urnas.

Bolsonaro e Mauro Cid dão aperto de mãos antes do interrogatório no STF – Foto: ROSINEI COUTINHO/STF/ND

Cid começou a depor por volta das 14h20 e foi o primeiro dos oito réus a ser interrogado pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do processo. Os depoimentos seguem até sexta-feira (13), sempre no período da tarde.

Bolsonaro será o sexto a ser ouvido, com audiência prevista entre quarta (12) e quinta-feira (13), dependendo do ritmo dos interrogatórios anteriores. A expectativa em torno do depoimento do ex-presidente é alta, já que ele é o principal alvo da investigação.


Reação de Jair Bolsonaro durante o interrogatório de Mauro Cid - TV Justiça/Reprodução/ND

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Reação de Jair Bolsonaro durante o interrogatório de Mauro Cid – TV Justiça/Reprodução/ND


Reação de Jair Bolsonaro durante o interrogatório de Mauro Cid - TV Justiça/Reprodução/ND

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Reação de Jair Bolsonaro durante o interrogatório de Mauro Cid – TV Justiça/Reprodução/ND

O que Mauro Cid falou sobre Jair Bolsonaro?

Durante a sessão no STF, Mauro Cid confirmou que, em novembro de 2022, logo após a derrota de Jair Bolsonaro nas eleições para Luiz Inácio Lula da Silva, o então presidente recebeu a chamada “minuta do golpe”, um documento que sugeria a realização de novas eleições.

Segundo Cid, Bolsonaro leu o texto e chegou a fazer alterações. Ele teria “enxugado” o conteúdo original, retirando partes que falavam sobre a prisão de autoridades do Judiciário e do Congresso.

Mauro Cid durante interrogatório no STF – Foto: Gustavo Moreno/STF

“O presidente Jair Bolsonaro recebeu e leu esse documento. E fez algumas alterações no documento. De certa forma, enxugou o documento, retirando as autoridades das prisões”, disse Cid.

De acordo com Cid, após as eleições de 2022, Bolsonaro era pressionado por três grupos distintos:

  • Um grupo conservador, de linha política, que aconselhava Bolsonaro a “dizer para o povo sair da frente dos quartéis”;
  • Um grupo moderado, que, embora entendesse que o “caminho que o Brasil estava indo estava errado”, afirmava que “nada poderia ser feito diante do resultado das eleições”. Os também réus Paulo Sérgio Nogueira e Walter Braga Netto faziam parte deste grupo, segundo Cid;
  • Um grupo radical, que tentava convencer o presidente a “fazer alguma coisa, um golpe”. Esse grupo “romantizava” o artigo 142 da Constituição Federal como fundamento para o golpe de estado. O réu Almir Garnier foi classificado neste grupo.

Fraude que não apareceu e aposta na pressão das ruas

De acordo com Mauro Cid, o ex-presidente Jair Bolsonaro acreditava que conseguiria comprovar uma fraude nas eleições de 2022 – algo que nunca se confirmou.

“Sempre se teve a ideia de que pudesse, até o final do mandato, aparecer uma fraude real nas urnas. Tanto que em todas as minhas mensagens, que foram abertas como parte da investigação, eu falo que não foi encontrada fraude, que tudo ficou no campo da estatística”, disse.

STF transmite ao vivo os interrogatórios de Bolsonaro e aliados do “núcleo 1” – Foto: Alan dos Santos/Presidência

Mauro Cid relatou ainda que Bolsonaro não queria que os manifestantes deixassem as ruas após as eleições. “Ele não queria que o pessoal saísse das ruas”, afirmou, referindo-se aos acampamentos em frente aos quartéis. “A primeira hipótese era encontrar fraude nas eleições. A outra, por meio do povo radical, encontrar uma fórmula que permitisse reverter a situação.”

Ainda de acordo com Cid, em momento algum foi apresentada qualquer prova concreta de fraude nas urnas. “O que aparecia era só estatístico. Os dados eram tirados do TSE, trabalhados em computadores, para tentar achar alguma coisa que pudesse levar a uma forma [de contestação]. Mas não se conseguiu comprovar nada.”

Bolsonaro sabia que sem prova de fraude, nada poderia ser feito, diz Mauro Cid

Mauro Cid afirmou que o ex-presidente Jair Bolsonaro tinha consciência de que, sem provas concretas de fraude nas eleições de 2022, não havia caminho possível para contestar o resultado nas vias institucionais.

“A questão era: se não houvesse fraude, nada ia acontecer. Se houvesse fraude, ele agiria. Essa era a lógica. ‘Não foi encontrada a fraude, nada vai acontecer’, foi o que ele repetiu em diversas mensagens a diferentes interlocutores.”

Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e um dos delatores do caso, durante depoimento no STF – Foto: Reprodução/STF/ND

Segundo Cid, essa avaliação era compartilhada desde o início com aliados e militares próximos. “Logo no começo, lembro que comentei isso em mensagens com o general Cavalieri e com o general Antonio Amarante. Porque eu sabia qual era a posição das Forças Armadas. Independente do que acontecesse nas eleições, dificilmente algo seria feito. Sem o apoio das Forças Armadas, não teria como seguir com nada.”

Cid também revelou que Bolsonaro estava com a saúde debilitada na época, o que preocupava os militares ao seu redor. “O presidente estava muito fragilizado na parte de saúde. O próprio general Heleno expressava grande preocupação com isso.”

Mauro Cid nega ter conhecimento de discurso que seria lido por Bolsonaro para dar golpe

Mauro Cid foi questionado sobre um documento que tratava da decretação de estado de sítio e da ativação de medidas excepcionais no contexto constitucional, como operações de GLO (Garantia da Lei e da Ordem).

Mauro Cid confirma que Bolsonaro “enxugou” minuta do golpe – Foto: ROSINEI COUTINHO/STF/ND

“O documento tratava especificamente de estado de sítio, de operações de GLO. Pelo que entendi, foi montado em um celular e depois abandonado. A única coisa que apareceu no meu celular, no ‘Salve’, foi aquele texto da foto, que foi apreendido na sala do ex-presidente. Mas esse texto tratava muito do povo, da mobilização do povo.”

Cid afirmou não ter recebido nem tomado conhecimento de um suposto discurso que Jair Bolsonaro faria para anunciar as medidas: “Nunca recebi esse discurso que o presidente supostamente teria que fazer. Também não vi e não passou por mim.”

*Com algumas informações de R7.

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