O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se reúne nesta 4ª feira (21.fev.2024), às 9h, com o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, no Palácio do Planalto. Na visita de cortesia do norte-americano, além de temas da agenda bilateral dos 2 países, a situação política da Venezuela e o conflito na Faixa de Gaza devem fazer parte da conversa. O chefe do Executivo brasileiro, porém, deverá evitar tratar da crescente tensão com o governo de Israel. Se o assunto for mencionado pelo norte-americano, a tendência é que defenda seu ponto de vista.
O governo Lula ficou em silêncio sobre o veto a María Corina Machado, líder da oposição a Nicolás Maduro nas eleições da Venezuela. Outros países da América do Sul, como a Argentina, o Uruguai, o Paraguai e o Equador condenaram a inelegibilidade da ex-deputada. O petista é aliado histórico do líder venezuelano.
Em janeiro, o TSJ (Tribunal Supremo de Justiça da Venezuela) proibiu María Corina Machado de ocupar cargos públicos pelos próximos 15 anos. Com a decisão, ela fica impedida de concorrer às eleições presidenciais que serão realizadas no 2º semestre de 2024, ainda sem data definida. Ela venceu em outubro de 2023 as eleições primárias da oposição para enfrentar Maduro.
Corina declarou que Maduro e “seu sistema criminoso” escolheram o pior caminho: eleições fraudulentas. “Isso não vai acontecer”, disse. Entenda como o Supremo na Venezuela cassou adversária de Maduro nesta reportagem.
Em maio de 2023, Maduro esteve no Brasil e foi o único chefe de Estado dos 12 países convidados para a reunião com os presidentes dos países da América do Sul a ter encontro bilateral com o petista fora do evento. Foi recebido com honras de chefe de Estado.
Faixa de Gaza e Israel
Outro tema que pode surgir na conversa de Lula e Blinken, a depender dos assuntos que forem abordados, é o 3º veto dos EUA a uma resolução encaminhada ao Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) para determinar um cessar-fogo imediato na guerra entre Israel e o Hamas.
A proposta foi elaborada pela Argélia e recebeu o apoio de 13 dos 15 países integrantes. Os EUA, que têm poder de veto por ser uma das nações com assento permanente no colegiado, barrou o texto.
Antes da votação, o embaixador da Argélia na ONU, Amar Bendjama, afirmou que “um voto a favor deste projeto de resolução é um apoio ao direito dos palestinos à vida. Por outro lado, votar contra implica um endosso à violência brutal e ao castigo coletivo infligido a eles”.
A decisão do Conselho de Segurança da ONU, com o veto dos EUA à proposta de cessar-fogo em Gaza, frustra uma expectativa do governo brasileiro. Celso Amorim, assessor especial do presidente Lula, chegou a dar uma declaração para o jornal Folha de S.Paulo dizendo que o petista estava liderando mundialmente uma mudança da conjuntura no Oriente Médio ao ter comparado a ação militar de Israel em Gaza com o extermínio de judeus promovido por Adolf Hitler na Alemanha nazista.
No domingo (18.fev), ao criticar a ofensiva israelense contra Gaza, Lula disse que o conflito é um genocídio comparável ao extermínio de judeus na 2ª Guerra Mundial.
“O que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino, não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus”, declarou Lula a jornalistas em Adis Abeba, na capital Etiópia.
A comparação instaurou uma crise diplomática com Israel. O primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, disse que a fala é “vergonhosa” e que Lula “cruzou uma linha vermelha”.
Entenda na linha do tempo abaixo:
- 18.fev.2024 – Lula compara os ataques de Israel às ações de Hitler contra judeus;
- 18.fev.2024 – Benjamin Netanyahu critica Lula e classificou sua fala como “vergonhosa”;
- 19.fev.2024 – ministro de Relações Exteriores de Israel declara Lula “persona non grata” e constrange publicamente embaixador do Brasil no país, Fred Meyer, ao levá-lo para o Museu do Holocausto de Jerusalém;
- 19.fev.2024 – Brasil chama embaixador Fred Meyer de volta ao país;
- 19.fev.2024 – ministro de Relações Exteriores do Brasil diz em reunião com embaixador de Israel que Meyer foi humilhado;
- 19.fev.2024 – no Planalto, avaliação é a de que Lula não pedirá desculpas;
- 20.fev.2024 – ministro de Relações Exteriores de Israel volta a pedir retratação de Lula e diz que fala do presidente é um “cuspe no rosto dos judeus brasileiros”.
Autoridades brasileiras saíram em defesa de Lula e criticaram a posição do chanceler israelense. O 1º foi o ministro da Secom (Secretaria de Comunicação Social) da Presidência da República, Paulo Pimenta, que afirmou que o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, está isolado e que seu governo usou fake news contra Lula.
O assessor especial para assuntos internacionais da Presidência, Celso Amorim, disse que as declarações do chanceler israelense são descabidas.
Ao Poder360, Amorim, que foi chanceler dos governos de Itamar Franco e Lula 1, afirmou que a declaração é “descabida” e que “sequer merece ser comentada”. Nos bastidores, um pedido de desculpas do presidente é visto como improvável.
Já o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, afirmou que as declarações de sua contraparte de Israel são “inaceitáveis e mentirosas”. Para ele, a forma como o chanceler israelense se manifestou em relação ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é “insólita e revoltante”.
Sobre o assunto, o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Matthew Miller, disse que o país discorda de Lula na comparação com o nazismo. O represente norte-americano disse acreditar que não há genocídio na região.
200 anos de relações
Lula e Blinken devem conversar também sobre a relação bilateral entre os 2 países. Em 2024, comemoram-se os 200 anos do reconhecimento diplomático entre os 2 países. Por isso, ambos devem discutir possibilidades em cooperação, trabalho, questões climática e energéticas. Devem debater a presidência brasileira do G20 e o que é possível fazer conjuntamente.
Os chanceleres das maiores economias do mundo se reúnem nesta 4ª e 5ª feiras (21 e 22.fev.), no Rio, no 1º grande evento do G20 sob a presidência brasileira.
O evento, que será na Marina da Glória, no Rio de Janeiro, terá representantes de todos os membros do G20 (África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia, Turquia, União Africana e União Europeia).
Em seu período no comando do G20, o Brasil estabeleceu 3 temas prioritários: inclusão social e combate à fome e à pobreza e promoção do desenvolvimento sustentável e reforma das instituições da governança global.
Durante o encontro no Rio, a ideia brasileira era focar na reforma da governança global, que passa por críticas recorrentes do presidente Lula ao financiamento dos países em desenvolvimento e ao Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas).
Além de Brasília, o secretário americano viajará para o Rio de Janeiro e para Buenos Aires, dos dias 20 a 23 de fevereiro. No Rio, ele participa da reunião de chanceleres do G20. Já na Argentina, terá uma reunião com o presidente Javier Milei.
No Rio, o objetivo é “aumentar a paz e a estabilidade, promover a inclusão social, reduzir a desigualdade e a fome, combater a crise climática, promover a transição para a energia limpa, o desenvolvimento sustentável e tornar a governança global mais eficaz”.
Por fim, em Buenos Aires, Blinken debaterá com Milei questões bilaterais e globais, incluindo o crescimento econômico sustentável, o compromisso americano com a democracia e os direitos humanos, minerais críticos e fortalecimento de comércio que beneficiam os países.