Sem chefes de Poderes, Lula realiza ato pelos 2 anos do 8 de Janeiro

Sem a presença da cúpula do Congresso e do presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fará um evento simbólico para lembrar os 2 anos dos ataques do 8 de Janeiro nesta 4ª feira (8.jan.2025).

Em uma cerimônia com 4 atos no Palácio do Planalto e na Praça dos Três Poderes, o petista reapresentará 21 obras de arte, entre pinturas, esculturas e artefatos históricos, restauradas depois de terem sido vandalizadas há 2 anos.

O evento começa às 9h30 no Planalto e se estende para a Praça dos Três Poderes. Os comandantes das Forças Armadas estarão presentes, a pedido de Lula. O presidente deve usar o seu discurso para defender a democracia e as instituições.

Eis o itinerário:

  • 9h30, na Sala de Audiências do Palácio do Planalto – Lula reinaugura o relógio de Balthasar Martinot, do século 17, destruído na invasão ao Planalto. Foi consertado na Suíça sem custos para o governo brasileiro. Também anunciará o fim do processo de restauro das peças, com a entrega de 20 obras restauradas no Palácio da Alvorada;
  • 10h30, no 3º andar do Palácio do Planalto – Lula fará o descerramento da obra “As Mulatas”, de Di Cavalcanti (1897-1976), danificada pelos manifestantes. Cinco alunos do Projeto de Educação Patrimonial entregarão a Lula réplicas que produziram da ânfora e de “As Mulatas”;
  • 11h, no Salão Nobre do Palácio do Planalto – Lula discursará para plateia de convidados, entre os quais seus ministros, os comandantes das Forças Armadas e representantes do Judiciário, Legislativo e de movimentos sociais;
  • 12h-13h, na Praça dos 3 Poderes – depois de as autoridades discursarem, Lula e convidados descerão a rampa do Planalto para um abraço simbólico na praça. O governo espera que haja presença de público para o ato aguardando Lula do lado de fora do Planalto.

Os chefes do Legislativo e do Judiciário não devem comparecer. O presidente do STF, Luís Roberto Barroso, será representado pelo ministro Edson Fachin, vice-presidente da Corte. Rodrigo Pacheco (PSD-MG), presidente do Senado, está em férias no exterior. Arthur Lira (PP-AL), da Câmara, também está fora de Brasília e não confirmou presença.

O evento no Planalto é organizado pela Presidência. Já o ato na praça é público. A organização ficou a cargo do PT Nacional e do diretório do Distrito Federal. Ambos não quiseram divulgar listas de confirmados. O indicativo é de que poucos movimentos sociais e sindicais irão prestigiar a programação do chefe do Executivo. A CUT (Central Única dos Trabalhadores) confirmou presença.

Restauração concluída

Vinte das obras que retornam ao Palácio do Planalto depois de terem sofrido danos com a invasão do 8 de Janeiro foram restauradas em um laboratório montado no Palácio da Alvorada. A restauração começou em 2 de janeiro de 2024, segundo o Planalto.

Conforme o governo, cerca de 50 profissionais trabalharam diretamente no restauro durante mais de 1.760 horas. As atividades de restauro contaram com a produção de 20 relatórios técnicos detalhando o processo de recuperação de cada obra.

A única peça que não foi restaurada no Brasil foi o relógio de Balthazar Martinot, datado do século 17, que pertenceu a Dom João 6º. O restauro do item foi feito na Suíça, depois que o Brasil assinou um acordo de cooperação técnica com a embaixada daquele país. Segundo o Planalto, não houve gastos com o conserto.

“A tradicional empresa familiar suíça de relojoaria Audemars Piguet, criada em 1.875, ofereceu-se para o restauro, arcou com custos técnicos (mão de obra e materiais), bem como transporte e seguro. Portanto, não houve gastos públicos. O acordo permitiu que, em menos de 12 meses, os pedaços do artefato fossem enviados à Suíça e o relógio voltasse ao Brasil restaurado, após mais de mil horas de trabalho”, escreveu o Planalto.

Assista ao momento em que extremistas quebraram o relógio em janeiro de 2023 (2min7s):

Maioria condena 8 de Janeiro

Pesquisa da Genial/Quaest divulgada na 2ª feira (6.jan) indicou que 86% dos brasileiros condenam os atos de invasão e vandalismo contra a sede do STF e o Congresso. Essa desaprovação, porém, é 8 pontos percentuais inferior ao mesmo levantamento realizado há 2 anos. Eis a íntegra (PDF – 12 MB).

De acordo com a pesquisa, a rejeição é uniforme em todas as regiões do país, abrangendo diferentes faixas de renda, níveis de escolaridade e idades. Não há diferença significativa entre os eleitores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e de Lula, grupos em que houve desaprovação de 85% e 88% às manifestações, respectivamente.

A queda na desaprovação, entretanto, pode apontar para um desinteresse crescente da população sobre o tema. É uma tendência que Lula quer combater com eventos como o desta 4ª feira (8.jan).

STF condena quase 400

Desde os ataques há 2 anos, o Supremo já condenou 371 pessoas. O número inclui os acusados de depredar os prédios públicos na Praça dos Três Poderes e pessoas que acamparam em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília.

Das 1.552 ações, 527 fizeram acordos com a justiça. São quase 34% que resultaram em acordos de não persecução penal –quando o réu confessa o crime para não ser julgado.

Leia a cronologia do 8 de Janeiro e seus imediatos desdobramentos:

8.jan.2023

  • bolsonaristas radicais furam o bloqueio policial e invadem e vandalizam o STF, o Congresso Nacional e o Palácio do Planalto;
  • o governador Ibaneis Rocha, demite o então secretário de segurança pública do Distrito Federal, Anderson Torres;
  • o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assina um decreto de intervenção federal no DF e nomeia Ricardo Cappelli como interventor;
  • a PF (Polícia Federal) prende 243 pessoas em flagrante dentro dos prédios da Praça dos Três Poderes.

9.jan.2023

  • o ministro Alexandre de Moraes, do STF, determina o afastamento do governador Ibaneis por 90 dias;
  • agentes de segurança do Distrito Federal cumprem ordem para desmobilizar o acampamento bolsonarista que estava montado em frente ao QG do Exército. Manifestantes montaram o acampamento no final das eleições para protestar contra a vitória de Lula;
  • 1.927 pessoas que estavam acampadas são conduzidas para a ANP (Academia Nacional de Polícia). Do total de pessoas presas, 775 são liberadas (entre elas, idosos e mães de crianças pequenas).

 10.jan.2023

  • Acusado de omissão, Anderson Torres é preso por determinação de Moraes;
  • Bolsonaro compartilha vídeo em seu perfil oficial no Facebook. No vídeo, um procurador do Mato Grosso defende a teoria de que as eleições de 2022 teriam sido fraudadas. O post foi apagado da conta do ex-presidente;

12.jan.2023

  • a PF cumpre mandado de busca e apreensão na casa de Anderson Torres. Agentes encontram a “minuta do golpe”, para decretar Estado de Defesa na sede do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e mudar o resultado das eleições de 2022.

18.jan.2023

  • a Câmara Legislativa do Distrito Federal instala a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) dos Atos Antidemocráticos, para investigar os agentes de segurança acusados de omissão no 8 de Janeiro.

20.jan.2023

  • PF deflagra operação “Lesa Pátria” para identificar os envolvidos –executores e financiadores– do 8 de Janeiro.
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