Indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a diretoria do BC (Banco Central), Nilton David disse nesta 3ª feira (10.dez.2024) que o Brasil não está próximo de dominância fiscal –quando a atuação da autoridade monetária perde eficácia por causa do desequilíbrio das contas públicas.
A dominância fiscal faz com que o aumento da taxa básica, a Selic, eleve o custo para o pagamento dos juros a tal ponto que, ao invés de reduzir a pressão inflacionária, piora o quadro das contas públicas do Brasil.
Ele está sendo sabatinado nesta 3ª feira (10.dez) na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado. Ele precisa do aval dos congressistas para ocupar o cargo de diretor de Política Monetária em janeiro de 2025.
Nilton substituirá Gabriel Galípolo, que deixará a diretoria para ser presidente do BC. A indicação de Galípolo já foi aprovada pelo Senado. Ele comandará a autoridade monetária até 2028.
Segundo Nilton, ele não deveria comentar sobre “a qualidade” ou “o que deveria ser ou não ser” a política fiscal. “Isso cabe ao Executivo e Legislativo definirem os projetos e gastos a serem feitos. O que cabe ao Banco Central e ter isso como variável de entrada [na política monetária]”, disse.
O economista disse que um dos motivos para a atividade econômica estar pujante em momento de aperto monetário pode ser o impulso fiscal. “Cabe ao Banco Central colocar nos seus modelos, analisar, perceber quais são os impactos e atuar com as ferramentas que tem para perseguir a meta que foi lhe definida por lei”, declarou Nilton.
O senador Izalci Lucas (PL-DF) questionou Nilton David sobre uma eventual dominância fiscal na economia brasileira. O indicado ao BC respondeu: “Eu tenho convicção que não estamos próximos de dominância fiscal. Não enxergo nada objetivo e claro que indique isso”.
O economista declarou ainda que o tema tem sido debatido no Brasil e no mundo, inclusive nos Estados Unidos. “O que eu vejo dos dados da economia é que o surpreendente nível de atividade [econômica] não é condizente com o nível de inflação que estamos vivendo. Dada as premissas, a atividade deveria ter ensejado numa inflação ainda maior que a gente viu, o que prova que a política monetária cumpriu o papel de conter um aumento ainda mais da inflação”, declarou.
INVESTIMENTOS NO EXTERIOR
Responsável pela leitura de relatório de indicação de Nilton David ao Banco Central, o senador Rogério Carvalho (PT-SE) disse, sem citar nome, que a mulher do economista trabalha do banco Citi desde 2014.
Segundo Carvalho, Nilton David declarou também ser beneficiário de fundo pertencente ao Bradesco estabelecido nas Ilhas Cayman. O senador declarou que Nilton se comprometeu a se desvincular do fundo caso aprovada indicação do BC no Senado.
OUTRAS INDICAÇÕES
Izabela Correa substituirá Carolina de Assis Barros na diretoria de Relacionamento Institucional, Cidadania e Supervisão de Conduta. Ela será a única mulher da diretoria. Antes de Lula assumir o governo, a diretoria era composta por duas mulheres (Carolina de Assis Barros e Fernanda Magalhães). Se nomeada, fica no cargo até 31 de dezembro de 2028.
Gilneu Vivan substituirá Otavio Damaso na Diretoria de Regulação. Damaso era o diretor mais antigo, indicado por Dilma Rousseff (PT) e reconduzido ao cargo pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A diretoria de Regulação é, historicamente, ocupada por funcionários públicos do Banco Central. Também fica no cargo até 31 de dezembro de 2028.
LULA TERÁ MAIORIA
Em 2025, Lula terá indicado 7 dos 9 integrantes do Copom (Comitê de Política Monetária), que define a taxa básica, a Selic. Da gestão Bolsonaro, só Renato Dias de Brito Gomes (Organização do Sistema Financeiro e Resolução) e Diogo Abry Guillen (Política Econômica) permanecem. Os mandatos dos 2 terminam em 31 de dezembro de 2025. Lula poderá indicar mais 2 no próximo ano.