O general da reserva Carlos Alberto dos Santos Cruz, ex-ministro-chefe da Secretaria de Governo, afirmou, em entrevista exclusiva à CNN nesta segunda-feira (5), que concorda com possíveis restrições a militares candidatos, mas apontou que eventuais regras devem valer para outras carreiras do setor público.
“Aquele militar que se candidata a cargo eletivo, eu concordo que ele, vença ou não, não possa voltar à força. Mas isso precisa ser feito para todas as carreiras de Estado “, declarou o general, que foi chefe da Secretaria de Governo em 2019, no início da gestão de Jair Bolsonaro (PL).
“É preciso ser a mesma regra para o Judiciário, para o Ministério Público, para a Polícia Federal e para as polícias militares estaduais”, apontou.
O Senado avalia uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) apresentada pelo líder do governo Lula no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), que dificulta a candidatura de integrantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica ao aumentar o tempo de serviço exigido para que os militares possam concorrer nas eleições sem perder a remuneração.
Santos Cruz reiterou ainda que “todas as carreiras precisam estar dentro da mesma legislação, para que não seja uma coisa que signifique discriminação com o público militar”.
Forças Armadas estão cumprindo missão constitucional, diz general
Questionado a respeito da relação institucional entre o Executivo e as Forças Armadas desde o início do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Santos Cruz ressaltou que “as Forças Armadas tomaram uma postura” e não permitiram que ilegalidades acontecessem.
“As Forças Armadas se mantêm absolutamente dentro das suas missões constitucionais, dentro do seu posicionamento, do seu comportamento, com a sua disciplina, com a sua hierarquia e participações nas situações de emergência, como foi no Rio Grande do Sul”, exemplificou.
Santos Cruz disse ter havido uma tentativa “de arrastar as Forças Armadas para dentro do jogo político” e de usá-las “como instrumento político” durante o governo Bolsonaro, de quem foi ministro entre janeiro e junho de 2019.
“A tentativa de empurrar as Forças Armadas para dentro da política é uma irresponsabilidade imensa e elas não entraram nessa onda. Quem não gosta de um governo, de quatro em quatro anos, tem a oportunidade de votar e mudar o quadro”, disse o ex-ministro.
Polarização
Questionado sobre a polarização política no Brasil, Santos Cruz disse que o cenário prejudica “todo o trabalho administrativo, do Executivo, do Legislativo, do Judiciário, relações sociais e até relações familiares”. “Essa polarização política está persistindo por um bom tempo, ela não mostra sinais de estar se dissipando”, disse.
“O Brasil precisa encontrar caminho para que o respeito seja restabelecido entre as pessoas que pensam de maneiras distintas, porque isso prejudica tudo aquilo que precisa ser feito em termos de legislação. Está faltando equilíbrio”, acrescentou.
“Não existe possibilidade de diálogo racional, tudo por conta do fanatismo e da polarização que tomou conta não só das relações políticas, mas até de comportamento institucional”, concluiu o general.
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