Investigações mostram que havia uma “quadrilha” no poder, diz Haddad

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta 6ª feira (12.jul.2024) que “as últimas investigações dão testemunhos do tipo de quadrilha que estava no poder”, em referência indireta ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Haddad participou do 19º Congresso da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) com o tema “As estratégias do governo para a economia”. Ele tratava sobre os dados econômicos e as surpresas positivas nos indicadores, como de comércio, serviço e inflação.

Para Haddad, há um movimento nas redes sociais para mentir sobre os dados econômicos, fruto da “quadrilha” que estava no Poder Executivo antes do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

“Nós temos que lidar hoje com essa bandidagem. Vai ser assim até que nós consigamos reconstituir os polos em termos moderados para que a disputa democrática seja feita respeitando as regras do jogo”, declarou Haddad.

O ministro afirmou, sem citar o PSDB e o PT, haver dois partidos, “um de centro-direita” e outro de “centro-esquerda”, que se alternaram no Poder Executivo com “alguma regra de civilidade em termos de convívio”.

“Fazia-se oposição, mas nunca se comprometia o futuro do país e das instituições […] Nós temos uma oposição hoje que realmente atua para minar a credibilidade das instituições, dos dados oficiais, do Estado brasileiro e eles atuam diuturnamente nas redes sociais. É uma prática mesmo protofascista mesmo. Não tem outra palavra”, declarou.

ENTENDA O CASO

A investigação, sob a relatoria do ministro Alexandre de Moraes no Supremo, apura o desvio de 3 kits de presentes luxuosos destinados ao então presidente Bolsonaro por governos estrangeiros.

  • kit 1: uma escultura de árvore e outra de barco;
  • kit 2: conjunto de joias composto por abotoaduras, um terço, anel e relógio confeccionados em ouro rosê;
  • kit 3: conjunto de joias composto por um relógio Rolex, caneta da marca de luxo Chopard, par de abotoaduras, anel e rosário árabe.

O caso se deu depois de o TCU (Tribunal de Contas da União) determinar, em 2016, que todos os bens recebidos pelos chefes do Executivo devem ser incorporados ao patrimônio da União. A exceção são os bens de natureza personalíssima ou de consumo próprio –como alimentos, camisetas, perfumes, bonés, dentre outros.

Segundo relatório da PF, os itens foram vendidos a joalherias nos Estados Unidos por aliados do ex-presidente. A investigação afirma que o desvio ou a tentativa de desvio soma cerca de R$ 6,8 milhões.

Ao todo, Bolsonaro e mais 11 pessoas foram indiciadas pelo esquema. Leia abaixo quem são e quais os crimes:

  • Jair Bolsonaro, ex-presidente da República (associação criminosa, lavagem de dinheiro e apropriação de bens públicos);
  • Fabio Wajngarten, advogado do ex-presidente (associação criminosa, lavagem de dinheiro);
  • Mauro Cesar Barbosa Cid, tenente-coronel e ex-ajudante de ordens do ex-presidente (associação criminosa, lavagem de dinheiro e apropriação de bens públicos);
  • Mauro Cesar Lorena Cid, general e pai de Mauro Cid (associação criminosa e lavagem de dinheiro);
  • Frederick Wassef, advogado (associação criminosa e lavagem de dinheiro);
  • Bento Albuquerque, ex-ministro de Minas e Energia (associação criminosa e apropriação de bens públicos);
  • Marcos André dos Santos Soeiro, ex-assessor de Bento Albuquerque (associação criminosa e apropriação de bens públicos);
  • Julio Cesar Vieira Gomes, ex-secretário da Receita Federal (associação criminosa, lavagem de dinheiro, apropriação de bens públicos e advocacia administrativa);
  • Marcelo da Silva Vieira, ex-chefe do Gabinete de Documentação Histórica da Presidência da República (associação criminosa, lavagem de dinheiro e apropriação de bens públicos);
  • José Roberto Bueno Júnior, ex-chefe de gabinete do Ministério de Minas e Energia (associação criminosa, lavagem de dinheiro e apropriação de bens públicos);
  • Osmar Crivelati, assessor de Bolsonaro (associação criminosa e lavagem de dinheiro);
  • Marcelo Costa Câmara, ex-assessor de Bolsonaro (lavagem de dinheiro).

Quais são os próximos passos?

  • A PGR vai analisar as provas colhidas pela PF em até 15 dias e decidir se vai arquivar o caso, pedir mais investigações ou denunciar os envolvidos –a lista de crimes pode mudar;
  • caso a PGR resolva denunciar os envolvidos, a denúncia será analisada pelo STF;
  • o STF, então, pode decidir se aceita a denúncia ou se arquiva o caso. Se escolher aceitar a denúncia, os envolvidos viram réus e responderão ação penal –podendo ser condenados ou absolvidos. O Supremo também pode mandar o caso para a 1ª Instância.
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