O ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, criticou na 6ª feira (21.jun.2024) o projeto de lei 1904/2024, conhecido como PL “antiaborto”. Segundo Almeida, “quem quer que uma mulher que foi estuprada seja presa” está “envenenado pela ideologia do ódio”.
“Estou aqui por um chamado à democracia, à liberdade, à tolerância e aos direitos humanos. Valores que só prosperam num Estado laico. Estamos aqui porque amamos ao Brasil. Temos em comum a ideia de que o respeito e o cuidado são condições essenciais para a construção de uma sociedade livre, justa e solidária”, disse o ministro durante discurso no evento “Conversas Pastorais”, na Igreja Batista de Água Branca, na Barra Funda, zona oeste de São Paulo.
Conforme Almeida, “polarização é você divergir, talvez sobre questões que são relevantes, que são importantes, mas não há polarização entre a democracia de um lado e entre fascismo e morte do outro. Isso não é polarização”.
“Está em engano, está envenenado pela ideologia do ódio quem defende que os jovens negros sejam exterminados pela polícia. Porque está em engano e está envenenado pela ideologia do ódio quem defende uma política de segurança pública que quer buscar transformar policiais em matadores e leva os policiais à morte, ao desespero e ao suicídio. Quem defende uma política violenta não é amigo dos policiais, é inimigo dos policiais. Porque está em engano e está envenenado pela ideologia do ódio quem quer que uma mulher que foi estuprada seja presa”, completou.
Fundado em 2015 pelo teólogo Ed René Kivitz, o evento reúne pastores e líderes evangélicos. O ministro é católico, mas tem familiares evangélicos e boa interlocução com segmentos dessa parcela do eleitorado.
O discurso de Almeida durou cerca de 1 hora. Assista ao trecho em que ele mencionou o PL “antiaborto” (de 2h09min25s a 2h11min30s):
O ministro se refere ao projeto de lei de autoria do deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), que equipara o aborto depois de 22 semanas ao crime de homicídio.
Em 12 de junho, a Câmara dos Deputados aprovou, em votação relâmpago, um requerimento de urgência, que acelera a análise da proposta. Com a medida, o texto não passaria por comissões temáticas e iria direto para o plenário da Casa.
O presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL), e os líderes partidários, porém, recuaram da urgência em 18 de junho após a repercussão negativa do projeto. Lira afirmou que a Casa só deve discutir o texto no 2º semestre deste ano.
APROXIMAÇÃO COM EVANGÉLICOS
No discurso, Almeida abordou os direitos humanos e a atuação das igrejas evangélicas nos territórios. O objetivo de sua participação é aprofundar o diálogo com líderes religiosos e reforçar o compromisso do governo federal com políticas públicas que promovam a liberdade religiosa, a diversidade de crenças e o combate ao discurso de ódio no país.
Em paralelo, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) planeja lançar a campanha publicitária “Fé no Brasil” para divulgar as ações do Executivo de forma integrada, visando as eleições municipais de 2024.
Embora o movimento seja visto como uma tentativa de se aproximar dos evangélicos, não há previsão de ações específicas para este grupo, conforme apurado pelo Poder360.
A tentativa de aproximação com grupos religiosos se dá depois de pesquisas apontarem a desaprovação do governo Lula pelos evangélicos. O levantamento mais recente PoderData com esse segmento da sociedade, realizada de 16 a 18 de dezembro de 2023, indica que 52% dos eleitores do grupo consideram o governo Lula “pior” que o de seu antecessor, Jair Bolsonaro (PL).