Movimentos sociais e partidos de orientação política de esquerda organizam uma manifestação em 23 de março, em São Paulo, para defender a condenação dos envolvidos nos atos extremistas do 8 de Janeiro e para marcar os 60 anos do golpe militar de 1964. O pedido de prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), no entanto, não deve ser o mote da convocação.
Além de movimentos sociais, alas do PT, PC do B, PSB, Rede, Psol, PDT e PV também integram a organização do evento. “É muito importante fazermos com os movimentos populares uma grande manifestação em defesa da democracia, contra qualquer tipo de anistia”, disse ao Poder360 o ex-deputado federal Henrique Fontana (PT-RS), secretário nacional geral do PT.
Para ele, a proximidade entre os atos “não importa em nada”. Um dos receios de integrantes dos partidos é de que a adesão à manifestação de esquerda seja menor e que a comparação com o ato de Bolsonaro acabe sendo negativa. Fontana, porém, discorda. “Eu particularmente avalio que o nosso ato será maior”, disse.
Para evitar a comparação direta, o evento não deverá ser realizado na avenida Paulista, mas em outro ponto da capital paulista. Ainda não há decisão sobre o local.
Os integrantes dos movimentos sociais também querem a participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no ato, mas sua presença ainda não foi deliberada por sua equipe. “Eu acho importante ele participar. Aliás todas as lideranças comprometidas com a democracia devem participar num ato muito amplo”, disse Fontana. Por enquanto, é improvável que o presidente participe presencialmente. Há um risco político para Lula neste caso. Se decidir comparecer ao ato, será imediatamente comparado com Bolsonaro.
A manifestação ocorrerá quase 1 mês depois do ato em que Bolsonaro reuniu cerca de 350 mil pessoas na avenida Paulista, em São Paulo. Foi o 1º grande evento de que o ex-presidente participou depois da operação da Polícia Federal contra ele e aliados, a Tempus Veritatis.
Lula reconheceu que o ato de seu adversário foi “grande” e disse que as fotos comprovavam sua avaliação. “Não é possível você negar um fato. […] Eles fizeram uma manifestação grande em São Paulo. Mesmo quem não quiser acreditar, é só ver a imagem. Como as pessoas chegaram lá, são outros 500”, disse, em entrevista à RedeTV! na 3ª feira (27.fev.2024).
Os movimentos sociais que organizam a manifestação de março divergiram sobre incluir a defesa da prisão de Bolsonaro na pauta do ato. De acordo com o jornal Folha de S. Paulo, a questão foi discutida pelas frentes Brasil Popular e Povo sem Medo, que agregam organizações alinhadas ao atual governo.
O argumento que prevaleceu foi o de que o direito de defesa e o devido processo legal devem ser resguardados. As duas premissas eram defendidas pelos mesmos grupos na época da prisão de Lula por investigações da operação Lava Jato.
A operação Tempus Veritatis foi deflagrada em 8 de fevereiro e investiga suposta tentativa de golpe de Estado para manter Bolsonaro na Presidência. O ex-chefe do Executivo foi alvo de busca e apreensão e teve de entregar o passaporte para a PF. As ações foram autorizadas pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes.