O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes ironizou a prisão do ex-ministro da Casa Civil e candidato a vice nas eleições de 2022, general Walter Braga Netto, durante depoimento na Corte nesta 3ª feira (10.jun.2025).
No início do interrogatório, Moraes perguntou a Braga Netto se ele já havia sido preso alguma vez. O questionamento é protocolar. “Eu estou preso, presidente”, respondeu o general.
Moraes prosseguiu e disse: “Fora essa vez”. Braga sinalizou negativamente. Na sequência, Moraes ironizou: “Eu sei que o senhor está preso, eu que decretei”.
Braga Netto está preso desde dezembro de 2024. Segundo a PF (Polícia Federal), o general teria atuado para obter informações sobre a delação premiada de Mauro Cid –que também é réu na ação sobre a tentativa de golpe– e por isso teve a prisão solicitada pela corporação.
INTERROGATÓRIOS
A 1ª Turma do STF começou na 2ª feira (9.jun) a interrogar os réus do núcleo crucial na ação penal por tentativa de golpe de Estado. Segundo a PGR, os integrantes desse grupo teriam sido responsáveis por liderar as ações da organização criminosa que tinham como objetivo impedir a posse de Lula.
Fazem parte do grupo:
- Jair Bolsonaro (PL), ex-presidente da República;
- Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor-geral da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e deputado federal;
- Almir Garnier, ex-comandante da Marinha;
- Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal;
- Augusto Heleno, ex-ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional);
- Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro;
- Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa; e
- Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil e candidato a vice-presidente em 2022.
O 1º a ser ouvido foi Mauro Cid, que fechou um acordo de colaboração com o STF. Os demais réus estão sendo interrogados na sequência, em ordem alfabética. A ordem foi estabelecida assim para que todos tenham conhecimento do que o delator falou e, assim, possam exercer o amplo direito de defesa.
Todos os réus do núcleo são obrigados a comparecer nos interrogatórios, mas podem permanecer em silêncio e responder a algumas ou nenhuma pergunta. O relator, ministro Alexandre de Moraes, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, e os advogados podem fazer perguntas. Se outros ministros da 1ª Turma comparecerem, também podem questionar os réus.
Depois de terem sido interrogados, os réus não precisam mais comparecer. O único do grupo que não irá até o plenário da 1ª Turma é o general Braga Netto, que está preso preventivamente no Rio de Janeiro desde dezembro. Ele participa por videoconferência.
Os interrogatórios fazem parte da etapa de instrução criminal –momento de produção de provas. Já foram ouvidas as testemunhas de acusação e defesa e ainda podem ser produzidas provas documentais e periciais que forem solicitadas pelas partes e autorizadas pelo relator, ministro Alexandre de Moraes.
Eventuais diligências para esclarecer algum fato apurado durante a instrução também podem ser realizadas. Só depois dessa etapa é que a acusação e as defesas devem apresentar suas alegações finais e Moraes preparará o relatório final para o julgamento.
Os interrogatórios são transmitidos no canal do STF no YouTube e na TV Justiça ao vivo. O Poder360 também faz a transmissão no canal deste jornal digital no YouTube (inscreva-se e ative as notificações). No Brasil, o interrogatório de réus em ações penais é, por regra, um ato público. Embora a transmissão ao vivo não seja comum, o STF já permitiu acesso de jornalistas e do público em outros casos semelhantes.
Assista aos vídeos do interrogatório dos réus ao STF:
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- Assista à íntegra do interrogatório de Ramagem ao STF
- Assista à íntegra do interrogatório de Garnier ao STF por tentativa de golpe
- Assista à íntegra do interrogatório de Torres ao STF por tentativa de golpe
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- Assista à íntegra do interrogatório de Bolsonaro ao STF
- Assista a trechos do depoimento de Bolsonaro a Moraes
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