

Ex-chefe da FAB confirma que Bolsonaro foi alertado sobre prisão – Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
O ex-comandante da Aeronáutica, Carlos Almeida Baptista Júnior, confirmou nesta quarta-feira (21) que o então comandante do Exército, general Freire Gomes, avisou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) de que ele poderia ser preso se tentasse usar as Forças Armadas para aplicar a GLO (Garantia da Lei e da Ordem) de forma indevida, em 2022.
“Eu acompanhei a repercussão do depoimento de Freire Gomes. Ele é uma pessoa polida e educada. Ele não falou com agressividade com o presidente da República. Ele não faria isso. Mas ele falou com muita calma: ‘Se fizer isso, vou ter que te prender”, declarou em depoimento no STF (Supremo Tribunal Federal).
O brigadeiro está entre as testemunhas chamadas para prestar depoimento no inquérito que investiga uma possível tentativa de golpe de Estado. Ele foi indicado como testemunha da acusação, feita pela PGR, do ex-comandante da Marinha Almir Garnier, de Bolsonaro e do ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira. As informações são do Poder 360.

Ex-chefe da FAB confirma que Bolsonaro foi alertado sobre prisão – Foto: R7/Reprodução/ND
O brigadeiro negou que a versão do depoimento de Freire Gomes na segunda-feira (19) tenha sido diferente da versão dada à PF (Polícia Federal). “Ele não deu voz de prisão ao presidente, não foi assim. Mas ele falou, por hipótese, que poderia prender o presidente”, disse.
O depoimento do brigadeiro é um dos mais importantes, porque foi usado como base para a denúncia oferecida pelo Ministério Público.
Bolsonaro foi alertado sobre prisão
Baptista Júnior contou que Bolsonaro foi alertado sobre prisão durante uma reunião em novembro de 2022. Na ocasião, o grupo discutia um relatório sobre a transparência das eleições, que estava sendo feito por uma equipe técnica do Ministério da Defesa, com participação de membros das Forças Armadas.
Nesses encontros, o brigadeiro afirmou que a possibilidade de uma GLO era discutida, a partir da “avaliação da conjuntura” da sociedade com o objetivo de “evitar uma convulsão social”.
“As Forças Armadas trabalham com a avaliação da conjuntura. Nós estávamos vendo as pessoas completamente radicalizadas, então trabalhamos com a hipótese de GLO depois do dia 31 [de novembro]. Com os caminhoneiros e as mobilizações, o nosso medo era ser necessário uma GLO da maneira estabelecida pelo artigo 142, por iniciativa dos Poderes e de forma pontual para resolver o problema. Era com isso que os comandantes trabalhavam”, declarou em seu depoimento.

Ex-chefe da FAB confirma que Bolsonaro foi alertado sobre prisão durante reunião no Ministério da Defesa – Foto: Reprodução/Governo Federal
No entanto, o brigadeiro afirmou que em determinado momento durante as reuniões percebeu que “o objetivo dessas medidas de exceção era impedir a posse do candidato eleito”.
Segundo Baptista Júnior, em uma reunião no dia 14 de dezembro de 2022, o então ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, apresentou um documento com propostas de medidas extremas, como o Estado de Sítio e o Estado de Defesa. Diante disso, o brigadeiro disse ao STF que perguntou se a intenção era impedir a posse do presidente eleito Lula. Quando percebeu que a resposta era sim, ele decidiu sair da reunião.
“O ministro Paulo Sérgio disse ‘trouxe aqui um documento para vocês verem e para vocês analisarem’. Eu logicamente perguntei a ele se estava na mesa, em um plástico, um documento que previa a não assunção do presidente eleito”, disse.

Ministro Paulo Sérgio Nogueira estava na reunião em que Bolsonaro foi alertado sobre prisão – Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
O ex-comandante relatou que Paulo Sérgio ficou em silêncio e que, a partir disso, confirmou a intenção das medidas.
“Eu falei: ‘não admito sequer receber este documento, não ficarei aqui’. […] Eu tinha um ponto de corte. Eu tinha muito respeito pelos meus colegas. Mas eu tinha um ponto de corte que era no dia 1° de janeiro, o candidato eleito vai assumir. […] O general Freire Gomes também condenou a possibilidade de avaliarmos aquilo. O Garnier não falou nada e eu saí da sala não sei mais o que houve”, declarou.
Apoio da Marinha
Em relação ao apoio da Marinha, Baptista Júnior disse ao STF que sentia uma posição “passiva” do almirante Almir Garnier. Segundo a denúncia da PGR, os comandantes da Aeronáutica e do Exército declararam à PF durante as investigações que Garnier colocou as tropas da força à disposição de Bolsonaro durante a discussão das medidas.
Segundo Baptista Junior, Garnier, réu na ação penal por tentativa de golpe, “não estava na mesma sintonia e postura que eu e Freire Gomes”.

Bolsonaro foi alertado sobre prisão – Foto: R7/Reprodução/ND
“Em uma dessas reuniões, eu tenho uma visão muito passiva do almirante. Lembro que [o ministro] Paulo Sérgio, Freire Gomes e eu debatíamos mais e tentávamos demover mais o presidente. E em determinado momento, Garnier disse que as tropas da Marinha estavam à disposição do presidente”, declarou.
*Com informações do Poder 360.