Lula retoma viagens internacionais em 2024 com visita à África

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) retomará as viagens internacionais em 2024 com visitas ao Egito e à Etiópia. A volta ao continente africano é parte da estratégia do chefe do Executivo de reforçar a posição do Brasil no chamado Sul Global e ampliar a relação comercial com os países da região. De acordo com o Itamaraty, a viagem tem caráter eminentemente político.

Um dos principais temas da viagem será a mediação no conflito entre Israel e o grupo extremista Hamas na Faixa de Gaza. O Brasil defende historicamente a existência de 2 Estados como solução para a região, com a criação do Estado Palestino. Lula tem feito apelos por um cessar-fogo e para que o Hamas liberte reféns, que ainda são, ao menos, 130 pessoas. A posição pró-palestina do presidente brasileiro também deverá ser o eixo das conversas.

O Egito é um dos principais interlocutores das partes envolvidas na guerra. É o único que faz fronteira com Gaza além de Israel, pela passagem de Rafah. O país ajudou o Brasil a retirar 115 brasileiros e familiares que estavam na zona de guerra.

“Essa circunstância tornou o diálogo com o Egito ainda mais importante”, disse o embaixador Carlos Sérgio Sobral Duarte, secretário de África e de Oriente Médio do Itamaraty.

Assim como nos seus 2 primeiros mandatos, Lula quer reaproximar o Brasil do continente africano para voltar a ocupar espaços que atualmente são dominados por China, Rússia, Estados Unidos e alguns países europeus, como a França. Avalia que seu antecessor, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) rompeu laços com a região e perdeu posições comerciais estratégicas.

Por isso, o governo incentiva que empresas brasileiras, especialmente as de infraestrutura, busquem novos negócios nos países africanos.

Quando esteve em Angola, em agosto de 2023, por exemplo, Lula prometeu que retomaria os financiamentos brasileiros no país. Também anunciou a abertura de um novo consulado no país para atender às demandas de 27.000 brasileiros residentes no país, além de facilitar viagens de angolanos ao Brasil. Foi o 1º novo ponto do serviço exterior lançado por Lula em seu 3º mandato.

De acordo com o Itamaraty, o Egito é um dos países com o qual o Brasil tem o maior volume de comércio na África. O Brasil exportou US$ 2,31 bilhões em 2023 para a nação africana e importou US$ 489 milhões, segundo dados do Ministério de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. No continente, perde apenas para a Argélia, cujo comércio bilateral atingiu US$ 4,2 bilhões no mesmo ano.

Os principais produtos de exportação do Brasil para o Egito foram açúcar (24%), milho (17%), minério de ferro (17%) e carne bovina (11%). O Egito foi o 31º principal destino dos produtos brasileiros, responsável por 0,7% das exportações do Brasil.

De acordo com o governo, o acordo de livre comércio entre o Mercosul e o Egito, que entrou em vigor em 2017, ajudou 75% das exportações brasileiras para o país.

Os 2 países discutem o aumento do número abatedouros brasileiros credenciados junto ao governo egípcio para aumentar a exportação de carne bovina.

Em dezembro, ambos celebraram um acordo sanitário para abrir o mercado egípcio à exportação de pescado brasileiro. Recentemente, o mesmo procedimento foi adotado para a comercialização de bananas e algodão.

As duas nações discutem também a retomada da rota aérea com o voo direto entre São Paulo e o Cairo, que deverá ser operada pela EgyptAir. A medida deve ser viabilizada por um acordo para evitar a dupla tributação dos lucros do transporte aéreo internacional.

Egito e Etiópia acabaram de ingressar no Brics, bloco formado até 2023 por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. No ano passado, com forte apoio do governo brasileiro, o grupo aprovou a entrada, além dos 2 países, da Argentina, Arábia Saudita, Emirados Árabes e Irã. O novo presidente argentino, Javier Milei, porém, rejeitou a entrada no bloco.

Os 2 países também devem participar, a convite de Lula, do G20, que será realizado em novembro no Rio. Em 2023, a União Africana, que reúne 54 países, inclusive os 2 visitados pelo presidente brasileiro, passaram a integrar o bloco das maiores economias do mundo.

Em 2023, Lula passou 62 dias fora do Brasil, quando visitou 24 países em um total de 15 saídas do país. Ele esteve na África duas vezes. Em julho, permaneceu por apenas cerca de duas horas em Cabo Verde. Ali se reuniu com o presidente José Maria Neves.

Em declaração à imprensa, disse que a dívida que o Brasil tem com o continente africado por causa dos mais de 3 séculos de escravidão no país deve ser paga com a oferta de formação educacional para estudantes africanos. A frase foi duramente criticada.

Em agosto, visitou África do Sul, Angola e São Tomé e Príncipe durante 7 dias. Na cidade sul-africana de Joanesburgo, participou da 15ª cúpula do Brics (acrônimo para grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).

Lula começou 2024 com a promessa de que ficaria mais tempo no Brasil para se dedicar às eleições municipais de outubro. Até agora, visitou 6 Estados.

Uma das prioridades do PT, seu partido, é ampliar o número de prefeitos petistas, especialmente em capitais. O presidente também vê na disputa pelo comando da cidade de São Paulo a repetição da polarização entre ele e o seu principal adversário, Bolsonaro.

Compromissos no Egito e na Etiópia

Lula embarca para o Cairo, capital egípcia, nesta 3ª feira (13.fev.2024). Ele deixará Brasília às 14h com destino a Cabo Verde, na África, onde fará uma escala técnica, antes do destino final. Será a 2ª visita oficial do petista ao Egito. A 1ª foi em 2003, no seu 1º mandato.

Terá uma reunião reservada com o presidente do Egito, Abdul Fatah Khalil al-Sisi na 5ª feira (11.fev.2024). Depois, encontra-se com demais autoridades egípcias. O presidente deve visitar também a sede da Liga dos Estados Árabes.

O petista chega ao país africano no momento em que as tensões entre Egito e Israel aumentaram por causa da ameaça de ações militares israelenses na região sul da Faixa de Gaza.

Na 6ª feira (9.fev.2024), o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, disse que o Exército israelense precisa conduzir operações na cidade de Rafah, ao sul da Faixa de Gaza, para derrotar o grupo extremista Hamas.

A região abriga atualmente mais de 1 milhão de palestinos que se deslocaram de outras cidades atacadas por Israel. É praticamente o último refúgio de Gaza. O premiê israelense pediu que o Exército elabore um plano de retirada dos civis.

Rafah faz fronteira com o Egito e tem a única passagem de Gaza para outro território que não o israelense. Por isso, o governo egípcio alertou aliados ocidentais de Israel de que ofensiva na região sul de Gaza pode levar ao rompimento do tratado de paz israelo-egípcio, firmado em 1979.

O conflito na Faixa de Gaza será um dos principais temas das conversas entre os presidentes. No encontro, Lula deve colocar o Brasil à disposição para auxiliar nas tratativas pelo fim do conflito na região.

Lula esteve no Egito em novembro de 2022, quando ainda era presidente eleito. Na época, ele havia sido convidado por Sisi para participar da COP27, conferência para o clima das Nações Unidas, em Sharm el-Sheikh. Foi o 1º compromisso internacional de Lula depois de vencer as eleições, ainda antes de tomar posse. De acordo com o Itamaraty, o convite ao brasileiro para uma visita de Estado foi feito nessa viagem. Em 2024, Brasil e Egito comemoram 100 anos de relações diplomáticas.

Na 6ª feira (16.fev.2024), Lula viajará para a Etiópia, onde participará como convidado de honra da Cúpula da União Africana. Também deverá se reunir com o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, e com o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, em Adis Abeba, na Etiópia, em 17 ou 18 de fevereiro.

Cúpulas latinas

Logo depois de voltar da África, Lula embarcará para Georgetown, na Guiana, onde participará da 46ª Cúpula da Caricom (Mercado Comum e Comunidade no Caribe), de 25 a 28 de fevereiro. No encontro, o presidente brasileiro deve tratar da tensão entre Venezuela e Guiana na disputa pela região de Essequibo, atualmente parte do território guianense.

Na última vez em que as duas nações discutiram a questão, ambas defenderam uma solução pacífica. Os chanceleres da Guiana, Hugh Todd, e da Venezuela, Yván Gil Pinto,  se reuniram no Itamaraty em 25 de janeiro para tratar do caso. O Brasil tem mediado as conversas. Na ocasião, disseram haver disposição para dialogar em nível diplomático e sem ameaças de uso das Forças Armadas.

No sábado (10.fev.2024), porém, imagens de satélite mostraram que a Venezuela tem feito movimentações e acumulado tropas próximo à fronteira com a Guiana, mesmo depois de ambos os países terem se comprometido em não usar quaisquer tipos de força e não ameaçar, direta e indiretamente, a soberania territorial um do outro.

Logo depois da Guiana, Lula seguirá para a Cúpula da Celac (Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos), que será realizada em 1º de março em Kingstown, em São Vicente e Granadinas, no Caribe.

Na edição de 2023, realizada em janeiro daquele ano em Buenos Aires, na Argentina, Lula defendeu a necessidade de reforçar a integração entre os países da América Latina e do Caribe e disse que a região precisa aprofundar diálogos com China, Índia e com a União Europeia, União Africana e Asean (Associação de Nações do Sudeste Asiático).

O presidente brasileiro planeja ainda visitar a Colômbia e o Chile em março, mas as viagens não estão confirmadas.

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