O Brasil bateu recorde na quantidade de gás natural reinjetado nos poços de petróleo. Segundo dados do boletim mensal de produção da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), as petroleiras que operam no Brasil devolveram 93,5 milhões de m³/dia de gás no mês passado, o maior valor da série histórica.
Apesar de o volume nominal ser o maior, o recorde da proporção de gás reinjetado permanece em março deste ano, quando o país devolveu 58% de sua produção mensal. À época, a ANP reportou o maior valor já produzido de gás natural no país, 169,9 milhões de m³/dia. Com isso, o percentual de gás reintroduzido nos poços foi de 55%, valor que tem sido a média do país nos últimos meses.
Os números da série histórica mostram que a reinjeção disparou no país a partir de 2015, com o início da operação das grandes plataformas de pré-sal. No Brasil, cerca de 85% do gás natural produzido está associado ao petróleo. É o caso do pré-sal. Ou seja, ambos estão presentes nos reservatórios. Para produzir óleo, as empresas têm que extrair gás natural. Restam às petroleiras duas opções: comercializar o gás ou reinjetá-lo.
A devolução acaba sendo uma estratégia comercial de petroleiras, como a Petrobras, para aumentar a produção de petróleo. Ocorre que a injeção de gás natural, gás carbônico, água e outros fluidos aumenta a pressão dos reservatórios, ajudando a extrair o óleo. E o petróleo é mais lucrativo do que o gás.
Em países com um perfil similar de produção ao brasileiro, com predomínio de gás associado, as taxas de reinjeção de gás são naturalmente mais altas para ajudar na extração do petróleo. Variam de 20% a 35%. Contudo, o percentual no Brasil está acima de seus pares. Isso por causa da falta de infraestrutura.
De olho em diminuir a taxa de reinjeção de gás no país, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, tem organizado medidas para incentivar a oferta de gás no Brasil. Crítico da reinjeção, Silveira protagonizou embates com o ex-presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, no tocante ao tema.
Com a saída de Prates e a entrada de Magda Chambriard, o ministro esperava uma mudança de direção na política de reinjeção. Contudo, como a própria presidente falou, o assunto dentro da companhia é “delicado”.
Em conversa com jornalistas no final de agosto, Magda disse que a culpa dos altos níveis de reinjeção era do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Segundo a executiva, as embarcações comissionadas durante o governo passado não têm infraestrutura para levar o escoamento do gás à costa.
Em setembro, a Petrobras inaugurou o Rota 3 –gasoduto que escoará a produção de gás natural do pré-sal da Bacia de Santos. Durante a cerimônia de inauguração da instalação, Magda declarou que o gasoduto era “uma resposta a quem pedia mais gás”. Em novembro, a ANP deve publicar o 1º boletim com o Rota 3 em operação.