O economista Bruno Brandão, diretor-executivo da Transparência Internacional no Brasil, diz que a ONG não percebeu que divergiam profundamente dos entendimentos do ex-juiz Sérgio Moro e do ex-coordenador da operação Lava Jato no Paraná Deltan Dallagnol sobre o significado de se combater a corrupção em sua essência.
“Houve erros muito importantes da operação, do sistema político, da imprensa e da sociedade, inclusive da Transparência Internacional. Deixamos de perceber que em relação aos 2 principais representantes da Lava Jato, o procurador Deltan Dallagnol e o juiz Sérgio Moro, havia uma profunda divergência com o entendimento da Transparência Internacional sobre o que essencialmente significa a luta contra corrupção”, declarou Brandão ao jornal O Globo.
O diretor-executivo da ONG fala sobre a participação da Transparência Internacional na Lava Jato. A operação realizou uma série de investigações de desvio e lavagem de dinheiro público no Brasil de 2014 a 2021.
O economista explica que a concessão de imagem da Lava Jato ao governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) –com a chegada de Sergio Moro, por exemplo– confronta a visão da ONG sobre o significado do combate à corrupção. Para ele, a gestão bolsonarista fragilizou a democracia brasileira.
“Se depois da operação eles [os ex-integrantes da Lava Jato] emprestaram a imagem para um governo autoritário, que destruiu o combate à corrupção e fragilizou a própria democracia brasileira, eles não comungam a nossa visão sobre combate à corrupção”, disse.
Para o diretor-executivo, retrocessos no combate à corrupção são responsabilidades de Lula (PT) e, principalmente, do legado de Bolsonaro. Segundo ele, o governo de Jair destruiu a estrutura gerada para combater a corrupção.
“Aprendemos nos últimos anos que toda a estrutura de combate à corrupção que o país levou décadas para construir pode ser destruída em poucos anos. Foi o que a gente assistiu, principalmente no governo Bolsonaro. Apontamos no relatório da semana passada que essa responsabilidade, além do legado do governo Bolsonaro, é também do governo Lula, com omissões e mesmo retrocesso”, completou.
Embora atribua responsabilidades a ambos os governos pelo retrocesso no combate à corrupção, Brandão diz que há responsabilidade dos poderes Legislativo “com o Centrão cada vez mais poderoso” e do Judiciário, que, segundo ele, “tem feito o papel do desmonte, com decisões que anulam de maneira generalizada investigações e processos contra a corrupção”.
ONG investigada
A ONG Transparência Internacional no Brasil é alvo de investigação que apura suposto ganho com os acordos de leniência firmados à época da operação Lava Jato.
Mensagens reveladas entre Deltan Dallagnol e procuradores do MPF (Ministério Público Federal) sugerem que houve uma tentativa de direcionar trechos do acordo de leniência do grupo empresarial J&F, firmado em 2017, para que a ONG recebesse valores provenientes do trato sem ter que “passar” pela auditoria do TCU, ou seja, sem uma devida fiscalização posterior.
Ao jornal O Globo, o diretor-executivo Bruno Brandão negou que a Transparência Internacional tenha recebido dinheiro de acordos de leniência no Brasil. Segundo ele, as alegações já haviam sido desmentidas há anos por autoridades brasileiras, pela PGR (Procuradoria Geral da República) e pela própria ONG.