O candidato à Prefeitura de São Paulo Pablo Marçal (PRTB) atingiu 1 milhão de seguidores em seu 3º perfil no Instagram. A conta reserva do ex-coach foi derrubada por determinação da Justiça Eleitoral neste sábado (5.out.2024) a pedido da defesa de Guilherme Boulos (Psol).
A marca foi alcançada às 19h25 horas deste sábado (5.out.2024). Duas horas depois de a conta ter sido criada, já contava com 800 mil seguidores.
Marçal apresentou crescimento de 704% na rede social em 1h. Passou de 59.700 seguidores às 16h20 para mais de 480 mil seguidores às 17h20.
O diretor da Bites, Manoel Fernandes, disse ao Poder360 que esse é um episódio sem precedentes. “Acompanhamos a dinâmica da política digital desde as manifestações de 2013 e na nossa história analítica nada parecido aconteceu antes. Para cada obstáculo, o tempo de resposta de Pablo Marçal fica mais rápido.”
Fernandes declarou ainda que o fenômeno de 2018, com a eleição inesperada de Jair Bolsonaro (PL), está se repetindo este ano com Marçal de forma mais “intensa e profunda dentro das redes sociais”.
A conta foi suspensa por decisão do juiz Rodrigo Capez, do TRE (Tribunal Regional Eleitoral) de São Paulo, e é válida por 48 horas. Segundo o magistrado, há indícios de diversos crimes previstos no Código Eleitoral. O juiz afirma que o perfil @pablomarcalporsp “tem sido utilizado para a divulgação de fatos infamantes e inverídicos” sobre Boulos. Cita o aparente objetivo de Marçal de interferir nas eleições municipais. Leia a íntegra da decisão (PDF – 372 kB).
Na 6ª feira (4.out), Marçal publicou uma receita médica (sem comprovação de veracidade) indicando que Boulos teria sofrido um “surto psicótico” em 19 de janeiro de 2021 junto a um exame toxicológico cujo resultado havia dado positivo para cocaína. A Meta já havia removido na 6ª feira (4.out.2024) a publicação feita no perfil de Marçal no Instagram.
O juiz, porém, negou o pedido de prisão preventiva apresentado pelo psolista, ao considerar a “ausência de elementos suficientes” para tal medida.
Para justificar a suspensão da conta @pablomarcalporsp, o magistrado apresentou os seguintes argumentos:
- indícios de autoria e materialidade dos crimes de difamação, calúnia, falsidade ideológica e divulgação de informações falsas;
- risco à ordem pública e à integridade do processo eleitoral;
- necessidade de garantir a ordem pública, considerando que o perfil estava sendo usado para “disseminar informações falsas e difamatórias”.
Capez considerou “plausíveis” as alegações sobre a falsidade do laudo divulgado por Marçal. Entre os pontos mencionados, estão a proximidade do dono da clínica que emitiu o laudo com o ex-coach, a assinatura do documento por um médico já morto e o fato de que os conteúdos foram divulgados “na véspera da eleição”.
1ª SUSPENSÃO
Pablo Marçal teve o perfil principal suspenso no Instagram em 24 de agosto, depois de o TRE conceder pedido do PSB (Partido Socialista Brasileiro), partido da concorrente ao pleito Tabata Amaral. A legenda alegou que Marçal pagou para que os “cortes” (trechos) de vídeos dele na internet viralizassem e fossem divulgados. Ele teria usado um aplicativo para incentivar usuários a postar conteúdos que, se bem-sucedidos em visualizações, seriam pagos.
Segundo representante do MP Eleitoral, o candidato fez concurso para que o seguidor que mais fizesse publicações para impulsionamento dos cortes receberia quantia de R$ 5.000 reais até R$ 50.000. A Justiça entendeu que os pagamentos interferem no equilíbrio da disputa eleitoral e concedeu a liminar suspendendo perfis e o site do ex-coach.
PF ABRE INQUÉRITO
A PF (Polícia Federal) abriu um inquérito para apurar o documento publicado por Maçal contra o psolista.
O receituário é assinado por um médico chamado José Roberto de Souza (CRM 17064-SP). Esse médico teria atendido Boulos com um “quadro psicótico grave, em delírio persecutório e ideias homicidas”. Dados disponíveis na internet a partir do CRM mostram que Souza morreu –a data não está disponível.
Depois de o ex-coach postar a imagem, Boulos abriu uma transmissão ao vivo em seu perfil no Instagram. Declarou que o documento é falso e que iria pedir a prisão do adversário.
Marçal aparece em foto e vídeo compartilhados nos perfis nas redes sociais do médico Luiz Teixeira da Silva Junior, dono da clínica onde supostamente teria sido realizado um exame toxicológico com resultado positivo.
Saiba quais são os indícios de falsidade no receituário publicado:
- documento diz que Boulos teria sido atendido às 16h45 de 19 de janeiro de 2021, mas naquela tarde o deputado se encontrou com o vereador Emerson Osasco (PC do B), que publicou uma foto com o psolista no dia;
- Boulos participou de distribuição de cestas básicas na Comunidade do Vietnã em 20 de janeiro, 1 dia depois da data do suposto receituário;
- médico que assina o documento, José Roberto de Souza (CRM 17064-SP), já morreu;
- dono da clínica em que foi gerado o documento tem uma suposta proximidade com Marçal. Os 2 aparecem juntos em foto compartilhada nos perfis nas redes sociais de Luiz Teixeira da Silva Junior;
- Luiz Teixeira já foi condenado na Justiça em 2021 por suposta falsificação de documento. A 22ª Vara Federal de Porto Alegre o considerou culpado de apresentar documentos falsos ao Cremers (Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul) para obter o registro profissional de médico;
- nome da clínica registrada no CNPJ mostrado no receituário é “Mais Consultas” e não “Mais Consulta”, como está escrito no documento;
- RG de Boulos no suposto receituário tem um número a mais;
- documento tem erros de português: “por minha atendido” e “apresentou com quadro de surto psicótico grave”;
- a analista de sistemas Carla Maria de Oliveira e Souza, filha do médico que aparece no suposto receituário, disse ao O Globo que a assinatura no documento não é de seu pai;
- também ao O Globo, Iolanda Rodrigues, antiga secretária do médico que assina o documento, afirma que a assinatura do receituário não é a dele.