O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) embarca na manhã deste domingo (29.set.2024) para a Cidade do México, onde acompanhará a posse da nova presidente do país, Claudia Sheinbaum. Essa será a 8ª viagem internacional do petista em 2024.
Ao voltar ao Brasil, em 1º de outubro, o chefe de Estado terá passado 22 dias fora do país no ano até aqui.
A agenda de Lula fora do país reduziu o ritmo em relação a 2023, quando tentou, segundo ele, recuperar a credibilidade internacional do Brasil. Naquele ano, foram 15 viagens, 24 países visitados e 62 dias ausente do território nacional.
Mesmo com ao menos mais duas viagens marcadas para 2024, não deve igualar seu ano de volta ao Planalto. Lula irá à Rússia no fim de outubro para a cúpula dos Brics e ao Azerbaijão em novembro para a COP29, a conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas.
No México, Lula não tem compromissos marcados para este domingo (29.set). Na 2ª feira (30.set), entretanto, o presidente encontrará com seu aliado e presidente que está de saída do cargo, Andrés Manuel López Obrador, e com sua sucessora, Claudia Sheinbaum.
O petista também participa do fórum Brasil-México. Organizado por ApexBrasil, Ministério da Indústria e Comércio e Itamaraty, o encontro deve reunir cerca de 300 empresários brasileiros e mexicanos de diferentes setores produtivos.
Na 4ª feira (1º.out), o presidente participa dos atos relacionados à posse de Sheinbaum e retorna ao Brasil no mesmo dia. Na comitiva presidencial estarão os ministros das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e das Mulheres, Cida Gonçalves. Além disso, o Poder360 contabilizou ao menos mais 27 assessores e seguranças que acompanharão a viagem.
2ª viagem de Lula no mês
Lula embarca para o México 3 dias depois de ter chegado de Nova York. Em sua viagem de 4 dias aos EUA, tentou se apresentar como o principal porta-voz do chamado Sul Global ao dar um passo, ainda que incipiente, para uma reforma ampla da ONU (Organização das Nações Unidas) e cobrar maior participação da região nas decisões da instituição.
- Sul Global – o termo foi cunhado em 1969 pelo ativista e escritor norte-americano Carl Oglesby (1935-2011). Foi usado para se referir ao “3º mundo” –nações em desenvolvimento ou subdesenvolvidos. A denominação perdeu uso com o fim da Guerra Fria. O termo é atualmente usado por líderes mundiais para se referir aos países do G77, em sua maioria localizados na América Latina, África e Ásia. É errado chamar o Sul Global de bloco econômico ou geográfico –China e Índia ficam no Hemisfério Norte.
Com a expectativa de vender uma agenda verde e atrair investimentos, Lula afirmou que precisa fazer mais internamente. Cobrou, porém, ajuda dos países ricos, especialmente financeira, por solução para a crise climática e disse que o “planeta está farto de acordos não cumpridos”.
O principal palco de Lula foi a abertura da 79ª Assembleia Geral da ONU, em que presidentes brasileiros são, por tradição, os primeiros a discursar. Mas o petista também promoveu reunião com países considerados democráticos para discutir a defesa da democracia e o combate aos extremismos, especialmente de setores da direita.
O discurso do presidente, no entanto, repercutiu pouco na mídia no exterior. Entre as publicações internacionais que ignoraram completamente o discurso do presidente brasileiro em suas edições impressas de 4ª feira (25.set) estão New York Times, Washington Post, Financial Times e Wall Street Journal.
Dos maiores veículos, só o Washington Post (para assinantes) citou o petista em um título: “Lula fala sobre clima na ONU, mas incêndios na Amazônia minam sua mensagem”. Os outros deram destaque para as guerras na Ucrânia e em Gaza, mas, praticamente, ignorando o que foi dito por Lula.
Leia mais sobre a ida de Lula a Nova York:
- Janja chega antes – a primeira-dama desembarcou nos EUA em 18 de setembro; participou de um evento na Universidade Columbia, em que falou que as queimadas no Brasil são“ações criminosas terroristas”;
- Cúpula do Futuro – Lula participou do evento da ONU em 22 de setembro, declarou que o Sul Global não é representado e viu seu microfone ser cortado no fim do discurso depois de extrapolar o tempo de 5 minutos permitido para falar;
- encontro com a Shell – Lula e ministros de seu governo se reuniram com o presidente da empresa em encontro fora da agenda oficial; a reunião causou um mal-estar na administração petista por ser entendida internamente como contrária à “agenda verde”; Lula negou contradição e disse que se reuniu com uma empresa que atua há 100 anos no Brasil e que é sócia da Petrobras em 60% dos postos leiloados;
- barrados na porta – o presidente desistiu de participar de um evento da Clinton Foundation após o Serviço Secreto dos EUA barrar parte da comitiva brasileira;
- Bill Gates dá prêmio para Lula – a premiação se deve às políticas de combate à fome nos governos do petista;
- discurso na 79ª Assembleia Geral da ONU – Lula defendeu a criação de um Estado palestino, condenou os ataques israelenses ao Líbano, afirmou que a fome é resultado de “escolhas políticas”, criticou “falsos patriotas” e big techs “que se julgam acima da lei”;
- grau de investimento– Lula e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, se reuniram com agências de classificação de risco para discutir a volta do grau de investimento brasileiro; depois, a jornalistas, o ministro afirmou que o Brasil terá taxas de inflação “sucessivamente menores” nos próximos anos;
- Fernanda Torres na ONU – a atriz se encontrou com Lula e Janja; cotada para uma indicação ao Oscar, ela criticou a “agressividade” nas eleições em São Paulo, em referência à cadeirada de Datena (PSDB) e ao soco no marqueteiro de Ricardo Nunes (MDB) durante debates na capital paulista;
- encontro com Biden e evento com Sánchez – na 3ª feira (24.set), o petista esteve brevemente com o presidente dos EUA, Joe Biden, e organizou um evento para promover a democracia junto ao premiê da Espanha, Pedro Sánchez (Psoe, centro-esquerda);
- revisão na Carta da ONU – na 4ª feira (25.set), Lula disse que o Brasil cogita apresentar uma proposta de alteração na Carta da ONU em prol de uma reforma mais ampla das Nações Unidas;
- foto com líder palestino – Lula publicou uma foto com Mahmoud Abbas, presidente da Palestina. No encontro, voltou a cobrar um cessar-fogo na guerra em Gaza;
- encontro com o presidente da Shein – o chefe do Executivo se reuniu com Marcelo Claure, vice-presidente da Shein, e com Josué Gomes, presidente da Fiesp e dono da Coteminas, que enfrenta dificuldades financeiras. Lula é amigo de Josué –o pai do presidente da Fiesp, José Alencar(1931-2011), foi vice-presidente de Lula nos 2 primeiros mandatos do petista. A Shein tem um acordo operacional com a Coteminas;
- mídia internacional ignora – a presença e os discursos de Lula na ONU tiveram pouca repercussão nos principais jornais estrangeiros.