A primeira visita do presidente da Argentina, Javier Milei, ao Brasil foi em Santa Catarina, no último fim de semana. Milei foi uma das principais atrações do CPAC 2024 (Conservative Political Action Conference), que reuniu milhares de pessoas identificadas com o conservadorismo em Balneário Camboriú, no Litoral Norte.
Lá estavam lideranças da direita nacional e mundial, a exemplo do ex-presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, e sua esposa, Michele, além de representantes de países como Chile, Bolívia, El Salvador, México, Holanda e Portugal. Governadores, entre eles, o catarinense Jorginho Mello, deputados catarinenses, entre os quais Caroline De Toni, Ana Campagnolo e Julia Zanatta, e de outros Estados, como Eduardo Bolsonaro e Nikolas Ferreira, e apoiadores da direita, participaram do encontro como palestrantes ou como ouvintes.
Discurso de Milei
O presidente argentino falou neste domingo (7), pouco depois das 17h, no evento. Subindo ao palco, foi recebido com gritos de “Milei, Milei, Milei”. O líder da direita argentina agradeceu ao convite e fez menção a Bolsonaro e ao seu filho, Eduardo, pela recepção calorosa. “Realmente me fazem sentir em casa e é sempre um prazer estar entre amigos”, declarou.
No início, deixou claro que estava ali para um discurso contra a receita econômica e cultural do socialismo na América Latina. “Se analisarmos os diferentes casos de governos socialistas ou de esquerda na América Latina, nos últimos 20 anos, certamente encontraremos uma série de denominadores comuns, que constituem uma verdadeira receita para o desastre econômico, social, político e cultural, porque existe uma relação causal entre esses elementos e não é mera coincidência”, disse o presidente, lendo o discurso.
Para Milei, em primeiro lugar, é notável que os socialistas comecem com um período de prosperidade econômica, num contexto de contas públicas ordenadas. “Neste primeiro momento, a economia cresce. A sociedade ganha poder de compra. O Estado arrecada e o Banco Central acumula reservas, mas os governos socialistas apaixonam-se pela popularidade gerada pela prosperidade que herdaram, temem que não seja eterno, e aumentam indiscriminadamente os gastos públicos para sustentá-la.”
Para isso, segundo Milei, os socialistas “subsidiam taxas ou serviços públicos, aumentam o emprego público e distribuem brindes de diversos tipos, chamando isso de inclusão social. Quando o dinheiro acaba, começam a aumentar impostos para arrecadar mais, mas ao custo de contrair a atividade econômica e destruir o investimento. Quando não podem mais recorrer a dívidas, recorrem ao pior, que é a emissão monetária, destruindo o valor das suas moedas e condenando toda a população à pobreza.”
Poder pelo poder
O presidente da Argentina também falou que o custo de tudo isso, mais cedo ou mais tarde, é pago pelo povo. “As mesmas pessoas que os governos socialistas afirmam proteger, mas que, na verdade, querem escravizar para ganhar uma base de apoio cativa que lhes permita permanecer no poder. Não podemos nos enganar. A única coisa que interessa aos socialistas é o poder pelo poder.”
Segundo ele, a consequência é que as pessoas acabam por pagar uma inflação galopante pelo que recebem de subsídio. “Acabam por pagar em bens mais caros e de menor qualidade. Já vimos este filme dezenas de vezes”, ressaltou Milei.
Na sequência, o presidente argentino criticou governos de esquerda na América Latina. “Repetidamente, a história mostra que as mesmas pessoas que enchem a boca com conversas sobre democracia, pluralismo e opressão são as que estão dispostas a quebrar as regras e até a interromper a ordem constitucional para se barricarem no palácio quando o povo exige mudança. Veja o que aconteceu na Venezuela.”
Para Milei, não existe um único governo sensato no mundo que não reconheça que se trata de uma ditadura sangrenta. E seguiu citando exemplos, até chegar ao Brasil: “Veja o que aconteceu em 2019, quando Evo Morales buscou um terceiro mandato constitucional. Vejam a perseguição judicial que nosso amigo Jair Bolsonaro sofre aqui no Brasil”. Neste momento, foi interrompido por aplausos. Depois, retomou o discurso, que durou 28 minutos.
Bolsonaro foi ápice do evento
O ex-presidente Jair Bolsonaro falou no evento no fim da tarde de sábado (6). Também fez um discurso longo, de aproximadamente 30 minutos. No estilo brincalhão, disse: “deixaram o pior orador para o final”. Depois, contou sua história de vida e política. Foram 15 anos no Exército brasileiro, exerceu sete mandatos no parlamento e meio mandato de vereador. “Resolvi, em novembro de 2014, dizer que seria candidato a presidente e que chegaria à Presidência da República. Quem ia acreditar nisso?”, questionou o ex-presidente.
Bolsonaro disse que queria ter disputado a presidência em 2014, mas não foi possível. “Aconteceu em 2018. Quem eu era? Não era ninguém, não tinha partido, era um deputado encrenqueiro, criador de caso. No meio do caminho teve a facada, imagine se a facada tivesse sucesso. Imagine se o cara da economia agora fosse presidente”, disse, criticando Fernando Haddad.
Lembrando a formação da equipe ministerial após eleito em 2018, Bolsonaro falou que só tinha Paulo Guedes em mente. Depois, encontrou nomes como Ricardo Salles (Meio Ambiente) e Tarcísio de Freitas (Infraestrutura), presentes no evento.
Segundo ele, o Brasil tinha tudo para quebrar com a pandemia e as guerras. “Aconteceu o contrário, dada a equipe que tínhamos do lado. A economia voltou a viver, tivemos superávit e aconteceu aquilo no final de 2022. Só o presídio e o sistema comemoraram. Me tornaram inelegível porque me encontrei com embaixadores”, lamentou.
O ex-presidente disse que acredita em mudanças, que sofreu tentativas de censura e erguendo o celular disse que representa a liberdade para os representantes da direita. Depois, citou feitos da gestão, como o Auxílio Emergencial, concedido a milhões de brasileiros na pandemia. O ex-presidente disse que responde a mais de 300 processos, mas que vale a pena e não vai recuar. “Todos os dias me levanto, tomo meu banho, boto minha roupa, dobro os joelhos, rezo um Pai Nosso e peço a Deus que meu povo não sinta as dores do comunismo.”
CPAC 2024 em SC
Fabio Wajngarten, secretário especial de comunicação social no governo Bolsonaro, atualmente assessor do ex-presidente, disse que o CPAC quase 5000, 6000 pessoas ouviram Milei neste domingi, por mérito de Eduardo Bolsonaro e Sérgio Santana [CEO do evento].
“O Eduardo é um gigante nas relações internacionais. Representa a família Bolsonaro na geopolítica internacional. Com mérito, construiu uma relação robusta, íntima e próxima, com o presidente Milei”. Ele também logiou as palestras do CPAC. “Demonstra a força do grupo político da direita, que a direita cresce continuamente.