A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro deu novo indício de que a estratégia da família será buscar uma reversão da inelegibilidade de seu marido, Jair Bolsonaro (PL), e torná-lo um nome viável para a disputa presidencial de 2026.
Em entrevista publicada pelo portal Pleno News na noite de 3ª feira (4.jun.2024) , Michelle distribuiu indiretas a quem pretende sucedê-lo –notadamente, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Disse que o caminho ainda não está fechado para o ex-presidente e que as tentativas de consensuar um herdeiro da base bolsonarista fogem ao tempo da política e são fruto de um interesse que não é seu e nem do clã Bolsonaro.
“Penso que tem alguém –ou ‘alguéns’– muito interessado em acelerar o processo de apresentação de nomes de prováveis presidenciáveis. Parece até uma tentativa de diminuir a importância do nome do meu marido no cenário político nacional”, declarou a primeira-dama.
No rito atual, Bolsonaro está fora das disputas de 2024, 2026 e 2028. Foi declarado inelegível pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) em 30 de junho de 2023, pouco mais de 6 meses depois de deixar o cargo, por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação.
O caso envolve uma reunião com embaixadores no Palácio do Alvorada em julho de 2022, quando criticou o sistema eleitoral brasileiro e a atuação do TSE e do STF (Supremo Tribunal Federal) em um encontro previamente alardeado como elucidativo das provas de que haveria brechas na urna capazes de fraudar o pleito.
A condenação foi reforçada por outro caso, desta vez relativo ao 7 de Setembro de 2022. Na ocasião, o então presidente usou o Dia da Independência, um evento de Estado, para pedir votos e promover sua campanha à reeleição. A Corte Eleitoral considerou que houve abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação. Estabeleceu uma nova condenação de 8 anos, mas que não se soma à outra.
CASAL BOLSONARO MANTÉM FORÇA
Na entrevista, Michelle também falou sobre a possibilidade de assumir ela mesma o legado de seu marido nas eleições de 2026. Um levantamento do Paraná Pesquisas de 24 de maio mostrou que a ex-primeira-dama é a mais bem cotada a enfrentar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O petista venceria Tarcísio e os governadores de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), e do Paraná, Ratinho Junior (PSD), com relativa folga. Mas quem lidera essa lista ainda é o próprio Bolsonaro.
Em um cenário Michelle x Lula, a presidente do PL Mulher somaria 33,0% dos votos no 1º turno, enquanto o petista teria 36,6%. Já em uma disputa presidencial refletindo a de 2022, Bolsonaro teria 38,8% dos votos. Lula, 36,0%.
Michelle afirmou que a possibilidade de assumir a candidatura jamais foi discutida a 4 paredes. Reforçou seu compromisso em liderar o PL Mulher e aumentar a proporção de mulheres conservadoras nas eleições municipais. E disse que tomará decisões, incluindo uma aventada candidatura ao Senado, com base em recados divinos. “Na hora certa, Ele falará. Ele sempre fala.”
“Quanto às manifestações do povo a respeito do meu nome, eu encaro como sendo o reconhecimento por saberem que o meu marido e eu estamos mais unidos do que nunca e compartilhamos os mesmos propósitos. Eu agradeço por todas essas manifestações, mas reafirmo: Bolsonaro é o nosso candidato! Eu me junto ao coro popular para pedir: ‘Volta, Bolsonaro!’”, disse a ex-primeira-dama.
ATAQUES A TARCÍSIO E APOSTA EM NUNES MARQUES
O casal Bolsonaro, os filhos Eduardo e Carlos e aliados da base bolsonarista começaram nas últimas semanas a acionar um protocolo de contenção do crescimento de outros concorrentes de Bolsonaro na direita, principalmente Tarcísio. Os disparos, com frequência, tentam associá-lo à traição do legado bolsonarista e aproximá-lo do atual governo.
Principal organizador dos atos realizados por Bolsonaro em São Paulo (25.fev) e no Rio (21.abr), o pastor Silas Malafaia alfinetou o governador de São Paulo por uma aproximação com o presidente do PSD, Gilberto Kassab, em declaração na 3ª feira (4.jun). Malafaia chamou o ex-prefeito de São Paulo de “aliadíssimo” do governo Lula.
“Para mim, Bolsonaro tinha que chamá-lo [Tarcísio] e dizer assim: ‘Amigão, você tem que escolher o que você quer. Se você quer ser aliado do Kassab, então segue seu caminho’”, declarou na ocasião.
Ainda incipiente, a aposta para virar a chave é a ascensão do ministro Kassio Nunes no comando da Justiça Eleitoral durante o ciclo de 2026. Indicado por Bolsonaro, o ministro foi um dos que divergiram da maioria no Supremo quanto à condenação dos envolvidos no 8 de Janeiro e é tido como um nome naturalmente mais próximo aos bolsonaristas.
O ministro Alexandre de Moraes, principal algoz do ex-presidente e da base bolsonarista, deixou a Corte Eleitoral na última semana. Deu lugar a um outro indicado de Bolsonaro, o ministro André Mendonça, que será o vice-presidente do TSE em 2026.
Além de Kassio, o TSE é formado por outros 2 ministros do Supremo, 3 do STJ (Superior Tribunal de Justiça) e 2 advogados indicados pelo STF. Anular a inelegibilidade exigiria uma maioria de 4 votos nos 2 casos em questão.
Ao Pleno News, Michelle não detalhou como o objetivo seria atingido pelas vias legais. Mas deixou viva a esperança de que o marido ainda é candidato a presidente e que a família tentará adiar o máximo possível o crescimento de um nome para sucedê-lo.
“Lamento dizer para esses ‘precoces’: o Jair está mais ativo do que nunca, nós estamos trabalhando para reverter as injustiças que ele vem sofrendo e eu acredito que ele será o nosso próximo presidente”, declarou.