O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) acumula 97 falas consideradas controversas desde voltou ao Palácio do Planalto para o seu 3º mandato. Só em 2024, foram 50 declarações do tipo. No ano passado, 55. Os números são de levantamento realizado pelo Poder360 de 1º janeiro de 2023 a 1º de maio.
Dentre as frases ditas pelo petista, 43 podem ser consideradas ofensas a pessoas, minorias sociais ou outros grupos. Já 24 são relacionadas à política internacional, como comentários sobre outros países e guerras, enquanto em 12 ocasiões houve erro de informação.
Leia as principais falas controversas de Lula:
DISCURSOS NÃO COMBINADOS
Em 1º de Maio, durante evento de comemoração do Dia do Trabalho, Lula pediu votos para o pré-candidato à Prefeitura de São Paulo Guilherme Boulos (SP). O ato contou com dinheiro da Petrobras, e pode configurar como crime eleitoral (leia mais aqui).
Assista (2min13s):
Eis a fala de Lula:
“Só queria dizer para vocês o seguinte: esse rapaz, esse jovem, ele está disputando uma verdadeira guerra aqui em São Paulo. Ele está disputando com o nosso adversário nacional, ele está disputando contra o nosso adversário estadual, ele está disputando contra o nosso adversário municipal. Está enfrentando 3 adversários. Ninguém derrotará esse moço aqui se vocês votarem no Boulos para prefeito de São Paulo nas próximas eleições. Vou fazer um apelo: cada pessoa que votou no Lula em 1989, em 1994, em 1996, em 2006, em 2010, em 2022, tem que votar no Boulos para prefeito de São Paulo.”
Na 5ª feira (2.mai), Lula removeu de seu perfil oficial no YouTube o vídeo do ato em comemoração ao 1º de Maio depois de decisão do TRE-SP (Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo) determinar, em até 48h, a remoção do material.
Como mostrou o Poder360, a espontaneidade do presidente em discursos feitos em eventos públicos tem incomodado seus assessores diretos. Integrantes de sua equipe combinam uma estratégia de comunicação que acaba sendo descumprida pelo chefe do Executivo.
Nesses casos, as declarações, muitas vezes controversas, acabam chamando mais atenção do que o foco da agenda do governo.
Na reunião ministerial de 18 de março, por exemplo, o combinado era que Lula fizesse uma fala de abertura e passasse a palavra para o ministro da Casa Civil, Rui Costa, que apresentaria os resultados positivos do governo.
No entanto, o presidente tomou a palavra e disse que não houve golpe de Estado no Brasil no 8 de Janeiro porque o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi um “covardão”. O presidente não citou nominalmente seu antecessor.
“Se, há 3 meses, quando a gente falava em golpe parecia apenas insinuação, hoje nós temos certeza que esse país correu sério risco de ter um golpe em função das eleições de 2022. E não teve golpe, não só porque algumas pessoas que estavam no comando das Forças Armadas não quiseram fazer, não aceitaram a ideia do presidente, mas também porque o presidente é um covardão”, declarou.
Em março, mais uma vez, as declarações do presidente ofuscaram o foco do evento. No aniversário de 44 anos do PT, realizado em Brasília, Lula confessou que muitas vezes não consegue se segurar. “Quando eu vejo um microfone, me dá coceira nos dentes”, disse ao subir ao palco.
O petista relatou que havia combinado com a primeira-dama, Janja Lula da Silva, que não discursaria no evento. O Poder360 apurou que a promessa de não falar foi feita também a vários assessores.
Ao descumprir o prometido, Lula criticou a decisão da Justiça de Barcelona, na Espanha, que havia concedido liberdade provisória ao ex-jogador de futebol Daniel Alves caso pagasse uma fiança de € 1 milhão (cerca de R$ 5,4 milhões), o que acabou sendo feito dias depois.
A declaração foi considerada por ministros como desastrosa porque o presidente não precisava ter se envolvido no caso, além de que, embora desagrade o presidente, a decisão está dentro dos parâmetros legais da Justiça da Espanha.
DECLARAÇÕES CONTROVERSAS
Lula menciona Bolsonaro, de forma indireta ou indireta, com frequência. É comum o tom crítico e o uso de termos considerados pejorativos. Já chamou o ex-presidente de “genocida” em entrevista à RedeTV! e disse que seu antecessor desafiou a ciência por muito tempo durante a pandemia da covid.
Em relação a declarações sobre política internacional, Lula falou sobre as eleições da Venezuela, marcadas para 28 de julho, e declarou que “nada vale” se o candidato de oposição do país tiver o mesmo comportamento que a oposição no Brasil.
Lula disse ainda não ter ficado “chorando” quando não pôde concorrer às eleições em 2018, se referindo a María Corina Machado, líder da oposição de Nicolás Maduro. Ela está proibida de ocupar cargos públicos pelos próximos 15 anos. O presidente da Venezuela é um aliado histórico do petista.
Erros factuais também foram cometidos pelo presidente. Em condecoração do presidente da França, Emmanuel Macron, ao líder indígena Raoni Metuktire, em 23 de março, Lula confundiu o francês com o ex-presidente do país Nicolas Sarkozy. Os convidados o corrigiram rapidamente.
Já no início de abril, durante a 12ª Conferência Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, o petista errou e disse que 12,3 milhões de crianças morreram em Gaza. Até a 5ª feira (2.mai), cerca de 14.000 crianças palestinas morreram no conflito, segundo a Al Jazeera (emissora estatal da monarquia do Qatar). Informações sobre Gaza são do Hamas e não há meios para verificar esses dados de maneira independente.
Ainda sobre a guerra entre Israel e Hamas, o presidente declarou em fevereiro durante viagem à Etiópia: “O que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino, não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus”.
As declarações comparando as ações da guerra contra o Hamas às de Hitler contra os judeus tornaram o petista “persona non grata” em Israel. O ministro de Relações Exteriores Israel Katz exigiu uma retratação formal de Lula –o que não se deu.
Ambos as falas erradas de Lula não foram incluídas no discurso oficial divulgado pelo Palácio do Planalto.
Esta reportagem foi escrita pela estagiária de jornalismo Evellyn Paola sob a supervisão da editora-assistente Isadora Albernaz.