O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse concordar com as críticas de que o governo “está muito analógico nas redes sociais” e que “o combate às fake news é um problema”. Na avaliação de Haddad, o país enfrentará “um longo inverno” até solucionar essa questão.
“Eu concordo com os críticos que dizem que nós ainda estamos muito analógicos nas redes sociais. (…) O combate às fake news é um problema ainda para nós”, reconheceu Haddad em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, publicada no sábado (27.abr.2024).
“Nós temos também que calibrar melhor a nossa comunicação, os nossos discursos. Precisamos aprender a lidar com essa ascensão da extrema-direita”, completou, citando se tratar de um problema novo, que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não enfrentou nos governos anteriores.
Segundo Haddad, o governo não quer uma “saída autoritária” para a desinformação, como a proibição de plataformas de redes sociais de operarem no país.
O tema esteve em alta nas últimas semanas por causa do embate entre o dono do X (ex-Twitter), Elon Musk, e o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes. Musk que é acusa o ministro de promover a censura por meio de decisões judiciais. Em resposta, Moraes incluiu o empresário no inquérito das milícias digitais.
Na entrevista, Haddad fez diversas críticas ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Segundo o ministro, “não houve propriamente um governo Bolsonaro que nos antecedeu. Ele terceirizou para o Legislativo e não governou”.
O governo enfrenta dificuldade para aprovar suas pautas no Congresso. No começo deste mês, Haddad pediu comprometimento com as contas públicas depois de o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), desidratar a MP (medida provisória) 1.202 de 2023, ao manter a renúncia fiscal de municípios de até 156 mil habitantes.
A resposta veio no sábado (27.abr). Em nota, Pacheco disse que o Congresso não precisa compartilhar da mesma visão de desenvolvimento econômico que o Ministério da Fazenda e classificou as cobranças de Haddad como “desnecessárias, para não dizer injustas”.
O ministro afirmou que “Lula está reconstruindo muita coisa que estava em decomposição”, pois durante o governo Bolsonaro “conversávamos muito sobre bobagens”. Citou como exemplo a declaração do ex-presidente de que as pessoas poderiam “virar jacaré” se tomassem a vacina anticovid e o corte de imposto para jetskis.
Leia outros assuntos abordados na entrevista:
- Lula 3 – “No começo deste governo, eu o sentia [Lula] mais ansioso por entregas. Porque uma coisa é um jovem de 50 e poucos anos que chega pela 1ª vez à Presidência. Outra coisa é um senhor que já viveu tudo o que ele viveu. (…) Outra coisa que eu sentia, e que não vejo mais, é que ele tinha uma certa mágoa, sabe? Dos amigos que sumiram no momento difícil. Mas isso também foi se diluindo”;
- Janja – “Acredito piamente que a Janja [Lula da Silva, primeira-dama] faz bem para o Lula, quer o bem do Lula, quer participar, como qualquer pessoa no lugar dela gostaria. Respeita o trabalho dos ministros. Os 2 estão sempre juntos, bem. É um clima bom”;
- religião – “Família Bolsonaro Está muito longe de qualquer valor religioso (…) O presidente [Lula] é um homem religioso. Mas tem uma cultura democrática. Ele não bota a religião no palanque. Ele acha de mau gosto, e péssimo do ponto de vista político, usar isso em proveito próprio”;
- extrema-direita – “Eu lamento dizer que considero o Bolsonaro uma boa tradução do que muita gente pensa no Brasil. Eu lamento porque me choca que isso [organização da extrema-direita] tenha se dado em torno dessa figura que tem uma mentalidade muito arcaica, quase medieval”.