O coordenador de Inteligência da PRF (Polícia Rodoviária Federal) durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Adiel Pereira Alcântara, afirmou em depoimento no STF (Supremo Tribunal Federal) nesta 2ª feira (19.mai.2025) que o então diretor de Operações da corporação, Djairlon Henrique Moura, ordenou que o órgão reforçasse as abordagens de ônibus e vans durante as eleições presidenciais de 2022 –vencidas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Alcântara foi indicado pela PGR (Procuradoria Geral da República) como testemunha de acusação no julgamento por tentativa de golpe em 2022. A 1ª Turma do STF (Supremo Tribunal Federal) deu início aos depoimentos do núcleo 1 nesta 2ª feira (19.mai). Bolsonaro e o ex-diretor-geral da PRF Silvinei Vasques são réus.
Segundo o ex-coordenador, o diretor de Operações queria que a área em que ele atuava ajudasse a abordar veículos que tinham como destino o Nordeste, reduto eleitoral de Lula.
“Dentre as pautas que foram discutidas na reunião, o inspetor Djairlon, que era o diretor de Operações, ele pediu um apoio ao diretor de Inteligência, inspetor Reischak [Luis Carlos Reischak Junior], para que a Inteligência apoiasse a área de Operações no indicativo de abordagens de ônibus e vans que tinham como origem os Estados de Goiás, São Paulo, Minas e Rio de Janeiro e destino no Nordeste”, disse.
Ele afirmou ainda que, quando questionou o motivo da abordagem mirar só os veículos que tinham como destino a região, ouviu como justificativa que esses Estados tinham alta incidência de acidentes no período.
“Eu não me convenci e transpareci que eu achei estranho aquela ordem. E aí ele falou, não sei qual foi o contexto que ele falou, mas ele falou mais ou menos o seguinte: ‘Tem coisas que são, e tem coisas que parecem ser. Está na hora de a PRF tomar lado. A gente tem que fazer jus às funções de direção e aquilo era uma determinação do diretor-geral [Silvinei Vasques]”, declarou.
RELEMBRE O CASO
Durante o 2º turno das eleições presidenciais de 2022, em 30 de outubro, a PRF realizou blitzes em algumas localidades do Nordeste.
As ações desrespeitaram a determinação do então presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Alexandre de Moraes, que havia proibido a corporação de realizar operações que pudessem atrapalhar as votações e são acusadas de tentar impedir os eleitores do petista de votar.
Segundo a Justiça Eleitoral, a intervenção atrasou eleitores naquelas eleições.
TESTEMUNHAS
A 1ª Turma do STF iniciou os depoimentos do núcleo 1 nesta 2ª feira (19.mai). As audiências são realizadas por videoconferência e não haverá transmissão oficial.
A imprensa acompanha depoimentos por meio de um telão instalado na sala da 1ª Turma do STF. Mas os jornalistas estão proibidos de realizar qualquer tipo de gravação.
Fazem parte do núcleo 1, além de Bolsonaro:
- Walter Braga Netto, general do Exército, ex-ministro e vice de Bolsonaro na chapa das eleições de 2022;
- general Augusto Heleno, ex-ministro de Segurança Institucional;
- Alexandre Ramagem, ex-diretor da Abin (Agência Brasileira de Inteligência);
- Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança do Distrito Federal;
- Almir Garnier, ex-comandante da Marinha;
- Paulo Sérgio Nogueira, general do Exército e ex-ministro da Defesa.
Ao todo, 82 testemunhas devem ser ouvidas. Entre os nomes estão os ex-comandantes das Forças Armadas Marco Antônio Freire Gomes (Exército) e Carlos de Almeida Baptista Júnior (Aeronáutica), além do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).