Apesar do esforço do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em rever despesas públicas, a presidente do PT (Partido dos Trabalhadores), deputada Gleisi Hoffmann (PT-PR), intensificou as críticas nos últimos dias às medidas que revisam gastos com benefícios sociais e trabalhistas. Disse que a crise fiscal tratada pela mídia é “inexistente”. Também reclamou da falta de atuação do BC (Banco Central) para reduzir a cotação do dólar.
Gleisi disse que a economia está crescendo e os fundamentos estão “em ordem”. Defendeu que o investimento na indústria, o aumento do emprego e a alta na renda dos trabalhadores não “satisfaz a voracidade dos mercados que a mídia vocaliza”.
Haddad teve reunião na 2ª feira (4.nov.2024) com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e outros ministros para tratar sobre medidas que estabelecem um teto de gastos para despesas obrigatórias, como o BPC (Benefício de Prestação Continuada), o seguro-desemprego e o abono salarial. Declarou que irá entregar o conjunto de ações nesta semana.
Há estudos na equipe econômica para definir limites também para gastos com educação e saúde. Os ministros Camilo Santana (Educação) e Nísia Trindade (Saúde) participaram do encontro no Palácio do Planalto.
A pedido de Lula, Haddad cancelou a viagem que faria para a Europa para discutir temas do G20 (grupo das 20 maiores economias do mundo) nesta semana. O dólar comercial bateu R$ 5,87 na 6ª feira (1º.nov.2024) –perto do recorde da pandemia– com a notícia de que o pacote de revisão de gastos seria adiado.
Gleisi defende que o Banco Central deveria intervir no câmbio para reduzir a cotação. Disse que, no governo Jair Bolsonaro (PL), a autoridade monetária atuou 127 vezes para segurar a alta da moeda, enquanto foram duas no governo Lula. Criticado, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, declarou que só haverá intervenção quando houver disfuncionalidade no mercado de câmbio.
Gleisi fez 4 publicações de 2ª feira (4.nov.2024) a 3ª feira (5.nov.2024). Reclamou da abordagem da mídia sobre o corte “nos investimentos do governo e nas políticas públicas para o povo”. Disse que o único descontrole na economia não é o gasto público, mas os juros “estratosféricos”.
SELIC E CONTAS PÚBLICAS
O BC deverá subir de 10,75% para 11,25% a taxa básica, a Selic, na 4ª feira (6.nov.2024) para controlar a inflação e as expectativas dos agentes financeiros. O juro base elevado aumenta o endividamento público, mas um eventual afrouxamento monetário poderá ser mais prejudicial à economia por elevar os juros futuros e as projeções para o índice de preços.
As contas públicas tiveram deficit primário de quase R$ 100 bilhões de janeiro a agosto. O governo federal registra saldos negativos nas contas públicas desde 2014, com exceção de 2022. A expansão de gastos obrigatórios comprime outras despesas discricionárias defendidas pelo presidente Lula, como o PAC (Programa de Aceleração ao Crescimento).
Para Gleisi, há uma “chantagem aberta” dos agentes do mercado financeiro para criar expectativas falsas e irrealizáveis, “manipulando o câmbio, a bolsa e as decisões do BC”.
Em outra publicação, a presidente do PT disse que a mídia e “seus economistas” defendem cortar o orçamento do povo trabalhador e dos pobre. “Nada se fala dos juros estratosféricos, que vem aumentando a dívida, do sistema tributário injusto e concentrador de renda, das desonerações bilionárias. Dá uma tristeza!”, escreveu.
CRÍTICAS A JORNAIS
Gleisi fez críticas aos editoriais –opinião do jornal– da Folha de S.Paulo e O Globo. Declarou que os veículos de jornalismo exigem cortes na saúde, educação, seguro-desemprego e desvincular o BPC das aposentadorias e do salário mínimo.
Afirmou que a mídia é beneficiada com a desoneração da folha salarial, que custará, considerando todos os 17 setores que têm direito, R$ 55 bilhões de 2024 a 2027. “Que credibilidade têm os jornais, que se beneficiam de uma injustíssima e danosa isenção de impostos? Sobre essa desoneração eles se calam, né?”, questionou.
INTERVENÇÃO NO CÂMBIO
Gleisi disse que vender dólares quando a cotação sobe é o instrumento “clássico” dos bancos centrais para conter a especulação. Em junho, quando a cotação da moeda estava próxima de R$ 5,52, Campos Neto declarou que uma intervenção pontual no mercado de câmbio teria pouca efetividade, porque a desvalorização do real simbolizava “preços de risco Brasil” e piora nos prêmios de riscos.
A presidente do PT disse que é “criminoso” o que tem sido feito no Brasil. “Agora responda se o dólar dispara por conta de uma crise fiscal inexistente ou pela sabotagem de Campos Neto”, declarou Gleisi.
As pressões de Gleisi à autoridade monetária deixam dúvidas sobre o comportamento do BC sob comando de Gabriel Galípolo em 2025. Indicado pelo presidente Lula, o futuro presidente da autoridade monetária já disse que intervenções no mercado cambial são decididas a partir de métricas e da discussão entre todos os diretores. A maioria dos diretores serão de indicação de Lula a partir de 2025.