A primeira-dama Janja Lula da Silva disse na noite de 4ª feira (24.jul.2024) que a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza poderá ser um instrumento efetivo para a construção de uma sociedade mais igualitária. A iniciativa envolve um compromisso internacional para a mobilização de apoio político, recursos financeiros e conhecimento técnico com o objetivo de disseminar políticas públicas e tecnologias sociais eficazes para combater a insegurança alimentar no mundo.
Janja falou sobre o tema durante as atividades que ocorrem no Rio nesta semana, organizadas pela presidência brasileira no G20.
O painel do qual Janja fez parte foi chamado de “Políticas Públicas de Combate à Fome e à Pobreza: Empoderando Mulheres e Meninas para o Desenvolvimento Sustentável”. Foi realizado no Galpão da Cidadania, sede da organização não governamental Ação da Cidadania. Fundada pelo sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, a instituição é um ator central na mobilização nacional contra a fome desde a década de 1990.
Mais cedo, Janja esteve presente no lançamento da força-tarefa para a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, conduzido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Na ocasião, o chefe do Executivo brasileiro disse que o sucesso da iniciativa depende da vontade política dos governantes.
“A fome não resulta apenas de fatores externos. Ela decorre, sobretudo, de escolhas políticas. Hoje o mundo produz alimentos mais do que suficientes para erradicá-la. O que falta é criar condições de acesso aos alimentos”, afirmou Lula.
A expectativa é de que a Aliança Global contribua na promoção de ações como:
- transferência de renda;
- alimentação escolar;
- cadastro de famílias vulneráveis;
- apoio à 1ª infância;
- apoio à agricultura familiar;
- assistência social;
- protagonismo das mulheres; e
- inclusão socioeconômica e produtiva, entre outras questões.
A proposta brasileira também a taxação dos super-ricos para financiar medidas. O governo Lula tem realizado reuniões e costurado apoios. A iniciativa foi elogiada pelo presidente do Banco Mundial, Ajay Banga.
“Será um arcabouço de conhecimento e de novas tecnologias para que a gente possa reunir as políticas públicas de sucesso ao redor do mundo. E o Brasil, graças à visão política do presidente Lula voltada para o combate à desigualdade, formulou políticas públicas que hoje são políticas que já estão na estrutura do Estado brasileiro”, disse Janja.
Usando um vestido produzido por bordadeiras de Bangladesh, a primeira-dama do Brasil afirmou que fazia uma homenagem, considerando que o país asiático foi o 1º a aderir à Aliança Global proposta pelo Brasil. Disse que estará na linha de frente da articulação da iniciativa e que aproveitará a oportunidade de estar em Paris nos próximos dias para tratar do assunto com autoridades políticas francesas. Janja viaja à capital da França para representar o presidente Lula na abertura dos Jogos Olímpicos, que ocorrerá na 6ª feira (26.jul).
“O educador Paulo Freire cunhou um verbo que eu não sei como o pessoal vai traduzir em inglês: esperançar. E o lançamento da Aliança Global no dia de hoje nos faz sentir o verbo. Aquece o coração da gente, porque sabemos que a Aliança Global pode ser efetivamente um instrumento para uma sociedade mais justa e igualitária”, acrescentou.
A primeira-dama observou que o Brasil consagra o direito universal à alimentação escolar e destacou o sucesso do programa Bolsa Família, lembrando que as maiores beneficiárias são mulheres chefes de família. Segundo Janja, mulheres e meninas são as principais afetadas pela pobreza.
A primeira-dama lamentou ainda que em 2022, durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o Brasil tenha sido incluído novamente do Mapa da Fome da ONU (Organização das Nações Unidas). Segundo ela, o país precisa trilhar novamente um caminho que já havia ficado para trás.
Em todo o Brasil, 14,7 milhões de pessoas deixaram de passar fome em 2023. A insegurança alimentar severa, que atingia 17,2 milhões de brasileiros em 2022, caiu para 2,5 milhões no ano passado. Os dados fazem parte do Sofi 2024 (relatório das Nações Unidas sobre o Estado da Insegurança Alimentar Mundial), divulgado na 4ª feira (24.jul).
As 19 maiores economias do mundo, bem como a UE (União Europeia) e mais recentemente a União Africana, têm assento no G20. O grupo se consolidou como foro global de diálogo e coordenação sobre temas econômicos, sociais, de desenvolvimento e de cooperação internacional.
Em dezembro de 2023, o Brasil sucedeu a Índia na presidência do G20. É a 1ª vez que o país assume essa posição no atual formato do grupo das 20 maiores economias do mundo, estabelecido em 2008. No fim do ano, o Rio de Janeiro sediará a Cúpula do G20, e a presidência do grupo será transferida para a África do Sul.
A construção da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza é uma das prioridades do mandato brasileiro. O lançamento da força-tarefa é o 1º passo. O anúncio oficial da iniciativa vai ocorrer durante a Cúpula do G20, em novembro.
Painel
Demais participantes do painel “Políticas Públicas de Combate à Fome e à Pobreza: Empoderando Mulheres e Meninas para o Desenvolvimento Sustentável” endossaram a proposta brasileira.
“Se nós juntarmos forças, penso que a comunidade internacional pode combater a pobreza. É uma questão, sim, de vontade política. E estou convencida de que precisamos colocar as mulheres e as meninas como foco principal”, disse a comissária da União Europeia para Parcerias Internacionais, Jutta Urpilainen.
Segundo ela, em 2025, 85% das ações da UE terão algum componente de gênero. Urpilainen avaliou que “as mulheres são o rosto da mudança climática” e destacou a doação recém-anunciada de € 20 milhões para o Fundo Amazônia, que é gerido pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
Para a diretora do WFP (Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas, na sigla em inglês), Cindy McCain, o fomento de programas de alimentação escolar tem impactos positivos para as comunidades e faz diferença na vida das crianças. “A priorização da refeição das escolas na Aliança Global é muito importante”, declarou.
Já Elisabetta Recine, presidente do Consea (Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional da Presidência da República), destacou a capacidade que as organizações comunitárias têm de apresentar soluções. Em sua visão, o sucesso dos programas brasileiros é também fruto do exercício de ouvir as comunidades, que “trouxeram para dentro da discussão da política pública não só o pedido e a demanda, mas também a experiência e a solução”.
Recine cobrou mudanças na arquitetura do financiamento para ações de combate à pobreza no mundo. Segundo ela, instituições financeiras, como o Banco Mundial, precisam ter sensibilidade para lidar com a questão. “Não é uma coincidência que os países que dedicam mais esforços para a questão da dívida são também são os países com mais desigualdade”, disse.
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Com informações da Agência Brasil.