Jair Bolsonaro, em Brasília –
Estudo em parceria com a Fundação Mozilla e a Universidade de Exeter analisou mais de 30 mil vídeos durante o período eleitoral
Vídeos de canais bolsonaristas foram os mais recomendados no YouTube no ano passado, durante o período eleitoral. Essa é a principal conclusão de uma pesquisa realizada pelo Instituto Vero, a Fundação Mozilla e a Universidade de Exeter, na Inglaterra.
O levantamento analisou mais de 30 mil vídeos de conteúdo político disponibilizados no YouTube entre os dias 10 de outubro e 30 de novembro. Desse total, os pesquisadores identificaram cinco grupos de canais centrais, que mais se conectavam entre si e que mais recebiam recomendações.
“Mesmo que você estivesse vendo um vídeo pró-Lula, ainda assim, existia uma boa chance de a plataforma te recomendar um vídeo bolsonarista. A cada três recomendações do YouTube [de conteúdo político], um deles iria para vídeos de canais bolsonaristas”, explica Chico Camargo, coordenador do projeto e professor de Ciência da Computação na Universidade de Exeter.
Já o grupo A, que concentrou o canal oficial de Lula (PT) e de mídias tradicionais com certo viés anti-bolsonarista, como Greg News, Poder 360 e Carta Capital, recebia em torno de 10% das recomendações entre todos os avaliados.
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A pesquisa destaca ainda que essa diferenciação se deu mesmo com um número de vídeos pró (2.752) e anti-Bolsonaro (2.911) equilibrado. “A maior parte das recomendações de todos os grupos aponta diretamente para o Grupo B [de Bolsonaro]”, diz a pesquisa.
Outra conclusão do estudo é que, além dos canais que são conectados pelo sistema de recomendações do YouTube, há uma segunda rede que funciona a partir do boca a boca. “É quando um canal recomenda, falando no próprio vídeo, o próximo que o espectador deve assistir”, explica Beatrice Bonami, head de Ciência e Inovação do Instituto Vero.
Ela afirma que essa segunda rede funciona a partir de uma coordenação de discurso e narrativa entre múltiplos atores. Embora os pesquisadores tenham observado esse tipo de ação mais do lado bolsonarista, eles ponderam que seriam necessários estudos mais aprofundados sobre o tema —e que, inclusive, já foram iniciados em uma segunda parte do trabalho.
O levantamento também transcreveu tudo o que foi dito nos cerca de 30 mil vídeos analisados. Todo esse material foi agrupado em grandes temas considerados relevantes para o estudo. Foram eles: Ameaças à Democracia, Candidatos/Eleições, Políticas Públicas, Religião e Outros.
O gruo B (de canais bolsonaristas) foi também o que concentrou a maior parte dos vídeos (25%) com assuntos relacionados ao tema ameaça à democracia, como fraudes nas urnas e acusações de corrupção. “A gente conseguiu observar que esses vídeos que colocavam em dúvida a legitimidade do processo eleitoral seguiam uma receita pronta para comunicar esse conteúdo de forma a inflamar o espectador”, explica Bonami, da Vero.
A pesquisa foi realizada com a participação de 65 voluntários anônimos. Foi utilizada uma extensão criada pela Universidade de Exeter com a Mozilla, em que os participantes marcavam os vídeos que viam no YouTube e que consideravam políticos.
Neste processo, mais de 1.200 vídeos foram apontados como políticos. A ferramenta também detectava quais vídeos eram recomendados a partir desses assinalados pelos voluntários, somando um total de 30 mil vídeos analisados.
Em uma terceira etapa, os pesquisadores selecionaram também vídeos no YouTube a partir de buscas feitas com palavras-chaves relacionadas ao tema eleitoral, como Congresso e urnas.
“O nosso objetivo era montar uma espécie de mapa para entender essas conexões entre os vídeos”, explica Chico Camargo.
Para ele, o estudo deixa claro também a importância do YouTube nas eleições. “A plataforma é o novo horário eleitoral. Até mesmo canais que inicialmente consideramos entretenimento, como podcasts, viraram um lugar de campanha, de palanque”, observa ele.
PIPOCA
A cineasta Paula Gaitán recebeu convidados na abertura da mostra “Umbigo do Sonho — O Cinema de Paula Gaitán”, no Cinesesc, em São Paulo, na semana passada. A programação tem curadoria da cantora Ava Rocha, filha da diretora. O cantor Kiko Dinucci passou por lá.