A ausência do presidente da Argentina, Javier Milei (La Libertad Avanza, direita), não deve esvaziar a cúpula de líderes do Mercosul, segundo o Itamaraty. O encontro será realizado em Assunção, capital do Paraguai, em 7 e 8 de julho. Milei participará do Cpac, um evento conservador promovido no Brasil.
Segundo a secretária para a América Latina e o Caribe, Gisela Maria Figueiredo Padovan, a falta é “lamentável”, mas encontro seguirá como previsto com a assinatura de acordos e demais agendas.
Trata-se da 1ª vez que um presidente de um país integrante não atende ao evento. O governo da Argentina enviará a ministra das Relações Exteriores, Diana Mondino, como representante.
“A gente lamenta, é a 1ª vez que isso acontece e não é desejável q isso aconteça. Mas o Mercosul em si tem a vantagem de ser um mecanismo muito consolidado, tem 33 anos de história. É lamentável um presidente não ir, mas a decisão é sobrerana, então não temos nenhum comentário maior a fazer”, disse Padovan.
Sobre a presença de Javier Milei no Cpac 2024 –um evento conservador que terá a presença de figuras da oposição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)– a embaixadora disse que o Itamaraty não comentaria, pois não houve nenhuma confirmação oficial do governo argentino.
Milei participará de um dos painéis do evento realizado em 6 e 7 de julho. O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) também estará na convenção e se encontrará com o presidente argentino. Apesar da movimentação, a Casa Rosada negou que tenha relação com os recentes atritos entre o libertário e Lula.
A recente tensão entre Lula e Milei começou quando o presidente brasileiro exigiu um “pedido de desculpas” depois que o argentino o chamou de “corrupto”.
Em 28 de junho, Milei voltou a criticar o brasileiro em entrevista à La Nacion: “As coisas que eu disse por cima são verdadeiras, qual o problema de chamá-lo de corrupto? Por acaso não foi preso por corrupção?”.
Depois, na última 3ª feira (2.jul), Milei chamou Lula de “comunista” e o acusou de interferência nas eleições da Argentina. O petista apoiou a candidatura de Sergio Massa, rival do atual presidente derrotado no 2º turno.
MILEI E A BOLÍVIA
Além do estremecimento das relações com o presidente brasileiro, comentários de Javier Milei levaram a uma instabilidade diplomática com a Bolívia. O país deve oficializar a entrada no Mercosul durante a cúpula de líderes.
Dias depois de militares ocuparem a Praça Murillo, em La Paz, o governo da Argentina divulgou um comunicado criticando a alegação de golpe, feita pelo presidente Luis Arce (Movimento ao Socialismo, esquerda), e sugerindo, sem provas, que o relato não era convincente dada a “situação sociopolítica boliviana”.
“O relato divulgado era pouco crível e os argumentos não se encaixavam no contexto sociopolítico do país latino-americano. O partido político governante controla o Poder Legislativo, o Poder Judiciário, o Poder Executivo e as Forças Armadas”, diz o comunicado argentino.
Em resposta, o governo Arce repudiou as declarações e convocou o embaixador argentino no país para prestar esclarecimentos.
Na sequência, Milei chamou a movimentação militar de “fraude montado” em uma publicação no seu perfil no X (ex-Twitter). No mesmo dia, o governo convocou o embaixador boliviano em Buenos Aires para consulta e publicou uma nova nota de repúdio acerca das declarações.