A deputada federal Silvia Waiãpi (PL-AP), que teve seu mandato cassado pelo TRE-AP (Tribunal Regional Eleitoral do Amapá) depois de supostamente pagar uma harmonização facial com dinheiro do Fundo Eleitoral das eleições de 2022, já foi atriz da TV Globo, atleta do Vasco da Gama e secretária durante o governo do ex-presidente Jair Boslonaro (PL).
Natural do Amapá, a congressista de 48 anos nasceu na aldeia Waiãpi, mas deixou a comunidade aos 4 anos depois de sofrer um acidente. Aos 13 anos, foi mãe, fugiu da aldeia e se mudou para o Rio. Foi entrevistada em 2012 pelo apresentador Jô Soares, quando contou sua história.
Na capital fluminense, foi moradora de rua antes de se tornar vendedora de livros usados. Trabalhou como artista e interpretou uma indígena na novela “Uga Uga”, da TV Globo, em 2000.
Depois, formou-se em fisioterapia e foi atleta do Vasco da Gama. Em 2011, tornou-se a 1ª mulher indígena a entrar no Exército.
Nas Forças Armadas, foi chefe do Serviço de Medicina Física e Reabilitação em Fisioterapia, segundo o seu perfil no LinkedIn.
Em 2019, a atual deputada assumiu como secretária da Saúde Indígena do Ministério da Saúde de Bolsonaro. Esteve no órgão até abril de 2020.
A congressista assumiu em 2021 como Conselheira Nacional de Promoção da Igualdade Racial do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, quando a atual senadora Damares Alves (Republicanos-DF) chefiava o órgão.
Em 2022, candidatou-se como deputada federal. Durante a campanha, integrou o “Mulheres com Bolsonaro”, ala feminina pela reeleição de Bolsonaro, ao lado da ex-primeira dama Michelle Bolsonaro e Damares. Foi uma dos 4 deputados de origem indígena eleitos naquele ano. Teve 5.435 votos.
Silvia Waiãpi foi investigada pela PF (Polícia Federal) por supostamente ter incitado os do 8 de Janeiro nas redes sociais. Ela compartilhou imagens dos prédios na Praça dos Três Poderes sendo invadidos com mensagens de apoio aos atos extremistas.
ATUAÇÃO NO CONGRESSO
Durante seu mandato, a congressista se envolveu em discussões e controvérsias.
Em abril de 2023, foi acusada de fazer uma declaração transfóbica durante uma comissão da Câmara. A fala de Waiãpi foi em resposta a um deputado, que afirmou que a cultura indígena passa por um “estelionato”, pois há pessoas que se dizem representantes dos povos originários, mas, na prática, não exercem esse papel.
Waiãpi rebateu dizendo que não precisa do aval do deputado sobre sua etnia e comparou a situação com a de mulheres transexuais. “Os senhores querem que eu aceite alguém que se autodeclara mulher, sem ser mulher, biologicamente um homem, e eu sou obrigada a aceitá-lo. Mas não querem me aceitar”, disse a congressista.
Em 2024, afirmou que foi excluída da Frente Parlamentar dos Povos Indígenas por questões ideológicas. Disse que foi vítima de preconceito porque ela não concorda em deixar os povos indígenas “isolados” e obrigados a “viver em 1500”.
ENTENDA O CASO
Na noite de 4ª feira (19.jun), o TRE-AP (Tribunal Regional Eleitoral do Amapá) cassou o mandato de Waiãpi. Ela é acusada de desviar R$ 9.000 para uma clínica odontológica onde teria feito harmonização facial.
A denúncia foi feita pela ex-coordenadora de campanha da deputada e conta com o depoimento do cirurgião-dentista que confirmou ter feito o procedimento e recebido o pagamento.
Ela teria feito duas transferências em 29 de agosto ao dentista, uma de R$ 2.000 e outra de R$ 7.000.
Nesta 5ª (20.jun), a deputada disse que soube da cassação pela imprensa e negou usar verba pública para fazer harmonização facial. Afirmou ainda que o recibo apresentado pela ex-coordenadora de campanha era “falso” e que a Justiça Eleitoral já havia aprovado as contas de sua campanha.
Assista (6m32s):
“Ela alega [a coordenadora de campanha] que esse tratamento, ela foi obrigada a pagar no dia 29 de agosto que, por coincidência, era o dia do meu aniversário, sendo que eu não estive no consultório deste dentista no dia 29. Eu estive no dia 30, levada por ela, para ele gravar um vídeo de apoio a minha candidatura”, disse Waiãpi.
A decisão não tem efeito imediato. Ao Poder360, a deputada disse que irá recorrer da decisão ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral).