O Brasil perdeu cerca de US$ 83,9 bilhões por causa das últimas 3 crises do setor elétrico nacional. Em estudo divulgado nesta 5ª feira (6.jun.2024), a Anace (Associação Nacional dos Consumidores de Energia) analisou os eventos ocorridos em 2001, 2013 e 2021 para ilustrar a necessidade do país se preparar para futuros desequilíbrios. Leia a íntegra do estudo (PDF – 2 MB).
A crise registrada em 2013, durante a presidência de Dilma Rousseff (PT) foi o mais custosa aos cofres da União e, consequentemente, ao bolso dos consumidores. O problema surgiu a partir do atraso do período úmido no final de 2012 e, quando ele finalmente começou, as vazões foram anormalmente baixas e os reservatórios de hidrelétricas registraram índices críticos. Os custos apresentados no estudo foram convertidos para dólar pelo câmbio da época. O Poder360 atualizou os números pela inflação.
Para contornar a crise dos reservatórios, o governo realizou a contratação de usinas térmicas para balancear a oferta com a demanda de energia. O custo total para remediar os efeitos foi de US$ 47,7 bilhões ao longo de 4 anos. A maior parte (US$ 43,4 bilhões) foi relativa à remuneração das usinas termelétricas despachadas para cobrir o deficit de geração hidrelétrica.
Outro aspecto que resultou em um custo alto na crise de 2013 foi a falta de adoção de uma política de racionamento de energia. No 1º evento de grande escala em 2001, no qual uma crise foi desencadeada pela expansão insuficiente da geração combinada com a escassez de recursos hídricos no período, o governo instituiu o Programa de Racionalização do Uso de Energia Elétrica.
A Anace afirmou que o programa foi fundamental para aumentar a conscientização da população sobre a importância de economizar eletricidade e racionalizar o consumo. Contudo, na crise seguinte, o governo não implementou diretrizes de racionamento de energia e o resultado foi que a demanda foi suprida com os contratos inflexíveis das térmicas.
O cenário se repetiu em 2021, já no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Assim como em 2013, a crise da década seguinte foi motivada por queda nos níveis dos reservatórios hídricos, que novamente motivaram a contratação de térmicas emergenciais.
A crise de 2021 ainda foi agravada por uma falta de capacidade de geração para atender à demanda. Esse cenário inédito se formou por causa do aumento de fontes renováveis variáveis, como solar e eólicas, na matriz elétrica brasileira. Essas fontes agregam energia ao sistema, mas pouca capacidade assegurada, que se somou à queda do nível de armazenagem relativo dos reservatórios hidrelétricos.
Para conter a falta de capacidade, o governo adotou algumas medidas para a redução de consumo, como ações de incentivo a redução voluntária de energia dos consumidores e metas de redução de consumo em prédios públicos. Outra estratégia que mitigou os efeitos da crise foi a bandeira tarifária da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), instituído em 2015.
As bandeiras eram determinadas em níveis suficientes para que os aumentos tarifários cobrissem os custos adicionais de operação do sistema sob condições hidrológicas desfavoráveis, com o custo de combustível para geração térmica sendo o maior deles. O custo total da crise foi de US$ 23,6 bilhões.
Na avaliação da Anace, as crises no setor elétrico tem ficado mais frequentes, o que demanda um estado permanente de monitoramento para antecipar os efeitos desses eventos.
A associação afirmou que a contratação de térmicas em modelos mais flexíveis, antevendo crises, e campanhas educativas que incentivem a redução do consumo em horários de pico são algumas das medidas que o governo pode adotar para mitigar os custos de novos eventos críticos no setor energético.
“Foi verificado que muitas ações que se mostraram fundamentais para o gerenciamento das três últimas crises no Brasil muitas vezes são implementadas só durante as crises. O governo deve não só gerenciar a crise e identificar as melhores práticas enquanto ela acontece, mas também antecipar a sua manifestação e prolongar as ações durante o pós-crise, a fim de minimizar ao máximo os custos para sociedade”, diz o estudo.