A oficialização da saída de Paulo Pimenta da Secom (Secretaria de Comunicação Social) para assumir a recém-criada Secretaria Extraordinária de Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul acirrará a disputa por influência na comunicação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), um dos setores com pior avaliação interna no governo.
A mudança também retomou, nos bastidores, a pressão pela troca de comando na área. O jornalista Laércio Portela, que já era da equipe de Pimenta na Secom, assumiu o ministério de forma interina.
Portela é descrito por assessores como alguém sem perfil político e mais conhecido nos bastidores. Por isso, sua escolha é vista como alguém que não deverá ser efetivado no lugar de Pimenta e que permitirá ao ministro manter poder sobre a comunicação.
Desde o início da nova gestão petista, o trio composto pela primeira-dama, Janja Lula da Silva, pelo fotógrafo e secretário de Audiovisual, Ricardo Stuckert, e pelo secretário de Imprensa, José Chrispiniano, tem disputado espaço nas decisões sobre a divulgação dos atos do Executivo federal, mas, principalmente, da imagem do presidente.
Sob a gestão de Pimenta, a comunicação do governo patinou nas estratégias e no posicionamento nas redes sociais. O mau desempenho do governo no setor tem sido alvo de críticas de Lula –o próprio presidente tem atribuído publicamente à área a queda na sua popularidade. Em 2023, houve uma fracassada tentativa de fazer lives, mas o petista teve baixíssima audiência e abandonou a estratégia.
Como o Poder360 mostrou em março, os 3 têm divergências sobre as estratégias de condução da comunicação do governo federal e de Lula. O monopólio sobre os perfis pessoais do presidente no X (antigo Twitter) e no Instagram virou alvo de uma disputa entre Janja e os 2 assessores, que são do grupo mais próximo ao petista.
Desde que as fortes chuvas no Rio Grande do Sul provocaram uma tragédia inaudita no Estado, com enchentes que destruíram cidades inteiras, Lula reclamou que as ações do governo federal não foram devidamente reconhecidas pela população gaúcha.
Também é recorrente a reclamação do presidente sobre anúncios descoordenados entre os ministérios. Na reunião ministerial de março, Lula disse que nenhuma medida deveria ser anunciada por seus ministros sem consultarem antes a Casa Civil.
Na 2ª feira (13.mai.2024), voltou a cobrar de seus auxiliares coesão na divulgação de medidas para o Rio Grande do Sul. “Cada ministro que for falar, ou cada ministra, tentar falar sempre a mesma coisa que está acontecendo, não ficar dizendo quando não está acontecendo ou ficar inventando coisa que ainda não discutiu […] Uma ideia é um instrumento de conversas do governo para que a gente transforme a ideia em uma política real. Não é cada um dá sua ideia e vai falando o que vai fazer, porque isso termina não construindo uma política pública sólida e uma atuação muito homogênea do governo no caso do Rio Grande do Sul”, disse Lula na ocasião.
Em 2 de abril, Pimenta chegou a fazer uma reunião com os secretários-executivos dos ministérios e seus respectivos secretários de comunicação social para traçar estratégias mais unitárias para o 1º escalão do Executivo federal.
Outro fator que preocupa o presidente é a estagnação da sua popularidade. Embora pesquisas registrem eventuais aumentos em sua aprovação ou do seu governo, Lula não conseguiu sair de um patamar semelhante ao resultado que o elegeu em 2022, quando venceu Jair Bolsonaro (PL) por uma margem mínima de votos (50,9% a 49,1%).
O trio que atuará na prática na comunicação do governo terá dificuldade em lidar com a queda de popularidade de Lula, já que há divergências.
Stuckert é responsável pelo perfil pessoal de Lula no Instagram e comandou a operação de imagem do petista durante a campanha em 2022. Chrispiniano é o responsável pelo perfil do chefe do Executivo no X (antigo Twitter). Janja é próxima da secretária de Estratégia e Redes da Secom, Brunna Rosa, e quer que ela assuma o controle das contas pessoais do presidente nas redes sociais
Procurados, Janja e Stuckert não responderam à reportagem. Chrispiniano disse: “Eu não conheço essa disputa e não estava nem estou disputando nada com ninguém”.
PIMENTA NO RIO GRANDE DO SUL
Como ministro da reconstrução, Paulo Pimenta irá coordenar as ações do governo federal no Rio Grande do Sul. Sua nova função existirá até 2 meses após o encerramento do estado de calamidade pública no Estado, que se dá em 31 de dezembro de 2024. Portanto, poderá ficar no cargo até fevereiro de 2025.
O ministro pretende vir à Brasília no início da semana e voltar aos municípios gaúchos nos outros dias. A rotina permitirá que ele continue participando de reuniões com o presidente e com outros ministros do governo. A movimentação também é vista como uma forma de não se afastar definitivamente da Secom.
No sábado (18.mai.2024), ele participou de uma reunião e de um almoço com Lula no Palácio da Alvorada. Ao lado do ministro Waldez Góes (Integração e Desenvolvimento Regional), fez um balanço da situação das cidades no Rio Grande do Sul.
Deputado federal licenciado, Pimenta é gaúcho e desde o início da tragédia no Estado tem sido o principal interlocutor do Executivo federal com o governo estadual, comandado por Eduardo Leite (PSDB), de oposição ao governo Lula.
Há uma desconfiança de que sua permanência no Rio Grande do Sul poderá politizar as ações emergenciais e de reconstrução do Estado porque Pimenta é apontado como pré-candidato ao governo gaúcho em 2026. Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, o ministro minimizou a questão política, disse ter votado em Leite em 2022 e que o PT foi fundamental para a vitória do tucano.