O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) quer que petistas históricos defenestrados pelo Mensalão e pela Lava Jato retornem ao jogo político em 2026. O chefe do Executivo conversou pessoalmente ou enviou emissários para discutir as eventuais candidaturas de José Dirceu, João Paulo Cunha, Delúbio Soares e José Genoíno a deputados federais nas próximas eleições majoritárias.
Lula quer reabilitar os antigos companheiros de seus 2 governos anteriores (2003-2010) para reforçar o apoio no Congresso em uma eventual reeleição. O presidente está incomodado com a qualidade da base aliada e avalia que é preciso ter de volta uma “tropa de choque” mais preparada, tanto na campanha eleitoral quanto na Câmara.
A ainda incerta eleição dos correligionários é também vista por Lula como parte da reabilitação política do seu grupo, fortemente atingido pelos 2 maiores casos de corrupção de seus primeiros governos. Para o presidente, os processos já passaram e não são mais óbices para trazer antigos companheiros para o seu lado.
O movimento de Lula se contrapõe ao pleito de algumas alas do PT que desejam renovar os quadros nas próximas eleições. Há uma crítica interna de que o partido depende muito da figura do presidente e tem poucos nomes realmente competitivos no cenário nacional.
Um dos únicos citados como possível sucessor de Lula, por exemplo, é o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Além dele, não há outro nome consensual na legenda. Fato é que o petista não identificou até agora políticos muito habilidosos nas safras mais jovens do partido.
O Poder360 procurou a Secom (Secretaria de Comunicação Social da Presidência) para oferecer espaço para eventuais comentários do presidente. Em resposta, a Secom disse que a informação não procede. “O presidente Lula não comentou nem se ocupou de quem quer ou não quer ser candidato em 2026”, diz mensagem encaminhada pela assessoria.
O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, um dos principais líderes históricos do PT, mostrou força nas últimas semanas ao reunir políticos graúdos como o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), em sua festa de aniversário de 78 anos, em Brasília, em 14 de março.
Disputou também os holofotes com o presidente na festa de 44 anos do PT, realizada em 20 de março na capital federal. Durante toda a noite posou para fotos e foi assediado por correligionários. Lula e Dirceu, porém, não se encontraram publicamente no evento.
O ex-ministro foi um dos poucos petistas graúdos a comparecer aos atos esvaziados organizados por movimentos de esquerda no sábado (23.mar.2024) para marcar os 60 anos do golpe militar de 1964 e para pressionar contra uma eventual anistia a envolvidos no 8 de Janeiro. Ele esteve no Largo de São Francisco, no centro de São Paulo, mas não chegou a subir no carro de som ou a discursar.
Gravou um vídeo falando sobre a manifestação. Assista (1min29s):
Com o protagonismo de Dirceu nas últimas semanas, uma candidatura sua a deputado federal foi incensada por diversos políticos aliados. Em seu aniversário, por exemplo, o ex-deputado federal Silvio Costa (Republicanos-PE) disse a vários convidados que “se Zé Dirceu for candidato a deputado federal em 2026 em São Paulo terá de 500 mil a 800 mil votos”.
O ex-ministro, no entanto, tem dito que não pretende disputar um cargo eletivo. Na mesma mesa de Costa, Dirceu balançou a mão e disse que não pensa nisso. A negativa, no entanto, é vista com descrédito por correligionários, que, segundo o Poder360 apurou, já trabalham por uma candidatura.
Pesam sobre o ex-ministro, porém, pendências judiciais. Em janeiro, a defesa de Dirceu apresentou uma petição ao ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes para reverter duas condenações na Lava Jato. O argumento é de que há provas suficientes de que o ex-juiz Sergio Moro e o ex-promotor Deltan Dallangnol não tinham isenção para investigar e julgar Dirceu, além de terem agido politicamente no caso. Se o processo for anulado, o petista recupera seus direitos políticos e passa a poder se candidatar em 2026.
O ex-presidente da Câmara dos Deputados (2003-2004) João Paulo Cunha ainda trafega mais nos bastidores, mas voltou, há algum tempo, a ter prestígio partidário e político na capital federal. Advogado, comanda seu escritório em Brasília e em São Paulo. É visto como um dos mais influentes na capital federal. O ex-deputado foi um dos que prestigiou o aniversário de Dirceu em Brasília, mas faltou ao aniversário do PT.
João Paulo foi condenado a 6 anos e 4 meses por corrupção passiva e peculato no processo do Mensalão. Passou 1 ano preso na Papuda, em Brasília, de 2014 a 2015. Teve sua pena indultada pela então presidente Dilma Rousseff (PT) em 2015 com a chancela do STF em 2016.
Dirceu e João Paulo são tidos por petistas como os que têm maiores chances de vitória em 2026 por ainda terem uma base eleitoral em São Paulo. Ainda assim, há avaliação de alas do partido de que suas eventuais candidaturas podem ser exploradas negativamente pela oposição, que vai voltar a colar em Lula a pecha dos casos mais rumorosos de corrupção de seus governos anteriores.
Ainda que menos assediado que Dirceu, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares também foi um dos nomes mais comentados no aniversário do PT. Passou a noite em conversas com correligionários e teve seu nome citado amplamente pela mídia.
Sua volta ao cenário político se deu com o retorno de Lula ao Planalto no ano passado. Desde aquela época, passou a participar de eventos promovidos pelo partido e a circular pelas rodas políticas de Brasília. Ele havia sido condenado no Mensalão a 6 anos e 8 meses de prisão, mas em setembro de 2015 recebeu o direito à prisão domiciliar. No fim do mesmo ano, foi indultado por Dilma e teve o benefício chancelado pelo STF em 2016.
A situação eleitoral de Delúbio, porém, é vista como uma das mais complexas. O petista é de Goiás, Estado dominado pelo agronegócio e em que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) teve 58,71% dos votos válidos em 2022. O governador Ronaldo Caiado (União Brasil) é tido como potencial candidato à Presidência em 2026. Se entrar na disputa, de fato, rivalizará com Lula, caso o presidente tente a reeleição.
Já o ex-presidente do PT José Genoíno também voltou a ter uma atuação partidária mais intensa nos últimos anos. Tem participado de debates internos do PT e esteve na manifestação de sábado em São Paulo ao lado de Dirceu, mas também evitou discursar.
É irmão do líder do Governo, José Guimarães (PT-CE), e disputaria uma vaga na Câmara pelo Ceará, Estado em que Lula teve uma de suas mais expressivas votações em 2022, obtendo 69,97% dos votos válidos. Ele havia sido condenado no Mensalão a 4 anos e 8 meses de prisão, mas teve sua pena extinta pelo STF em 2015.