De ofensas a violências físicas, jornalistas no Brasil foram vítimas de 330 agressões durante 2023, segundo levantamento da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) divulgado na 3ª feira (26.mar.2024). O número é 40,7% menor do que o ano anterior, quando foram registrados 557 casos. Eis a íntegra do relatório (PDF – 15 MB).
Segundo a Abraji, os principais ataques no ano passado tiveram relação aos episódios do 8 de Janeiro. A pesquisadora Rafaela Sinderski, da associação, disse que profissionais da imprensa foram agredidos durante esses atos, inclusive de forma física. “Tiveram seus equipamentos destruídos, foram perseguidos e intimidados. Isso se refletiu nos nossos dados”, declarou.
A queda do número de violências em 2023, segundo avaliou a Abraji, tem relação com a alteração do cenário político e o fim do mandato de Jair Bolsonaro (PL).
Conforme Rafaela Sinderski, o mapeamento contabilizou que 38,2% dos casos registrados foram considerados episódios de violência grave. “São agressões físicas, ameaças de morte, de perseguição, de violência física”, disse a pesquisadora.
Outro tipo de violência, os discursos estigmatizantes, representou 47,2% dos casos. “São ofensas verbais e casos de campanhas de descredibilização de jornalistas, de meios de comunicação e da empresa com questões sociais e questões mais amplas”, declarou.
Segundo a pesquisa, 55,7% dos casos registrados em 2023 tiveram como agressores agentes estatais, que são funcionários públicos ou agentes políticos em mandato. “Isso é muito preocupante e grave. Principalmente quando são agentes políticos eleitos”, afirmou a pesquisadora.
Violência de gênero
A pesquisa indica que 52,1% dos ataques tiveram origem ou repercussão na internet. “É muito forte atacar a imprensa e jornalistas, principalmente quando são mulheres. As jornalistas sofrem muita violência on-line com discursos estigmatizantes nas redes sociais”, disse Rafaela.
O Distrito Federal foi o lugar onde houve mais violência contra jornalistas em 2023. “Foram registrados 82 ataques explícitos de gênero ou agressões contra mulheres jornalistas. E o que a gente entende por ataques explícitos de gênero”, afirmou a pesquisadora.
A entidade considera o número preocupante, mesmo havendo uma queda de 43,4% em relação a 2022. Esses ataques usam, por exemplo, questões ligadas à identidade de gênero, à sexualidade e à orientação sexual para atacar jornalistas.
Outras tendências, segundo a Abraji, se fortaleceram no último período analisado, como o aumento dos processos judiciais civis ou penais com o intuito de silenciar jornalistas, que chegaram a 7,9% do total de agressões, e o crescimento de agressões graves registradas na categoria de “agressões e ataques”.
Recomendações
A partir do que foi coletado, a Abraji recomendou que os poderes públicos reforcem políticas de proteção a jornalistas e comunicadores vítimas de ataques em razão do exercício da profissão. A entidade apontou que as plataformas de redes sociais devem desenvolver mecanismos para enfrentar a violência on-line que afeta jornalistas.
Às empresas jornalísticas, a associação pediu que sejam adotadas medidas de formação, prevenção e proteção para seus profissionais. Aos jornalistas, ficou a recomendação que não deixem de denunciar a agressões sofridas no exercício da profissão.
Com informações da Agência Brasil.