Enquanto o governo federal termina de desenhar os detalhes finais do plano de auxílio ao agronegócio brasileiro que enfrenta uma crise de preços e de produção, alguns critérios já foram definidos pelo setor. O 1º é que qualquer valor anunciado terá de vir de uma fonte nova. Não serão aceitas antecipações como forma de contornar a crise do setor.
“Precisamos saber de onde sai o valor. Tem que vir de fonte nova. Não adianta tirar do Plano Safra, do seguro rural ou fazer mudanças no Proagro. Estamos abertos a ajudar“, disse ao Poder360 o deputado Pedro Lupion (PP-PR), presidente da FPA (Frente Parlamentar da Agropecuária).
A soja, principal produto do agronegócio brasileiro, está com a sua menor cotação desde agosto de 2020. Em paralelo, há expectativa de redução na produção da commodity. Em 2023, o setor cresceu 15,1%.
A FPA reuniu 8 presidentes de comissão em encontro realizado na 3ª feira (12.mar.2024). Lupion anunciou apoio a pautas de interesse do setor, como a de impedir que pessoas acusadas de invasões sejam beneficiárias de programas sociais. Era uma demonstração de força para o governo. Eis os nomes de quem participou:
- Carol de Toni (PL-SC), presidente da Comissão de Constituição e Justiça;
- Vicentinho Júnior (PP-TO), presidente da Comissão de Agricultura;
- Alberto Fraga (PL-DF), presidente da Comissão de Segurança Pública;
- Danilo Forte (União Brasil-CE), presidente da Comissão de Desenvolvimento Econômico;
- Lucas Redecker (PSDB-RS), presidente da Comissão de Relações Exteriores;
- Lucas Ramos (PSB-PE), presidente da Comissão de Trabalho;
- Nikolas Ferreira (PL-MG), presidente da Comissão de Educação;
- Mário Negromonte Júnior (PP-BA), presidente da Comissão de Finanças e Tributação.
Viagens de Lula
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) começará uma nova rodada de visitas a Estados nesta 4ª feira (13.mar), onde inaugura uma fábrica de fertilizantes em Serra do Salitre, em Minas Gerais. Na 6ª feira (15.mar), vai a Porto Alegre (RS), onde também participará de eventos relacionados ao agronegócio. O tema se repetirá em viagens ao Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Tocantins e Goiás, que devem ser realizadas nas próximas semanas.
O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, disse ao Poder360 que haverá anúncios relacionados ao tema “em todos os Estados que [Lula] vai visitar”. Usar as viagens para se aproximar do setor faz parte de uma estratégia maior do governo de fazer com que o petista caia nas graças do agronegócio.
Em fevereiro, Fávaro disse que Lula retomaria o trabalho junto a empresários de diferentes setores do agronegócio. A ideia era dar aos segmentos acesso direto ao chefe do Executivo para conversar e apresentar demandas.
“No final do ano passado, nós começamos a trazer, aqui no Palácio [do Planalto], para conversar com ele, reivindicar, trocar ideias. Ele já pediu para retomar isso, já tem 3 setores da economia do agro que querem visitas com o presidente”, declarou o ministro em entrevista a jornalistas depois de reunião com Lula.
Dentre os setores que já pediram audiência com o presidente estão o de fruticultura, o de café e o de algodão.
Crise no agro
Os pedidos de recuperação judicial de proprietários rurais que atuam como pessoas físicas tiveram uma alta de 535% em 2023, com 127 solicitações, ante somente 20 em 2022. O levantamento foi feito pela Serasa Experian. Dentre o 3º e o 4º trimestre de 2023, o aumento foi de 62%.
No 4º trimestre, foram contabilizados 47 pedidos de recuperação. Em 2022, foram 4 no mesmo período. Os efeitos da seca para a safra de soja e os preços mais baixos do milho são apontados como fatores que contribuíram para afetar a rentabilidade do segmento.
A Serasa mostra que os produtores que mais fizeram solicitações foram os com maiores áreas de plantio de soja. Em seguida, vêm os que têm maiores áreas de pastagem e, depois, os cafeicultores.
O Estado que registrou o maior número de pedidos foi o Mato Grosso, com 43, seguido por Goiás (36), Minas Gerais (18) e Mato Grosso do Sul (10). Grandes proprietários agrícolas fizeram 35 solicitações em 2023 ante 5 no ano anterior. Já entre os arrendatários de terras foram 44 pedidos contra 8 no ano anterior.