O cantor Nasi, vocalista do Ira!, pediu desculpas aos colegas de banda por causa das perdas financeiras que tiveram com o cancelamento de shows por uma produtora. As apresentações foram canceladas depois que Nasi criticou a proposta de anistia aos envolvidos no 8 de Janeiro durante um show em Minas Gerais no dia 29 de março.
“Lamento, inclusive, me desculpo com meus companheiros, que um ato meu que eu não sabia que ia dar nesse quiproquó todo, fizesse com que eles tivessem perdas, mas a gente vai recuperar, como já está recuperando”, disse o artista.
Em vídeo que circula nas redes sociais, Nasi relatou que, em Contagem (MG), quando a banda tocou a música “Rubro Zorro”, “a maioria absoluta do público ficou gritando ‘sem anistia’”, em referência ao projeto de lei debatido na Câmara dos Deputados, articulado pelo PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Assista ao vídeo (2min45s):
SENTIU NO BOLSO : Nasi, da banda Ira!, diz respeitar conservadores após polêmica em show. Cantor, que se manifestou contra a anistia do 8 de janeiro, gravou pronunciamento se desculpando no qual lembra o episódio pic.twitter.com/KQ5LaoX5zF
— Piuigiron (@virais_video) April 23, 2025
“No final da música, eu ratifiquei a opinião deles, porque é assim que eu penso. Me solidarizei. Foi aí que um pequeno grupo, lá no fundo, vaiou. Não vaiou só a mim, mas vaiou o público”, prosseguiu o vocalista.
“Eu me manifestei aí sobre a manifestação deles. Falei que eles não entendiam a história do Ira!, mas acabei levando muita coisa para o pessoal.”
No show em Contagem, Nasi fez a seguinte declaração: “Para vocês que estão vaiando, eu vou falar uma coisa para vocês: tem gente que acompanha o Ira!, mas nunca entendeu o Ira! Nunca entendeu o Ira! Tem gente que acompanha a gente e é reacionário, tem gente que acompanha o Ira! e é bolsonarista, isso não tem nada a ver, gente! Por favor, vão embora! Vão embora da nossa vida! Vão embora e não apareçam mais em shows, não comprem nossos discos, não apareçam mais. É um pedido que eu faço.”
No vídeo, Nasi afirmou que não foi claro no final de seu discurso. “Eu me manifestei dizendo que pessoas reacionárias — aí que eu deveria ter enfatizado mais — não representam a banda”, disse.
O cantor disse que não tem “nada contra quem é conservador, quem é de direita democrática. A democracia é o nosso limite”, enfatizou, acrescentando respeitar “quem é conservador, quem é progressista e quem é liberal”. Segundo ele, “isso faz parte, são peças do tabuleiro do xadrez da política e da sociedade brasileira.”
Entenda o caso
A produtora 3LM Entretenimento cancelou apresentações do Ira! em cidades de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul depois de “inúmeros pedidos de cancelamentos de ingressos” e “desistência de patrocinadores”. O cancelamento foi uma reação à crítica do Nasi à anistia em Contagem.
“Devido aos últimos acontecimentos envolvendo a banda Ira!, não temos outra alternativa a não ser os cancelamentos dos shows”, disse a produtora em nota divulgada nas redes sociais em 9 de abril. O grupo se apresentaria em Jaraguá do Sul (SC), Blumenau (SC), Caxias do Sul (RS) e Pelotas (RS).
A produtora também criticou a manifestação política da banda no show, afirmando que os artistas “deveriam subir ao palco apenas para apresentar suas músicas e talentos”.
Assista ao vídeo da declaração de Nasi em Contagem (MG):
Partidos de oposição tentam avançar na Câmara um projeto de lei para conceder anistia aos envolvidos nos atos extremistas de 8 de janeiro de 2023. Na 4ª feira (23.abr), o líder do PL, o deputado Sóstenes Cavalcante (RJ), deu um ultimato ao presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), para pautar o pedido de urgência do projeto, protocolado com 264 assinaturas.
Leia a íntegra do pedido de desculpas de Nasi:
“Eu gostaria de me comunicar, esclarecer aos milhares de fãs que o Ira! tem e a quem interessar possa sobre os fatos acontecidos desde o show lá de Contagem, em Minas Gerais.
“Bom, muitos já leram, mas nós ficamos no meio de um show de narrativas. Em alguns órgãos, eu já expliquei isso, mas volto aqui para esclarecer. O que aconteceu naquela noite não foi para tudo isso.
“Corria o show normalmente em Contagem, quando num determinado ponto, na música ‘Rubro Zorro’, inclusive, a maioria absoluta do público ficou gritando ‘sem anistia’. No final da música, eu ratifiquei a opinião deles, porque é assim que eu penso. Me solidarizei. Foi aí que um pequeno grupo, lá no fundo, vaiou. Não vaiou só a mim, mas vaiou o público. Normal, democrático, perfeito.
“Eu me manifestei aí sobre a manifestação deles. Falei que eles não entendiam a história do Ira!, mas acabei levando muita coisa para o pessoal. Porque, realmente, ao longo desses 44 anos como cantor, já enfrentei muita provocação. Normal para quem está em cima do palco, que é uma pessoa, um artista de uma certa popularidade.
“Eu acho — acho não, tenho certeza — que eu não fui claro no final do meu discurso. Primeiro, porque ninguém foi expulso de lá. Não teve segurança dando mata leão em ninguém para sair de lá. Eu me manifestei dizendo que pessoas reacionárias — aí que eu deveria ter enfatizado mais — não representam a banda.
“O show prosseguiu normalmente, ninguém foi expulso, ninguém saiu, o show continuou normalmente. Depois do show, como sempre, atendemos a fila de 1 km de fãs. Normal. Nada. Se alguém quisesse ter ido conversar comigo, eu conversaria na maior normalidade.
“E fui pego de surpresa com toda essa coisa, mas surpresa entre aspas, né, porque a gente sabe como funcionam hoje as mídias sociais. Eu volto ao ponto: não tenho nada contra quem é conservador, quem é de direita democrática. A democracia é o nosso limite. Eu respeito quem é conservador, respeito quem é progressista, eu respeito quem é liberal. Isso faz parte, são peças do tabuleiro do xadrez da política e da sociedade brasileira.
“Lamento, inclusive, me desculpo com meus companheiros, que um ato meu que eu não sabia que ia dar nesse quiproquó todo, fizessem com que eles tivessem perdas, mas a gente vai recuperar, como já está recuperando”.
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