Aliados tentam dissuadir Nunes de comparecer a ato de Bolsonaro em SP

Prefeito disse que tende a participar da manifestação; ele teme perder apoio do ex-presidente na eleição

Ricardo Nunes (MDB) e Jair Bolsonaro (PL) durante evento no batalhão da Rota, em São Paulo

Ricardo Nunes (MDB) e Jair Bolsonaro (PL) durante evento no batalhão da Rota, em São Paulo

O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), disse a pessoas próximas nesta quarta-feira (14) que a tendência hoje é a de participar do ato convocado por Jair Bolsonaro (PL), ainda que não tenha batido o martelo.

O ex-presidente é alvo de investigação da Polícia Federal por participação em suposta trama golpista para mantê-lo na Presidência. Bolsonaro marcou o ato para 25 de fevereiro, na avenida Paulista, e afirmou que pretende se defender das acusações que lhe tem sido imputadas.

Caso seja processado e condenado pelos crimes de tentativa de golpe de Estado, tentativa de abolição do Estado democrático de Direito e associação criminosa, ele poderá pegar uma pena de até 23 anos de prisão e ficar inelegível por mais de 30 anos.

Aliados do emedebista tentam convencê-lo de que o dano à sua imagem pode ser grande em caso de participação no protesto. Nunes tem buscado se apresentar como um administrador da cidade, deixando as disputas ideológicas em segundo plano.

A ideia de sua campanha é a de evitar a polarização política com Guilherme Boulos (PSOL), que terá o apoio do presidente Lula (PT), e mostrar projetos e obras entregues pela Prefeitura de São Paulo nos últimos anos.

A presença na manifestação de Bolsonaro pode estreitar a vinculação da imagem de Nunes à do ex-presidente, dificultando a estratégia de apoio distanciado que o prefeito tenta estabelecer, avaliam aliados do emedebista que mantêm participação na gestão federal.

Segundo eles, a fotografia ou filmagem do ex-presidente com Nunes em ato no qual Bolsonaro tenta se colocar contra a investigação de sua suposta articulação de plano golpista seria o registro ideal para seus concorrentes explorarem na eleição.

Além disso, sua participação pode ser vista como endosso aos crimes que têm sido atribuídos ao ex-presidente. Por fim, pode associá-lo a discursos antidemocráticos que sejam entoados por Bolsonaro ou algum outro participante do evento.

A ida ao ato também pode gerar estremecimento na própria de base de partidos de Nunes, ponderam esses aliados. A gestão do emedebista conta, por exemplo, com diversos tucanos, que poderiam entregar seus cargos em caso de gesto explícito de apoio a Bolsonaro.

O prefeito também tenta atrair o próprio PSDB para a sua aliança partidária, o que poderia se tornar inviável nesse contexto.

O temor do prefeito, por outro lado, é o de que sua ausência gere irritação em Bolsonaro, que poderia então retirar seu apoio e lançar um concorrente alinhado ao bolsonarismo, jogando assim uma sombra nas suas chances de reeleição.

Tarcísio de Freitas (Republicanos) afirmou que irá ao ato. O governador de São Paulo é considerado um dos mais importantes cabos eleitorais do prefeito, o que faz com que a decisão de não participar do protesto seja mais difícil para Nunes.

“É uma manifestação pacífica a favor do [ex-] presidente, e estarei ao lado dele, como sempre estive”, afirmou o governador à CNN.

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