Quando se elegeu em 2018, Joice Hasselmann foi a mulher mais votada na história da Câmara dos Deputados. À época, recebeu mais de 1 milhão de votos e se tornou líder do Governo de Jair Bolsonaro na Casa.
Logo depois, em 2019, rompeu com o ex-presidente. Em 2021, deixou o partido pela qual foi eleita, o PSL (agora União Brasil), para se filiar ao PSDB. No pleito de 2022, já tucana, encarou uma derrota ao tentar se reeleger deputada: teve só 13.679 votos –uma queda de 98,73% em relação ao pleito anterior.
Antes disso, Joice havia se candidato à Prefeitura de São Paulo, em 2020. Teve os votos de 98.239 paulistanos, 1,84% do total, e ficou em 7º lugar na corrida pelo comando da capital paulista.
As sucessivas frustrações políticas levaram a ex-jornalista às redes sociais, onde viralizou várias vezes com memes e com um estilo de vida fitness. Agora, Hasselmann diz negociar sua filiação com 2 partidos que, segundo ela, a querem para vereadora na capital paulista.
A ex-deputada anunciará seu novo partido nos dias seguintes ao Carnaval. Em entrevista ao Poder360, Hasselmann não disse quais são as duas legendas que a pleiteiam, mas declarou que ambas fazem parte da base do governo da cidade e contariam com estruturas partidárias consolidadas.
“Eram 3 opções: uma eu já rejeitei e os outros 2 ainda estão me fazendo propostas. Mas são partidos de centro-direita, e a lista não é muito grande”, disse. Ainda assim, ela diz estar dividida sobre o retorno na política.
A seguir, trechos da entrevista:
Poder360: Qual é o seu cronograma antes da campanha?
Joice Hasselmann: Tem bastante gente aparecendo e apoiando minha candidatura. Isso tem me deixado bastante surpresa porque não me passava pela cabeça ser candidata novamente, pelo menos não para vereadora. O ano de 2026 é outra história: Senado, Câmara… Está havendo uma mobilização muito bacana e inesperada porque eu passei por um momento muito difícil. Eu tive uma derrota muito dolorida nas urnas em 2022 depois de mais de 1,1 milhão [de votos] em 2018. Eu deixei o ano passado para ser um ano sabático. Mas já no 2º semestre muitos políticos e empresários começaram a me procurar dizendo que eu seria a candidata deles. É ótimo saber que já se tem apoio de uma parte importante de São Paulo. Eu devo anunciar meu novo partido depois do Carnaval, com pompa e circunstância. Mas a filiação, não a candidatura. Minha condição era me filiar sem a obrigação de me candidatar, só no meio do caminho que vou decidir se concorro.
Por que está dividida?
Eu sou um ser político desde que me entendo por gente. Mas eu nunca pensei em disputar uma candidatura para vereadora. Eu até disse isso para um líder partidário: “Olha, eu acabei de sair da Câmara e agora ir para a esfera municipal…”. Ele me disse que eu estava completamente enganada porque ser vereador em São Paulo é muito maior que ser deputado federal por qualquer outro Estado. A cidade é um país, cheia de gente inteligente, tem muito trabalho e muita coisa para fazer. A composição da Câmara Municipal não é de se ter muito orgulho, então a cidade precisa de mulheres preparadas e eu ouvi a mesma coisa dos 2 dirigentes. Na minha cabeça, eu só sairia para algum cargo em 2026, como deputada federal. Era muito tempo até lá para bater o martelo, mas estava na minha mira.
O que vai avaliar na hora de tomar a decisão do partido?
Principalmente, as ideias em comum e qual a proposta do partido para a cidade de São Paulo. Também quem o partido vai apoiar [na disputa à Prefeitura], porque eu não posso me filiar a uma legenda que apoie o Guilherme Boulos (Psol-SP). Qual a importância que o partido dá para as mulheres, porque eu não quero que o partido tenha duas ou 3 candidatas e o restante tudo laranja para cumprir a cota. E, obviamente, a estrutura partidária.
Uma vez eleita, o que vai nortear seu mandato?
Saúde Pública, especialmente para as mulheres. Já tenho até um projeto de lei escrito, sobre educação alimentar nas escolas. A obesidade é a 2ª maior causa de morte do mundo. Se nem os adultos sabem comer direito, as crianças também não.
A senhora foi a mulher com mais votos na eleição para deputado federal em 2018. Na eleição seguinte, o que aconteceu? Por que a senhora teve tão poucos votos em 2022?
Porque eu combati o bolsonarismo de frente. Estive ao lado do Bolsonaro e nosso eleitorado era o mesmo. Eu enfrentei a canalhada sozinha e fui a pessoa mais atacada da história, segundo uma universidade de Belo Horizonte que fez este levantamento. Fui massacrada por 2 anos e meio sem ter quem me defendesse.
Eram ataques vindos do gabinete do ódio 24 horas por dia.
Qual será a estratégia de campanha para este ano?
Eu sei do que a cidade precisa e eu sei onde estão as grandes agruras. O vereador nada mais tem a fazer senão lutar pelo melhor do município e fazer a prefeitura trabalhar. Meu plano já está pronto: assim que confirmar a candidatura vou colocar o pé na estrada e sair para conhecer algumas comunidades.
Apesar da votação baixa, a senhora se manteve popular graças à presença nas redes sociais. O lifestyle e os memes já eram parte dos seus planos políticos?
Não eram, mas viraram. Um dos senadores que almoçou comigo apontou meu sucesso entre as mulheres por causa da minha transformação de estilo de vida. A ideia era incentivar uma vida mais saudável, mas acabou virando ativo político. Agora os memes são estratégias políticas, sim.
Como vai se equilibrar na polarização?
A extrema-direita está tomada pelo bolsonarismo, mas a direita ponderada acha o Bolsonaro um horror. Existem polos extremos dos 2 lados, que são absolutamente estúpidos. Mas há um miolo, de cerca de 60% do eleitorado, que está sem padrinho porque não se identifica nem com um lado nem com o outro.
Ainda acredita na 3ª via?
Acredito, sim. O povo paulistano não vai eleger nenhum radical. Mesmo a candidatura de reeleição do Ricardo Nunes, que é óbvia, é uma candidatura de centro. Mesmo que o Bolsonaro o apoie, o Nunes é o Nunes e o Bolsonaro é o Bolsonaro. Vão ter alguns malucos fazendo campanha, mas o Ricardo Nunes é uma pessoa de centro que vem do MDB e não vai se tornar um extremista por causa da eleição.