A Polícia Federal deflagrou uma operação que sacudiu o núcleo político do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), nesta quinta-feira (8). Pelo menos dois assessores do ex-presidente foram presos, além do presidente do partido, Valdemar Costa Neto.
Qual o motivo da operação Tempus Veritatis?
No cerne da Operação Tempus Veritatis estão as supostas tentativas de golpes de Estado, materializadas nas supostas “minutas de golpe”: o rascunho de um decreto encontrado em janeiro na casa do ex-ministro Anderson Torres, que “autorizaria” um golpe militar no país em 2022.
Encontrada ainda no calor dos ataques contra os Três Poderes, a minuta previa a instauração de Estado de defesa no TSE. O objetivo do ato era anular o resultado da eleição presidencial de 2022, sob a suposta alegação de que teria ocorrido fraude na votação.
De acordo com informações apuradas pelo Portal R7, a Polícia Federal encontrou uma nova suposta “minuta”, desta vez na sala do ex-presidente Jair Bolsonaro, no edifício do Partido Liberal, em Brasília.
Qual a suposta participação de Jair Bolsonaro?
O acordo de delação premiada realizado em setembro pela Polícia Federal com Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro que foi preso em maio do último ano, resultou em muitas das suspeitas apuradas.
De acordo com o Estadão, Mauro Cid afirma que Bolsonaro “enxugou” o texto. “Fez um decreto muito mais resumido”, afirma o ajudante de ordens. “Algo muito mais direto, objetivo e curto, e limitado.”
Entre outras coisas, Cid disse que Bolsonaro se reuniu com a cúpula das Forças Armadas, após o segundo turno das eleições presidenciais, para discutir a possibilidade de intervenção militar para reverter o resultado que elegeu Lula para a Presidência, segundo apurou o Estadão.
Segundo Cid, o ex-chefe do Executivo teria tentado convencer as Forças Armadas com a apresentação da “minuta”, que daria suporte jurídico. Quem teria entregue o documento é Filipe Martins, ex-assessor para Assuntos Internacionais da Presidência da República, revelou Cid.
Quem foi preso na Operação Tempus Veritatis?
Dentre os presos nesta quinta-feira (8) estão Filipe Martins e o ex-ajudante de ordens da Presidência da República e o coronel do Exército, Marcelo Câmara. Ele é apontado em outras investigações, como na dos presentes oficiais vendidos do ex-presidente Jair Bolsonaro e na das supostas fraudes nos cartões de vacina da família Bolsonaro.
Também foi preso o presidente do PL (Partido Liberal), Valdemar Costa Neto. O motivo não estava no radar dos agentes da Polícia Federal: na casa de Costa Neto foi encontrada uma arma de fogo sem registro. Por conta disso, a prisão foi em flagrante.
Quais as outras investigações?
Também são alvos os ex-ministros Braga Netto (Casa Civil), Anderson Torres (Justiça), Augusto Heleno (GSI) e Paulo Sérgio Nogueira (Defesa) e o próprio Jair Bolsonaro.
A investigação vai além da suposta “minuta de golpe” e aponta seis núcleos de atuação criminosa do grupo político de Bolsonaro:
- Núcleo 1: desinformação e ataques ao sistema, tinha como forma de atuação a produção, divulgação e amplificação de notícias falsas quanto à lisura das eleições presidenciais de 2022 com a finalidade de estimular seguidores a permanecerem na frente de quartéis e instalações, das Forças Armadas, no intuito de criar o ambiente propício para o golpe de Estado. Os integrantes desse núcleo são: Mauro Cesar Barbosa Cid, Anderson Torres, Angelo Martins Denicoli, Fernando Cerimedo, Eder Lindsay Magalhães Balbino, Hélio Ferreira Lima, Guilherme Marques Almeida, Sergio Ricardo Cavaliere de Medeiros e Tércio Arnaud Tomaz;
- Núcleo 2: responsável por incitar militares ao golpe; tem como forma de atuação a escolha de alvos para amplificação de ataques pessoais contra militares em posição de comando que resistiam às investigadas “minutas golpistas”, segundo a PF. Os ataques eram realizados a partir da difusão em múltiplos canais e através de influenciadores em posição de autoridade perante a “audiência” militar. Os integrantes desse núcleo são: Walter Souza Braga Netto, Paulo Renato de Oliveira Figueiredo Filho, Ailton Gonçalves Moraes Barros, Bernardo Romão Correa Neto e Mauro Cesar Barbosa Cid;
- Núcleo 3: tem como forma de atuação o assessoramento e elaboração de minutas de decretos com fundamentação jurídica e doutrinária que atendessem aos interesses golpistas do grupo investigado, de acordo com o órgão. Os integrantes desse grupo são: Filipe Garcia Martins Ferreira, Anderson Gustavo Torres, Amauri Feres Saad, José Eduardo de Oliveira Silva e Mauro Cesar Barbosa Cid;
- Núcleo 4: de operação de apoio às ações golpistas, tem como forma de atuação, a partir da coordenação e interlocução com o então ajudante de ordens de Bolsonaro Mauro Cesar Cid, a atuação em reuniões de planejamento e execução de medidas no sentido de manter as manifestações em frente aos quartéis militares, incluindo a mobilização, logística e financiamento de militares das forças especiais em Brasília. Os integrantes desse núcleo são: Sergio Ricardo Cavaliere de Medeiros, Bernardo Romão Correa Neto, Hélio Ferreira Lima, Rafael Martins de Oliveira, Alex de Araújo Rodrigues e Cleverson Ney Magalhães;
- Núcleo 5: de inteligência paralela, tem como forma de atuação a coleta de dados e informações que pudessem auxiliar a tomada de decisões do então presidente na consumação do golpe de Estado. “Monitoramento do itinerário, deslocamento e localização do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes e de possíveis outras autoridades da República com objetivo de captura e detenção quando da assinatura do decreto de golpe de Estado”, diz a PF. Os integrantes desse núcleo são: Augusto Heleno Ribeiro Pereira, Marcelo Costa Camara e Mauro Cesar Barbosa Cid;
- Núcleo 6: trata de oficiais de alta patente com influência e apoio aos demais grupos e tem como forma de atuação a utilização do cargo que detinha para influenciar e incitar apoio aos demais núcleos de atuação por meio do endosso de ações e medidas a serem adotadas para consumação do golpe de Estado, ainda segundo a corporação. Os integrantes do grupo são: Walter Souza Braga Netto, Almir Garnier Santos, Mario Fernandes, Estevam Theophilo Gaspar de Oliveira, Laércio Vergílio e Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira.