O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) determinou que o Ministério da Defesa, chefiado por José Múcio Monteiro, dê urgência à compra de um novo avião presidencial. O modelo usado atualmente apresentou problemas na volta do petista de uma viagem ao México. A empresa consultada para a compra do equipamento foi a Airbus (formada por um consórcio de vários países europeus). No entanto, segundo apurou o Poder360, a resposta foi decepcionante: a entrega demoraria cerca de 2 anos e o avião só ficaria disponível a partir de 2027.
A opção seria Lula aceitar a compra de algum avião de 2ª mão disponível no mercado, já adaptado para acomodar autoridades. A exigência do Palácio do Planalto é que o avião tenha autonomia maior do que a do atual, que para destinos na Europa ou nos Estados Unidos, por exemplo, precisa parar para reabastecer. Também é preciso ter sala de reuniões ampla, internet de alta velocidade, possibilidade de ser reabastecido em voo, quarto de casal e banheiro com chuveiro.
Há aviões usados no mercado já com configurações semelhantes, sobretudo de países árabes do Oriente Médio, cujos governantes trocam com frequência de equipamento. Lula não se interessou em princípio. Mas há um impasse porque, se for esperar um novo avião, não será para o atual mandato do petista.
O ministro da Defesa está com a missão de atender a essa demanda. A decisão de Lula já foi tomada sobre a compra. Mas agora depende do que o presidente vai dizer a respeito de adquirir um avião usado ou esperar 2 anos para a entrega da encomenda.
À rádio O Povo/CBN, de Fortaleza (CE), em 11 de outubro, Lula confirmou a intenção de comprar um novo avião presidencial e indicou que gostaria de adquirir outros para viagens de ministros. Disse que a nova compra não é privilégio seu, mas segurança para integrantes do governo.
“Desse problema tiramos uma lição. Vamos comprar não apenas um avião, mas alguns aviões. O Brasil é um país grande com 8 milhões de km², com 360 mil km de florestas tropicais, com 8.000 km de fronteiras marítimas, com 5 milhões de km² de água que é responsabilidade do Brasil. Nós precisamos nos preparar, não podemos ser pegos de surpresa”, disse na entrevista.
O petista já queria trocar de avião no início do seu governo, em 2023. Quando havia feito 10 viagens internacionais, em maio do ano passado, Lula pediu à Defesa que viabilizasse uma nova opção de aeronave. Algumas das viagens que havia realizado duraram mais de 25 horas por causa de paradas necessárias durante o trajeto, quando foi, por exemplo, à China e ao Japão.
Inicialmente, cogitou-se adaptar um dos Airbus A330-200 comprados em 2022 pelo então presidente Jair Bolsonaro (PL) por US$ 80 milhões (cerca de R$ 400 milhões pela taxa de câmbio atual), da companhia aérea Azul. A ideia, porém, foi deixada de lado por causa do alto custo para instalar o sistema de internet a bordo. O Planalto chegou à conclusão na época de que o timing era ruim, no momento em que a equipe econômica falava em controle de gastos.
AEROLULA
O Airbus A319CJ, identificado pela FAB (Força Aérea Brasileira) como VC-1A, foi comprado em 2005 por US$ 56,7 milhões (US$ 91,7 milhões, em valores atualizados, o equivalente a R$ 500 milhões). Tem autonomia de voo de 8.500 km. Na entrevista à O Povo/CBN, Lula disse ter superado o apelido que foi dado à aeronave de forma pejorativa: Aerolula.
“Quando comprei esse avião, era o mais pequeno (sic) da Airbus, comprei o mais barato e o menor. Mesmo assim o [Leonel] Brizola [ex-governador do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul] cunhou como o Aerolula. Como se o avião fosse um privilégio do presidente. Eu superei isso. Um presidente tem que se respeitar, uma instituição tem que se respeitar. Não precisa um presidente correr riscos”, disse.
Atualmente, o Aerolula conta com uma cabine presidencial equipada com cama e um banheiro privativo para o presidente e a primeira-dama, Janja Lula da Silva. Há também uma área reservada com duas mesas e 8 lugares. Ali, o presidente pode ter conversas privadas durante o voo. Há ainda 16 poltronas para levar as principais autoridades que acompanham o presidente e a tripulação.
Veja imagens internas do Aerolula divulgadas em 2005:
Aerolula em 2005
Lula quer aumentar o número de convidados em viagens, especialmente deputados e senadores, para se aproximar do Congresso e para prestigiar aliados. Um avião maior será útil para essa estratégia.
Há também reclamações sobre o desconforto da atual aeronave, que é considerada pequena por Janja. A primeira-dama também já demonstrou irritação com o número de escalas técnicas necessárias em longas viagens. O futuro avião já ganhou um apelido em Brasília. É tratado por políticos como “Aerojanja”.
Desde o início de seu 3º mandato, o presidente já fez 23 viagens internacionais. Para o governo, um avião com maior autonomia economizaria tempo no deslocamento, já que precisaria fazer menos escalas. As paradas costumam ser mais demoradas do que em voos comerciais, em razão do abastecimento de combustível e da checagem de segurança.
PANE NO AEROLULA
O avião de Lula teve que dar voltas acima da Cidade do México por causa de um problema técnico logo depois da decolagem em 1º de outubro.
A FAB informou que o problema técnico no avião VC-1, um Airbus 319 CJ, foi resolvido “com sucesso”. Declarou também que os pilotos precisavam gastar o combustível antes de retornar ao Aeroporto Internacional General Felipe Ángeles, na capital mexicana –onde trocaram de avião e voltaram a Brasília.
A manobra de queimar combustível antes de um pouso não previsto é comum. Normalmente, o peso do avião no momento da decolagem é superior ao máximo permitido no pouso –pousar com a aeronave pesada aumenta o risco de uma colisão com o chão.
O piloto do avião presidencial na visita ao México identificou um problema na aeronave assim que decolou. Em mensagem à torre de controle do Aeroporto Internacional General Felipe Ángeles, na Cidade do México, o comandante usou o código “pan-pan, pan-pan, pan-pan” ao controlador, que significa um problema que necessita de ajuda em solo, mas que não representa risco de vida aos passageiros a bordo.
Segundo o BGAST (Grupo Brasileiro de Segurança Operacional de Infraestrutura Aeroportuária), a expressão é utilizada em situações de urgência, sem perigo iminente. A partir dessa comunicação, o avião tem prioridade da torre, exceto se outro avião reportar o código “mayday, mayday, mayday”, que caracteriza uma situação de emergência, com perigo iminente. Leia a íntegra da cartilha do BGAST (PDF – 697 kB).
O código “pan” vem da palavra pane –falha no funcionamento de algum equipamento elétrico ou hidráulico. Já o mayday vem do francês “m’aidez”, que significa “me ajude”.
“O pan-pan-pan é um aviso sonoro que o piloto emite falando que ele está com problema, o pan vem da palavra pane mesmo, mas não tem um perigo iminente às vidas que estão a bordo. Já o ‘mayday’ é uma declaração de emergência que todo mundo para e vai ajudar porque vai ter vítima”, declarou ao Poder360 o presidente da Rima Aviação, comandante Gilberto Scheffer.
No áudio, o piloto diz “pan-pan, pan-pan, pan-pan” e comunica a necessidade de fazer uma curva à direita. O funcionário da torre pede para o piloto confirmar o código, o que o comandante do Aerolula faz em seguida.
Ouça no vídeo abaixo (1min44s):