Nunes ganha em São Paulo, em vitória de Tarcísio e derrota de Lula

O atual prefeito de São Paulo e candidato à reeleição, Ricardo Nunes (MDB), 56 anos, foi reeleito para o cargo por mais 4 anos a partir de 1º de janeiro de 2025. O resultado da disputa em 2º turno foi confirmado neste domingo (27.out.2024).

Com 89,78% das urnas apuradas às 18h43, Nunes tinha 59,56% dos votos válidos (dados aos candidatos, excluindo-se os brancos e os nulos) contra 40,44% do deputado Guilherme Boulos (Psol), 42 anos. Uma virada é matematicamente impossível.

Consulte aqui o quadro completo da apuração em São Paulo (SP).

Apoiado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Boulos não repetiu o desempenho do petista em 2022 em São Paulo. No 2º turno da eleição presidencial de 2 anos atrás, Lula recebeu 53,54% dos votos válidos do eleitorado paulistano, contra 46,46% dados ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que apoiou a candidatura de Nunes –ainda que de maneira discreta.

Compare as votações em 2º turno de Lula e Boulos:

  • Lula (PT) em 2022 – 53,54% dos votos válidos (3.677.921);
  • Boulos (Psol) em 2024 – 40,44% dos votos válidos (2.072.995) / 89,78% das urnas apuradas.

Compare as votações em 2º turno de Bolsonaro e Nunes:

  • Bolsonaro (PL) em 2022 – 46,46% dos votos válidos (3.191.484);
  • Nunes (MDB) em 2024 – 59,56% dos votos válidos (3.052.556) / 89,78% das urnas apuradas.

O resultado é uma derrota para Lula e uma vitória, sobretudo, para o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que se viabiliza um pouco mais como um nome da direita não bolsonarista de olho nas eleições presidenciais de 2026.

Bolsonaro também saiu vitorioso, apesar de sua participação na campanha de Nunes ter sido modesta. O ex-presidente flertou com Pablo Marçal (PRTB) no 1º turno e teve um posicionamento ambíguo. Fez poucas aparições ao lado do prefeito reeleito na campanha. As críticas ao candidato de Lula foram pontuais: declarou em agosto que Boulos “nunca trabalhou na vida” e em outubro que apoiaria “qualquer um” contra o psolista no 2º turno –sugerindo que daria suporte a Marçal.

Ainda assim, a disputa pela capital paulista replicou o embate de 2 anos atrás pelo Planalto. “Na capital de São Paulo é uma coisa muito especial. É uma confrontação direta entre o ex-presidente e o atual, é entre mim e a figura”, disse Lula em janeiro de 2024. Diferentemente de 2022, Bolsonaro venceu.

O 2º turno marcou também o 1º embate direto entre Lula e Tarcísio. Os 2 mantêm uma relação de morde e assopra. O presidente já o defendeu de vaias, disse não querer casar” com ele e reclamou de sua ausência em eventos do governo federal em SP.

O ex-ministro de Infraestrutura do governo Bolsonaro é mais pragmático. Afirmou que ele e Lula são adversários, não inimigos. Também já declarou não ter queixas de Dilma Rousseff (PT), só agradecimentos –ele foi diretor do Dnit durante o governo da petista.

VENCEDORES

Tarcísio manteve um apoio irrestrito ao emedebista mesmo com a direita rachada –parte decidiu embarcar na campanha de Marçal, que levou 28,14% dos votos no 1º turno.

Foi Tarcísio quem insistiu para Bolsonaro seguir fiel à candidatura de Nunes. O governador esteve com o prefeito reeleito em inúmeros eventos de campanha. De uma feira de adoção de pets a um culto evangélico do pastor Valdomiro Santiago. Serviu até de “escudo” quando Nunes deixou de ir a um debate de 2º turno na TV e alegou que teria uma reunião com o governador no horário.

A defesa por Nunes e o racha no bolsonarismo dão mais relevo ao governador. Neófito em política eleitoral, Tarcísio venceu sua 1ª disputa nas urnas só em 2022, quando derrotou Fernando Haddad (PT) no 2º turno pelo governo paulista.

O governador já vinha sendo apontado como uma espécie de representante do bolsonarismo menos radical. Agora, com a vitória de Nunes, consolida seu nome como opção da direita na disputa pelo Planalto em 2026 –embora afirme estar “convicto” de que ficará em São Paulo.

PERDEDORES

Os números acima mostram que milhares de eleitores que escolheram o petista em 2022 não repetiram o voto na esquerda em 2024. É um grande revés para o PT, que não teve candidato próprio na cidade pela 1ª vez em sua história. A agremiação apostou em Boulos, por determinação de Lula. Apesar de ter arquitetado a estratégia paulistana, o presidente teve uma atuação discreta nessa e em outras campanhas municipais de aliados.

O PT, por determinação de Lula, injetou mais de R$ 44 milhões na campanha do psolista. O valor supera a soma de recursos destinados aos 4 candidatos do próprio partido que estavam disputando o 2º turno em suas cidades neste domingo: Evandro Leitão em Fortaleza (CE), Lúdio em Cuiabá (MT), Maria do Rosário em Porto Alegre (RS) e Natália Bonavides em Natal (RN).

Boulos estava ungido por Lula para se consolidar como herdeiro político e depois postular cargos mais elevados. A vice na sua chapa, Marta Suplicy (PT), disse na 3ª feira (22.out) que Boulos é o herdeiro político do petista. Hoje, não existe no PT nem em outros partidos da esquerda alguém com a mesma retórica do deputado num palanque.

É a 2ª derrota de Boulos em São Paulo na tentativa de comandar São Paulo. O resultado deste domingo evidencia uma leitura de que o psolista tem um teto na capital paulista –e não é suficiente para elegê-lo prefeito da maior cidade do país.

Compare o desempenho de Boulos no 1º turno:

  • 1º turno de 2020: 20,24% dos votos válidos (1.080.736);
  • 1º turno de 2024: 29,07% dos votos válidos (1.776.127).

Compare o desempenho de Boulos no 2º turno:

  • 2º turno de 2020: 40,62% dos votos válidos (2.168.109);
  • 2º turno de 2024: 40,44% dos votos válidos (2.072.995) / 89,78% das urnas apuradas.

O FIM DO MITO MARTA

A derrota de Boulos derruba de vez uma espécie de lenda urbana na política paulistana: a de que Marta é ainda muito bem votada em regiões mais pobres nos subúrbios da capital paulista. Por esse raciocínio, ela como vice ajudaria o psolista a melhorar seu desempenho na zona sul. A expectativa era baseada em números do início dos anos 2000. A realidade de 2024 foi muito diferente. Nunes venceu na maior parte da região sul da cidade em 1° e 2° turnos.

Lula deu “all in” (expressão do pôquer para quando um jogador aposta todas as fichas e vai para o tudo ou nada na partida) em São Paulo. Obrigou o PT a engolir Boulos. Depois, articulou pessoalmente a volta de Marta ao partido –ela havia se afastado e dizia que a legenda havia traído os brasileiros.

Uma vitória da esquerda minimizaria o número modesto de prefeitos eleitos pelo Partido dos Trabalhadores em 2024. Foram ao menos 248 (dado do 1º turno)  É mais que em 2020, mas é pouco para o partido que comanda a Presidência da República. A sigla até hoje não conseguiu voltar ao patamar de 2012, pré-operação Lava Jato, quando chegou ao maior número de cidades de sua história: 625.

No Estado de São Paulo, berço político de importantes nomes do PT, o partido somou outras derrotas além daquela compartilhada com Boulos. O Poder360 lista 3 casos a seguir:

  • Diadema – o PT perdeu a 1ª cidade que comandou em sua história depois da vitória de Taka Yamauchi (MDB), aliado de Tarcísio, sobre o atual prefeito, José de Filippi Jr. (PT);
  • São Bernardo do Campo – o candidato do PT, Luiz Fernando, sequer foi ao 2º turno. É o berço político de Lula (é onde o presidente vota);
  • Araraquara – cotado para comandar a sigla a partir de 2025, Edinho Silva fracassou na tentativa de fazer sua sucessora na Prefeitura de Araraquara (SP). A secretária de Saúde, Eliana Honain, perdeu para Dr. Lapena (PL), apoiado por Bolsonaro, no 1º turno.

O impacto do revés para 2026 é incerto, mas enfraquece Lula como principal líder da esquerda no país. Ao mesmo tempo, o presidente vê um potencial adversário político se fortalecer. Com Bolsonaro inelegível em 2026, caso o cenário atual seja mantido, Tarcísio é considerado alguém que pode enfrentar o petista.

Por óbvio, tudo dependerá do estado da economia e da disposição de Lula (inclusive de saúde) daqui a 2 anos. Hoje, sondagens preliminares indicam que o petista segue sendo competitivo numa disputa presidencial.

APAGÃO EM SP MARCA 2º TURNO

O 2º turno ficou marcado pelo apagão que deixou mais de 3 milhões sem luz na região metropolitana de São Paulo depois de um forte temporal em 11 de outubro e pela ausência de Nunes em debates.

A responsabilidade pelo apagão foi um jogo de empurra. Nunes culpou a Enel, a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) e o governo federal. Declarou que a administração lulista não fiscalizou o trabalho da distribuidora de energia.

Boulos acusou Nunes de ter sido negligente. Também culpou a Enel, mas eximiu a União. Disse que cabe à Aneel o papel de fiscalizar e, indiretamente, sugeriu que a culpa é também de Bolsonaro ao afirmar que o diretor da agência, Sandoval Neto, foi indicado pelo ex-presidente.

O prefeito deixou de ir a 3 debates eleitorais no 2º turno. Em 1 caso, o encontro acabou transformado em uma sabatina de Boulos. Nunes foi aos debates da Band (relembre como foi aqui), da Record (relembre como foi aqui) e da TV Globo (relembre como foi aqui).

QUEM É RICARDO NUNES

  • Ricardo Luís Reis Nunes nasceu em São Paulo em 13 de novembro de 1967;
  • é empresário, mora na zona sul da capital paulista e é filiado ao MDB desde os 18 anos;
  • foi eleito vereador de São Paulo em 2012 e reeleito em 2016;
  • como vereador, relatou a LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) da cidade durante 6 anos e atuou em CPIs como as da Sonegação Tributária, da Dívida Ativa, do Theatro Municipal e da Evasão Fiscal;
  • em 2020, foi eleito vice-prefeito na chapa encabeçada pelo tucano Bruno Covas (1980-2021);
  • assumiu a Prefeitura de São Paulo em maio de 2021, depois da morte de Covas, vítima de câncer.
Adicionar aos favoritos o Link permanente.