Meirelles diz que Selic alta ajudou o PIB de Lula 1 e 2

O crescimento econômico dos governos anteriores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é, em parte, consequência de políticas fiscais e monetárias, que proporcionaram previsibilidade e estabilidade, afirma Henrique Meirelles, 79 anos, no livro de memórias “Calma sob pressão”. Será lançado na 3ª feira (24.set.2024) em São Paulo (leia mais abaixo).

Meirelles foi presidente do BC (Banco Central) de 2003 a 2020, nos 2 mandatos anteriores de Lula. Foi ministro da Fazenda de 2016 a 2018 no governo de Michel Temer (MDB). Lula e Temer assinam prefácios do livro, que tem o jornalista Thomas Traumann como organizador.

A Selic chegou a 26,5% ao ano em 2003 com Meirelles. Caiu para 8,75% em 2009. Em janeiro de 2011, quando ele saiu, estava em 10,75%, o mesmo patamar de hoje. O crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) foi 7,5% em 2010, último ano em que ele esteve à frente do BC.

No livro, Meirelles diz também que contribuem para o crescimento atual do PIB as reformas realizadas quando foi ministro de Temer, incluindo a trabalhista, o teto de gastos e mudanças que segundo ele permitiram a implantação do Pix.

Cita, ainda, a reforma da Previdência, aprovada em 2019, no início do governo de Jair Bolsonaro (PL). Diz que a reforma foi consequência de proposta de emenda à Constituição que o governo de Temer apresentou ao Congresso em 2017, sem conseguir que fosse aprovada.

CRESCIMENTO EXIGE REFORMAS

Meirelles afirmou ao Poder360 na 5ª feira (19.set) que as perspectivas são de crescimento moderado do PIB nos próximos anos, com taxas de cerca de 2%. Para um crescimento muito superior, afirmou, seriam necessárias novas reformas, incluindo maior limitação de gastos públicos.

Ele apoiou Lula ainda no 1º turno em 2022. Chegou a ser cogitado como ministro da Fazenda depois da vitória do petista e se mostrou disposto a aceitar o convite. Mas não foi procurado depois do início do 3º mandato de Lula sequer para uma conversa. Afirmou que o governo atual tem uma linha de atuação na economia da qual discorda, com maior dependência de gastos públicos do que nos mandatos anteriores, sobretudo o 1º, de 2003 a 2005. Avalia que “é natural” Lula preferir conversar com economistas que endossem essa linha de atuação.

O ex-ministro disse também que a decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC de elevar a Selic em 0,25 ponto percentual na 4ª feira (18.set) foi correta. Não fez previsão sobre novas decisões. Disse que isso dependerá das condições econômicas dos próximos meses. Uma parte do livro é dedicada a relatar o funcionamento das reuniões do Copom. Ele afirma ter contribuído para torná-las mais técnicas.

CANDIDATURA PRESIDENCIAL

Meirelles deixou o governo de Temer em 2018 para ser candidato a presidente pelo MDB. Gastou R$ 54 milhões de seu patrimônio com a campanha. Teve 1,3 milhão de votos. Disse não se arrepender da candidatura porque as propostas que defendeu ganharam maior relevância na sociedade, incluindo a importância da austeridade fiscal. Foi secretário de Fazenda de São Paulo de 2019 no governo de João Doria (então no PSDB) de 2019 a 2022.

O livro traz relatos anteriores aos cargos públicos que Meirelles ocupou. Ele nasceu em Anápolis (GO) e cresceu em Goiânia. O pai, advogado, ocupou vários cargos na administração pública estadual, incluindo o de secretário de Segurança.

Meirelles se mudou para São Paulo nos anos 1960 para estudar engenharia na USP (Universidade de São Paulo). Também foram com ele para a cidade a mãe e o pai, que passou a representar o governo do Estado em processos em São Paulo.

Meirelles trabalhou 29 anos no BankBoston, chegando a presidente global. Em 2002 foi candidato a deputado federal em Goiás pelo PSDB. Teve o maior número de votos para o cargo no Estado. Desistiu de tomar posse na Câmara ao aceitar o convite de Lula para ser presidente do BC.

O ex-ministro faz atualmente consultoria para empresas. Não tem planos de se aposentar. Sobre o tema, disse ao Poder360 que o pai só se aposentou aos 92 anos. Logo depois disso, Meirelles foi visitá-lo e o encontrou recortando anúncios de empregos para advogados em jornais. Perguntou o porquê. O pai respondeu: “Acho que me aposentei precocemente”.

A seguir, outros trechos do livro:

  • Desavenças com Mercadante – Meirelles relata vários embates nos 2 mandatos anteriores de Lula com o então senador Aloizio Mercadante (PT-SP), atual presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Em uma audiência no Senado em data não especificada, Mercadante o criticou e senadores do PSDB o defenderam. Isso foi citado por um dos participantes. Meirelles disse que a oposição é que estava certa. “Eu ri, mas não era engraçado”, diz;
  • convite para ser ministro – Meirelles foi sondado em 2016 pelo então ministro da Casa Civil Jaques Wagner, hoje senador (PT-BA), para ser ministro da Fazenda o governo de Dilma Rousseff (PT). Mas o convite de fato só veio depois de intervenção de Lula. “Havia me convencido de que meu nome estava sendo imposto por Lula goela abaixo”. Meirelles recusou. Depois do impeachment e Dilma, tornou-se ministro de Temer.
  • mudanças no Copom – Meirelles relata ter determinado que diretores do BC não conversassem nos dias anteriores à reunião. A discussão deveria ser com todos juntos e o voto do presidente passou a ser o último. “Procurei aumentar o profissionalismo do Copom”;
  • motorista condenado – O pai de Meirelles era diretor da Penitenciária do Estado. Decidiu contratar como motorista da família um condenado por assassinato de 21 pessoas. O preso ganhou, graças a isso, o direito à liberdade condicional. Meirelles diz que ele sempre foi tranquilo e fiel à família. Conta ter lhe perguntado o porquê dos assassinatos e ouvido isto como resposta: “O sujeito começava a me provocar e eu ficava nervoso. Aí me dava um branco”;
  • Egito e Venezuela – Depois do fim do 2º governo de Lula, em 2011, Meirelles fez consultorias para governos no Egito e na Venezuela. Encontrou dificuldades nos 2 países. Mas ficou mais impressionado com os obstáculos no 2º caso. “Comecei a achar que os problemas do Oriente Médio eram bem menores do que os da Venezuela”.

Lançamento do livro “Calma sob pressão”, de Henrique Meirelles, 192 páginas, R$ 52, na Livraria da Travessa do Shopping Iguatemi, avenida Brigadeiro Faria Lima, 2232, Jardim Paulistano, São Paulo, na 3ª feira (24.set.204) às 19h

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