Utilizado nos aviões que combateram os incêndios no Pantanal e Amazônia em 2020 durante o governo Jair Bolsonaro (PL), o uso do chamado “retardante de chamas” divide opiniões nas queimadas que consomem as mesmas regiões em 2024.
O governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não recomenda a utilização da química no combate às queimadas.
Mais da metade do Brasil enfrenta o pior período de seca dos últimos 44 anos. Queimadas têm atingido especialmente a Amazônia e o Pantanal. Focos de incêndio, no entanto, também foram registrados em outros biomas.
Sobre o “retardante de chamas”, o Ministério do Meio Ambiente confirmou à CNN que o produto não está sendo usado nas regiões pelo Ibama e ICMBio.
Em 2018, o Ibama fez uma nota técnica na qual disse que o produto requer uma série de cuidados e deve ser aplicado somente em último caso. O receio é que a química utilizada nesses produtos contamine o meio-ambiente.
À CNN, o presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, explicou o temor. “Nós estamos analisando as opções existentes no mercado e fazendo estudos toxicológicos. No Brasil, não existe tradição de uso dessas substâncias. Algumas delas podem ser nocivas em ambientes sensíveis como o Pantanal. Estamos trabalhando para ter uma conclusão um pouco melhor sobre isso usando a ciência.”
A CNN também procurou o Ministério da Justiça e a FAB para comentar o assunto, mas não teve retorno até o momento. Fontes da Força, no entanto, disseram à CNN que o produto não está sendo utilizado.
Em outubro de 2020, o então ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, disse que o uso de retardante de chama aumentaria em cinco vezes a capacidade de respostas das aeronaves em vez de apenas lançarem água.
Em conversa com a CNN, o hoje deputado federal voltou a falar do tema. “[Flávio] Dino [ministro do STF] deveria obrigar o governo a usar o retardante de chamas, que é um produto químico misturado à água que vai nos aviões. Mas os fundamentalistas não querem, porque dizem que causa desequilíbrio ambiental”.
Salles fez referência a Dino, pois o ministro tem atuado em decisões que determinam a convocação de mais bombeiros militares para atuar nas queimadas. O ministro também marcou para o próximo dia 19 uma audiência para verificar com representantes de dez estados o cumprimento de medidas emergenciais para combater incêndios no país.
O que é o retardante de chamas
Segundo o Ibama, os produtos atuam retardando a propagação das chamas por meio de ações físicas ou químicas.
No caso das físicas, agem por meio de resfriamento quando os produtos liberam partículas de água ao serem expostos ao calor, ou pela formação de uma camada protetora que envolve os materiais.
Já nas ações químicas, na presença de calor os retardantes reagem com o ar, produzindo gases não combustíveis que reduzem o suprimento de oxigênio utilizado pela combustão ou inibem a combustão ao reagir com polímeros na fase sólida, formando uma camada protetora.
Pela nota técnica do Ibama de 2018, existem dezenas de tipos de produtos. 40% da produção mundial de retardantes de chama correspondem a hidróxido de alumínio, 20% a retardantes bromados, 15% de fosforados, 11% de clorados, 8 % de óxido de antimônio, enquanto outros tipos de retardantes representam cerca de 6%.
Especialistas pedem estudos antes de uso
Em mensagem à CNN, a coordenadora do MapBiomas Fogo, Ane Alencar, destacou os riscos de se usar o retardante sem a conclusão dos estudos.
“Eu desconheço estudos que tenham medido o impacto de retardantes em florestas tropicais. Não sei se tem. Eles provavelmente não foram desenvolvidos para esse tipo de ecossistema. Acho uma aposta perigosa se não sabemos os impactos”, destacou.
Mário Mantovani, diretor da SOS Mata Atlântica, também alertou sobre o uso de química em biomas como o Pantanal e Amazônia. “Retardante de fogo pode contaminar rios e só deve ser usado em regiões de montanha”.
Este conteúdo foi originalmente publicado em Incêndios reabrem polêmica sobre química do “retardante de chama” em florestas no site CNN Brasil.