Preço aumenta, mas salário mínimo compra mais picanha em 2024

O preço médio do kg de picanha atingiu R$ 71,00 no 1º semestre de 2024 e aumentou em relação ao ano anterior. Apesar disso, o brasileiro consegue comprar 19,9 kg do corte bovino com o salário mínimo vigente (R$ 1.412) –o que representa um aumento de 800g em relação ao poder de consumo do ano anterior.

Com o salário mínimo vigente durante a maior parte de 2023 (R$ 1.320), era possível adquirir 19,1 kg de picanha. Os dados são de um levantamento do IEA (Instituto de Economia Agrícola), da USP. Foi enviado com exclusividade ao Poder360.

Leia no infográfico abaixo a relação do poder de compra da carne em relação ao salário mínimo desde 2007, início da série histórica:

O diretor técnico de departamento do IEA, Celso Vergo, diz que o poder compra do brasileiro em relação à picanha deve aumentar ao longo de 2024. Segundo ele, a tendência é que o preço do corte caia no 2º semestre do ano. 

“Uma coisa importante é que o preço médio do 1º semestre tende a ser maior que no 2º. Com as pastagens recebendo menos chuvas no inverno e início de primavera, há uma desova de bois que estão perdendo peso e os preços médios podem cair nos próximos meses, favorecendo a relação de troca”, declarou o especialista ao Poder360.

Na série histórica do IEA, o ano em que o brasileiro teve maior condições de comprar picanha com o salário mínimo foi 2019 – 1º ano de governo de Jair Bolsonaro (PL). A remuneração de R$ 998,0 e o kg médio do produto a R$ 43,5 permitia a aquisição de 23,0 kg.

O pior resultado também está em um dos anos de governo Bolsonaro. Em 2021, o salário mínimo dava conta de comprar 16,5 kg de corte nobre.

O 2º melhor resultado foi em 2007, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assumiu seu 2º mandato à frente do Planalto. Naquele ano, o brasileiro conseguia comprar, em média, 22,6 kg de picanha com o valor do salário mínimo.

Mesmo com o poder de consumo tendo aumentado desde 2021, o Brasil ainda não retomou a marca de 20,0 kg ou mais de picanha comprados com o salário mínimo. 

BOLSA FAMÍLIA

Ao se considerar o preço da picanha com o valor médio do Bolsa Família, observa-se que o maior valor da série foi em 2023 –1º ano do mandato mais recente de Lula. Com o benefício, o cidadão conseguiu comprar 9,9 kg do alimento, em média, no ano passado. 

Os dados do auxílio são do governo federal. O valor apresentado em 2021 e 2022 considera os dados do Auxílio Brasil, criado por Bolsonaro na reta final de sua gestão.

REFORMA TRIBUTÁRIA

A Câmara dos Deputados aprovou na 4ª feira (10.jul.2024) o principal texto de regulamentação da reforma tributária do consumo. A versão final do texto definiu que as carnes serão totalmente isentas de tributação, como uma forma de deixar o alimento mais acessível. 

Atualmente, as carnes (inclusive picanha) têm a incidência do ICMS (Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços), que vai para os Estados.

A alíquota varia em cada unidade da Federação. Em São Paulo, por exemplo, vai de 7,0% a 11,0%. Outra carga que incide sobre o produto é o II (Imposto de Importação), em 10,8%. Este, entretanto, não terá mudança pela reforma tributária.

Especialistas esperam que a picanha fique proporcionalmente mais barata, caso esse aspecto do texto que passou na Câmara não seja alterado no Senado. Associações do setor procuradas pelo Poder360, entretanto, disseram que não tem como estimar qual seria a queda para o consumidor final.

A inclusão das carnes no rol de alimentos desonerados foi ​​de última hora durante a votação de 4ª feira (10.jul) na Câmara. 

Os deputados votaram um destaque do PL (Partido Liberal), de oposição, que determinava a alíquota zero para os alimentos. Próximo ao fim da sessão, o deputado federal petista Reginaldo Lopes (PT-MG), relator do principal projeto de lei complementar da regulamentação, manifestou em gesto comum um apoio do governo à causa.

O Ministério da Fazenda tentou barrar essa determinação, mas não conseguiu. Os técnicos da Fazenda estimam que a isenção total elevaria a alíquota padrão de 26,5% para 27,1%. No final, a opinião dos congressistas ligados ao Executivo prevaleceu com as pressões da oposição. O placar foi de 477 votos a favor, 3 contra e duas abstenções.

A partir daí, criou-se uma “guerra de narrativas”. Os congressistas da oposição defendem que a desoneração foi uma conquista do PL e que os governistas recuaram quando viram que o destaque passaria com folga, como explicitado pelo resultado da votação.

Deputados de esquerda e ligados ao governo, entretanto, buscaram enaltecer Lula. Segundo eles, a alíquota zero para as carnes foi uma conquista do petista.

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