A Polícia Federal encontrou no computador do ex-ajudante de ordens Mauro Cid uma imagem que mostra o encontro em que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) teria recebido parte do dinheiro referente à venda de 2 relógios que tinham sido dados a ele como presentes.
O encontro foi realizado no hotel Omni Berkshire Place, em Manhattan (Nova York), em setembro de 2022. Bolsonaro havia viajado para os Estados Unidos para participar da Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas).
Veja a imagem abaixo:
Participaram do encontro: Bolsonaro, Cid, Lourena Cid (pai do ex-ajudante de ordens) e outras 3 pessoas não identificadas pela PF. O Poder360 apurou que uma delas seria o embaixador da França nos EUA, Philippe Étienne, acompanhado de seu assessor.
Em depoimento à PF, o general Lourena Cid afirmou que repassou durante o encontro uma quantia, em espécie, referente à venda das joias, mas sem especificar o valor exato. Segundo a PF, até setembro de 2022, o pai de Mauro Cid já havia sacado US$ 37.600
“Indagado sobre como se deu o repasse dos valores decorrentes da venda dos relógios Patek Philippe e Rolex, respondeu que os valores foram repassados de forma fracionada conforme a disponibilidade de encontros com o ex-presidente Jair Bolsonaro; que se recorda de ter repassado ao ex-Presidente Jair Bolsonaro uma parte do valor, quando de sua ida à cidade de Nova lorque para um evento da ONU”, diz o relatório.
Depois da divulgação do relatório, a defesa de Bolsonaro negou que ele tenha se apropriado indevidamente dos presentes recebidos de autoridades estrangeiras durante viagens oficiais.
Também disse que Bolsonaro havia pedido que os bens do acervo privado fossem devolvidos “desde que foi noticiado” que o TCU abriu um procedimento, em março de 2023, para analisar a destinação deles. “A iniciativa visava deixar consignado, ao início da menor dúvida, que em momento algum pretendeu se locupletar ou ter para si bens que pudessem, de qualquer forma, serem havidos como públicos.”
O Poder360 entrou em contato com a defesa de Mauro Cid e de Mauro Lourena Cid para perguntar se gostariam de se manifestar a respeito das imagens e quem eram as outras pessoas sentadas à mesa. Não houve resposta até a publicação desta reportagem. O texto será atualizado se uma manifestação for enviada.
ENTENDA O CASO
A investigação, sob a relatoria do ministro Alexandre de Moraes no Supremo, apura o desvio de presentes luxuosos destinados ao então presidente Bolsonaro por governos estrangeiros.
O caso se deu depois de o TCU (Tribunal de Contas da União) determinar, em 2016, que todos os bens recebidos pelos chefes do Executivo devem ser incorporados ao patrimônio da União. A exceção são os bens de natureza personalíssima ou de consumo próprio –como alimentos, camisetas, perfumes, bonés, dentre outros.
Segundo relatório da PF, os itens foram vendidos a joalherias nos Estados Unidos por aliados do ex-presidente. A investigação afirma que o desvio ou a tentativa de desvio soma cerca de R$ 6,8 milhões.
Ao todo, Bolsonaro e mais 11 pessoas foram indiciadas pelo esquema. Leia abaixo quem são e quais os crimes:
- Jair Bolsonaro, ex-presidente da República (associação criminosa, lavagem de dinheiro e apropriação de bens públicos);
- Fabio Wajngarten, advogado do ex-presidente (associação criminosa, lavagem de dinheiro);
- Mauro Cesar Barbosa Cid, tenente-coronel e ex-ajudante de ordens do ex-presidente (associação criminosa, lavagem de dinheiro e apropriação de bens públicos);
- Mauro Cesar Lorena Cid, general e pai de Mauro Cid (associação criminosa e lavagem de dinheiro);
- Frederick Wassef, advogado (associação criminosa e lavagem de dinheiro);
- Bento Albuquerque, ex-ministro de Minas e Energia (associação criminosa e apropriação de bens públicos);
- Marcos André dos Santos Soeiro, ex-assessor de Bento Albuquerque (associação criminosa e apropriação de bens públicos);
- Julio Cesar Vieira Gomes, ex-secretário da Receita Federal (associação criminosa, lavagem de dinheiro, apropriação de bens públicos e advocacia administrativa);
- Marcelo da Silva Vieira, ex-chefe do Gabinete de Documentação Histórica da Presidência da República (associação criminosa, lavagem de dinheiro e apropriação de bens públicos);
- José Roberto Bueno Júnior, ex-chefe de gabinete do Ministério de Minas e Energia (associação criminosa, lavagem de dinheiro e apropriação de bens públicos);
- Osmar Crivelati, assessor de Bolsonaro (associação criminosa e lavagem de dinheiro);
- Marcelo Costa Câmara, ex-assessor de Bolsonaro (lavagem de dinheiro).
Quais são os próximos passos?
1. a PGR vai analisar as provas colhidas pela PF em até 15 dias (a contar a partir de 8 de julho) e decidir se vai arquivar o caso, pedir mais investigações ou denunciar os envolvidos –a lista de crimes pode mudar;
2. caso a PGR resolva denunciar os envolvidos, a denúncia será analisada pelo STF;
3. o STF, então, pode decidir se aceita a denúncia ou se arquiva o caso. Se escolher aceitar a denúncia, os envolvidos viram réus e responderão ação penal –podendo ser condenados ou absolvidos. O Supremo também pode mandar o caso para a 1ª Instância.