Relatório da PF (Polícia Federal) divulgado nesta 2ª feira (8.jul.2024) e usado como base para indiciar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no caso das joias mostra que o tenente-coronel Mauro Cid, à época ajudante de ordens do antigo chefe do Executivo brasileiro, teria pedido ajuda à Marcela Braga, então assessora de Michelle Bolsonaro, para transportar uma mala nos Estados Unidos.
O documento mostra uma troca de mensagens entre Cid e Braga, em que o ex-ajudante de ordens pede ajuda para levar uma mala a Miami, na Flórida (EUA), em 30 de dezembro de 2022. Na época, ela ocupava o cargo de vice-cônsul do Brasil em Orlando.
“As mensagens revelaram que Mauro Cid tentou usar a estrutura logística do Itamaraty nos Estados Unidos, por meio de Marcela Magalhães Braga, para transportar a referida mala da cidade de Orlando/Flórida para Miami/Flórida”, afirma.
O documento apresenta a troca de mensagens entre ambos, em que o tenente-coronel manda um áudio para a então assessora dizendo que pediria a ela um “favor”.
“Tem uma mala que eu preciso que vá para lá para Miami. Não tem pressa. Não precisa ser para agora, não. Você conseguiria descer com essa mala para mim?”, pergunta Cid.
E Braga responde: “Cid, eu não vou ao aeroporto, né? Então, você teria que deixar a mala lá no hotel. E aí, a gente tem que ver como é que manda isso para Miami. Porque aí tem que ser via Axel ou algo assim”, diz ela, também por meio de áudio. “A gente não tem esse transporte Orlando — Miami. A não ser quando o embaixador vier aqui. O embaixador André deve vir aqui meados de janeiro, aí ele poderia levar de voltar. Pode ser assim? O que que você acha?”.
Cid, então, diz: “Vocês não têm um motorista para fazer isso…”. Ele afirma que o pessoal do Itamaraty seria “enroladinho” e diz que eles bateriam um “papo”. Na sequência de mensagens apresentada pela PF, Braga depois responde “ok” e pergunta: “Chegou bem?”.
Em 2 de maio de 2024, segundo a PF, agentes entrevistaram a ex-assessora de Michelle sobre o caso no contexto do Auxílio Jurídico em Matéria Penal firmado com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos.
“Marcela Magalhães informou que se recordava das trocas de mensagens com Mauro Cesar Cid. A entrevistada relatou que o serviço que MRE [Ministério das Relações Exteriores] possui de mala diplomática é muito específico e abrange apenas os membros do Itamaraty e mesmo assim não abrangeriam transporte de mala entre cidades dentro dos Estados Unidos. Marcela informou que não viu e não teve contato com a mala e nem com Mauro Cid em 30 de dezembro de 2022 na cidade de Orlando”, diz o relatório.
No entanto, a PF informa, também com base em troca de mensagens, que Mauro Cid não conseguiu usar a estrutura logística do Itamaraty nos Estados Unidos, por meio de Marcela Braga, para transportar a mala de Orlando para Miami.
INDICIAMENTOS DA PF
Segundo relatório da PF, os itens foram vendidos a joalherias nos Estados Unidos por aliados do ex-presidente. A investigação afirma que o desvio ou a tentativa de desvio soma cerca de R$ 6,8 milhões.
Ao todo, Bolsonaro e mais 11 pessoas foram indiciadas pelo esquema. Leia abaixo quem são e quais os crimes:
- Jair Bolsonaro, ex-presidente da República (associação criminosa, lavagem de dinheiro e apropriação de bens públicos);
- Fabio Wajngarten, advogado do ex-presidente (associação criminosa, lavagem de dinheiro);
- Mauro Cesar Barbosa Cid, tenente-coronel e ex-ajudante de ordens do ex-presidente (associação criminosa, lavagem de dinheiro e apropriação de bens públicos);
- Mauro Cesar Lorena Cid, general e pai de Mauro Cid (associação criminosa e lavagem de dinheiro);
- Frederick Wassef, advogado (associação criminosa e lavagem de dinheiro);
- Bento Albuquerque, ex-ministro de Minas e Energia (associação criminosa e apropriação de bens públicos);
- Marcos André dos Santos Soeiro, ex-assessor de Bento Albuquerque (associação criminosa e apropriação de bens públicos);
- Julio Cesar Vieira Gomes, ex-secretário da Receita Federal (associação criminosa, lavagem de dinheiro, apropriação de bens públicos e advocacia administrativa);
- Marcelo da Silva Vieira, ex-chefe do Gabinete de Documentação Histórica da Presidência da República (associação criminosa, lavagem de dinheiro e apropriação de bens públicos);
- José Roberto Bueno Júnior, ex-chefe de gabinete do Ministério de Minas e Energia (associação criminosa, lavagem de dinheiro e apropriação de bens públicos);
- Osmar Crivelati, assessor de Bolsonaro (associação criminosa e lavagem de dinheiro);
- Marcelo Costa Câmara, ex-assessor de Bolsonaro (lavagem de dinheiro).
Quais são os próximos passos?
1. a PGR vai analisar as provas colhidas pela PF em até 15 dias e decidir se vai arquivar o caso, pedir mais investigações ou denunciar os envolvidos –a lista de crimes pode mudar;
2. caso a PGR resolva denunciar os envolvidos, a denúncia será analisada pelo STF;
3. o STF, então, pode decidir se aceita a denúncia ou se arquiva o caso. Se escolher aceitar a denúncia, os envolvidos viram réus e responderão ação penal –podendo ser condenados ou absolvidos. O Supremo também pode mandar o caso para a 1ª Instância.