Investigação da PF (Polícia Federal) indica que o então presidente Jair Bolsonaro (PL) usou o avião presidencial para sair do Brasil com joias recebidas como presente de governos estrangeiros até os Estados Unidos, onde foram vendidas. A informação consta no relatório final enviado ao STF (Supremo Tribunal Federal), cujo sigilo foi derrubado nesta 2ª feira (8.jul.2024), por decisão do ministro Alexandre de Moraes. Eis a íntegra (PDF – 138 kB).
O modus operandi foi repetido 3 vezes, segundo a corporação. Em 31 de dezembro de 2022, foram levadas 2 esculturas em formato de barco e de uma árvore. Ambas foram presentes entregues a Bolsonaro em 16 de novembro de 2021, em Manama, no Bahrein.
Os objetos foram guardados pelo general Mauro Cesar Lourena Cid em sua casa em Miami, na Flórida (EUA). Em seguida, ele e o filho, o então ajudante de ordens de Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid, tentaram vendê-los em estabelecimentos especializados, mas tiveram dificuldades.
Então, de acordo com a PF, o tenente-coronel relatou ao assessor de Bolsonaro Marcelo Camara que os itens voltariam para o Brasil junto ao pai.
Já um kit recebido pelo então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, de autoridades da Arábia Saudita em outubro de 2021, foi levado aos EUA durante viagem oficial da presidência em 30 de dezembro de 2022. Nele, havia itens masculinos da marca de luxo Chopard com caneta, anel, par de abotoaduras, rosário árabe e relógio.
Em seguida, o ajudante de ordens teria encaminhado o material para ser vendido pela empresa Fortuna Auction, em Nova York (EUA).
Em 8 de fevereiro de 2023, o kit foi submetido a leilão, mas não foi arrematado. Depois da tentativa frustrada de venda, Cid, Marcelo Camara e o também assessor de Bolsonaro Osmar Crivelatti organizaram o resgate dos bens, que foram encaminhados para Orlando, na Flórida, onde o ex-presidente estava morando.
Os itens só foram devolvidos ao Estado brasileiro em 23 de março de 2023, depois de decisão do TCU (Tribunal de Contas da União). Foram entregues em unidade da Caixa Econômica Federal em Brasília.
Segundo a PF, o mesmo esquema foi feito com o kit que continha anel, abotoaduras, rosário islâmico e relógio da marca de luxo Rolex, de ouro branco, entregue ao então presidente durante visita oficial à Arábia Saudita em outubro de 2019.
PF INDICIA BOLSONARO
As investigações que constam no relatório serviram para embasar o indiciamento do ex-presidente e outras 11 pessoas no inquérito que apura a venda ilegal de joias da Arábia Saudita no exterior.
A corporação concluiu haver indícios de crimes de associação criminosa, lavagem de dinheiro, e apropriação de bens públicos.