Pré-campanha em São Paulo tem debate sobre impactos da polarização na eleição

A pré-campanha à Prefeitura de São Paulo tem como base em seus primeiros meses atos e declarações diretamente relacionadas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

O pré-candidato do PSOL, Guilherme Boulos, é aliado de Lula e tem como pré-candidata a vice a ex-prefeita Marta Suplicy, que foi trazida de volta ao PT pelo chefe do Executivo federal.

Tabata Amaral, pré-candidata do PSB, tem apoio do vice-presidente Geraldo Alckmin, que é de seu partido.

Já o prefeito Ricardo Nunes (MDB), vem agregando suporte de Bolsonaro.

Os três são os mais bem colocados no Índice CNN, agregador de pesquisas eleitorais compiladas pelo Ipespe Analítica.

Em 25 de fevereiro, Nunes esteve no ato pró-Bolsonaro na Avenida Paulista. Mesmo não discursando, subiu no trio elétrico com outras autoridades, como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que é apoiador de sua campanha.

A questão foi vista pelo MDB como uma “decisão pessoal” e que “não representava o partido”.

Na ocasião, Boulos chamou o prefeito de “tchutchuca” de Bolsonaro. “Vai para a Avenida Paulista para celebrar um ato de golpista. É uma vergonha. Esse prefeito se comporta como um ‘tchutchuca’ do Bolsonaro”, disse.

Em resposta, Nunes expressou que o deputado federal é “dissimulado” e “especialista em baixaria”, enquanto se autointitulou “especialista em gestão”.

À CNN, a pré-campanha do Nunes diz que não é ele, neste momento, quem apoia o ex-presidente. Mas, ponderam que a polarização não influenciará na totalidade da eleição, com a população estando mais preocupada em discutir a cidade.

“É Bolsonaro que vem demonstrando apoio à reeleição do prefeito de São Paulo em 2024. Trata-se de apoio importante, e que tem muito o que agregar”, explica.

Nesta semana, Nunes e Bolsonaro se encontraram durante a cerimônia de entrega do título de cidadã paulistana para a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e em um almoço na casa de Fábio Wajngarten, advogado do ex-presidente.

O ex-presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), e o prefeito de são Paulo, Ricardo Nunes (MDB), durante cerimônia de entrega do título de cidadã paulistana à ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, no Theatro Municipal, na região central de São Paulo, na noite desta segunda-feira (25). A homenagem, proposta pelo vereador Rinaldi Digilio (União), é realizada no Teatro e ocorre após uma batalha judicial que ainda promete desdobramentos. Inicialmente, o espaço seria cedido pela prefeitura à Câmara Municipal para a realização da sessão solene. Porém, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ- SP) impediu o uso do espaço nessas condições porque entendeu que a homenagem acarretaria "grave risco de desvio de finalidade do bem público".
Jair Bolsonaro e Ricardo Nunes / Gabriel Silva/Ato Press/Estadão Conteúdo

O presidente do PT no município de São Paulo, Laércio Ribeiro, argumenta que a polarização, neste momento, é inevitável.

“Isso impacta negativamente a campanha do Ricardo [Nunes] à medida que o Bolsonaro tem uma alta rejeição na cidade de São Paulo e acho que isso impacta positivamente o Boulos, à medida que o Lula ainda segura a popularidade”, justifica Laércio em entrevista à CNN, utilizando como base a mais recente pesquisa Datafolha sobre a gestão federal.

Para o cientista político Rafael Cortez, professor do Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP), a dinâmica do cenário eleitoral no momento está antecipando os conflitos que já eram esperados, com maior destaque para Nunes e Boulos.

“Esses são dois polos que se comunicam com questões políticas nacionais, seja porque traduzem conflito entre esquerda e direita, seja porque também traduzem conflitos entre lulismo e bolsonarismo diante dos padrinhos políticos que ambos candidatos possuem”, cita Cortez.

Disputa pela frente ampla

Boulos e Nunes estão disputando o conceito de “frente ampla” na capital.

O termo foi amplamente difundido pela campanha de Lula em 2022, ao trazer Alckmin para ocupar o posto de vice, que havia sido seu antagonista em diversas ocasiões.

Em 13 de janeiro, durante o primeiro encontro de Boulos e Marta, a ex-prefeita divulgou um manifesto pela frente ampla, dizendo ser o momento de “convocar a todos para o esforço de uma grande mobilização pela democracia”.

Posteriormente, no ato de filiação de Marta ao PT, em 2 de fevereiro, Boulos disse que a ex-prefeita se juntou ao projeto do PSOL com a consciência de uma missão: “Derrotar o bolsonarismo na maior cidade do país.”

Guilherme Boulos, Lula e Marta Suplicy / ALEX SILVA/ESTADÃO CONTEÚDO

A pré-campanha de Nunes, por sua vez, afirma que é no seu entorno que existe a “verdadeira” frente ampla das eleições municipais de São Paulo.

“Em comparação com os adversários políticos do prefeito, sua aliança é a maior até o momento. MDB, PL, PP, Solidariedade, Republicanos, PSD, Agir e Avante fazem parte da composição”, cita, ainda colocando como esperadas as adesões formais de Podemos e do União Brasil. Era esperada uma adesão da federação PSDB-Cidadania, que não se confirmou.

A composição, na opinião da pré-campanha, é uma frente ampla tanto no nome, quanto no número, diversidade e no compromisso com São Paulo. Em comparação, expressam que a campanha de Boulos conta com quatro siglas — todas de esquerda.

Em contrapartida, Laércio Ribeiro observa que o prefeito conseguiu um maior número de partidos por estar no poder.

“O que nós estamos tentando construir aqui é a mesma frente que deu a vitória para o Lula e o Haddad na cidade de São Paulo”, exemplifica o presidente do PT paulistano.

“A frente que nós estamos tentando construir é uma frente ampla com a sociedade, não necessariamente uma frente de partidos, é uma frente ampla”, prossegue.

O apoio do PSDB

Citado pela campanha de Nunes, o PSDB definiu que não apoiará Nunes e deve atuar por uma candidatura própria.

Após a participação do prefeito no ato pró-Bolsonaro, Eduardo Leite, governador do Rio Grande do Sul e ex-presidente do partido, afirmou que o apoiar “destoa” do que o PSDB busca representar nacionalmente.

Em reação, Nunes lamentou o posicionamento e disse que o candidato não é Bolsonaro.

“O candidato sou eu, não o Bolsonaro. Ele vai fazer oposição à gestão Bruno Covas, ao governo predominantemente tucano?”, questionou o Nunes, citando Covas de quem era vice até 2021.

Ricardo Nunes e Bruno Covas / Reprodução/Facebook

Uma ala do PSDB paulistano defende o apoio do partido a deputada federal Tabata Amaral. Eles observam semelhanças ideológicas entre a deputada federal e o ex-prefeito Bruno Covas, que tinha Nunes como seu vice.

O marqueteiro da campanha de Tabata, Paulo Nobel, afirma à CNN que vê a crescente adesão dos tucanos com bastante esperança e alegria.

“Entendermos que a aproximação de tantas figuras importantes do PSDB acrescentam um pedigree à candidatura da Tabata. Então vemos com muito bons olhos essa aproximação”, expressa Nobel.

Entretanto, para o marqueteiro, não é possível ver com bons olhos a apropriação do espólio de Bruno Covas e de como estão tentando “falar em nome dele”.

“A gente não faz e não fará isso, como a gente vê adversários tentando. Ninguém pode falar em nome de alguém que não está mais aqui”, justifica o marqueteiro.

A falsa polarização

Na opinião de Nobel, existe uma falsa polarização na cidade, porque Boulos não é Lula. E Nunes não é Bolsonaro.

“Então, antes de mais nada, essa polarização interessa a quem? O que está em jogo quando o Lula traz o tema da polarização para São Paulo? Certamente é uma forma de antecipar uma questão eleitoral de 2026”, diz Nobel, cuja campanha tem apoio de Alckmin.

Tabata Amaral e o vice-presidente Geraldo Alckmin / Cadu Gomes/VPR

Para o marqueteiro, estão tentando trazer novamente a questão da polarização para a cidade, como aconteceu em 2020, na disputa entre Boulos e Covas. Na ocasião, o então prefeito se posicionou contra a questão e venceu a eleição.

Isso seria uma “prova que o eleitor paulista, claro que é influenciado pela polarização, mas também considera muito a discussão sobre a própria cidade”.

Entretanto, Nobel observa que existem oportunidades e riscos nos ataques entre Boulos e Nunes.

“Porque em parte, esse desgaste, essa exacerbação, inclusive em termos pessoais da disputa, pode causar um desgaste nos adversários. O risco é que esse debate fiquei muito polarizado entre os dois e que a gente fique um pouco fora do noticiário, um pouco fora da atenção do eleitor, que nesse ‘Fla-Flu’, a nossa candidatura perca foco”, analisa o marqueteiro.

O cientista político Rafael Cortez explica que a influência de uma dinâmica de polarização coloca um desafio para que outros pré-candidatos, como Tabata Amaral, consigam entrar na disputa.

Em sua visão, é necessário que a pré-candidata do PSB consiga encontrar um ponto do discurso que pareça suficientemente com elementos de direita para atrair um eleitorado mais identificado com Nunes, entretanto, sem parecer um nome de esquerda, que se pareça com Boulos, e vice-versa.

“Tem ali um movimento mais palatável para esquerda, sem, contudo, defender bandeiras que já estão ligadas à candidatura de direita. E é esse o desafio, porque em alguma medida o posicionamento das pessoas sobre os temas importantes, eles são binários”, observa Cortez.

Este conteúdo foi originalmente publicado em Pré-campanha em São Paulo tem debate sobre impactos da polarização na eleição no site CNN Brasil.

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