A PF (Polícia Federal) encontrou no computador do ex-ajudante de ordens Mauro Cid um documento com uma lista de passageiros do voo presidencial para Orlando (EUA) em 30 de dezembro de 2022. Esse documento não-oficial foi usado para basear a prisão de Filipe Martins, ex-assessor de Jair Bolsonaro (PL), na operação Tempus Veritatis, em 8 de fevereiro de 2024
Em um relatório da investigação da PF, obtido pelo Poder360, o arquivo encontrado no computador de Cid é nomeado de “Orlando v.10.docx” e apresenta uma lista de passageiros do voo presidencial do fim de 2022. Eis os nomes escritos no documento:
- Jair Bolsonaro (PL);
- Michelle Bolsonaro (PL);
- Sérgio Cordeiro;
- Filipe Martins;
- Coronel Gustavo Suarez;
- Coronel Eduardo Bacelar;
- Coronel Marcelo Câmara;
- Tércio Arnaud;
- Tenente-coronel Mauro Cid;
- Tenente-coronel Marcelo Zeitoune;
- Tenente-coronel Max Steinert;
- 1° Sargento Moises Cavalcanti;
- 2º Sargento Cassio Santos;
- Agente de Segurança Pessoal de Michelle Bolsonaro (a confirmar);
“A análise realizada no MacBook apreendido na residência de Mauro Cid identificou uma lista de passageiros que teriam saído do Brasil na comitiva do então presidente Jair Bolsonaro no dia 30 de dezembro de 2022 com destino a Orlando/ Flórida nos Estados Unidos da América. O arquivo se chama ‘Orlando v.10.docx’ e traz em sua lista de passageiros o então assessor Filipe Martins”, diz um trecho do relatório da PF da Tempus Veritatis.
Segundo a defesa de Martins, a lista usada pela PF tem imprecisões. Em petição (eis a íntegra – PDF – 330 kB) enviada ao STF, os advogados do ex-assessor anexaram uma resposta a um pedido de LAI (Lei de Acesso à Informação) de 24 de janeiro de 2023.
O documento público (pode ser acessado aqui), não menciona Filipe Martins como passageiro do voo presidencial e também censura os nomes de 3 seguranças pessoais — os últimos da lista acima. Os restantes aparecem registrados.
Alguns arquivos do tipo “docx”, da empresa Microsoft, podem ser editados mesmo depois de salvos. É desconhecido se esse era o caso do documento apreendido no computador de Cid.
PF
Eis o que disse a PF na representação incluída na decisão de Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal):
- o nome de Martins estava na lista de passageiros a bordo do avião presidencial que decolou de Brasília para Orlando em 30 de dezembro de 2022;
- não foi possível verificar a saída de Martins no controle migratório e isso poderia “indicar que o mesmo tenha se evadido do país para se furtar de eventuais responsabilizações penais”;
- a localização de Martins era incerta;
- “faz-se necessária a decretação da prisão cautelar como forma de garantir a aplicação da lei”.
Filipe Martins foi preso em 8 de fevereiro de 2024 depois de a PF argumentar que o ex-assessor de Bolsonaro teria tentado fugir do país e que não sabia com exatidão seu destino e local de moradia. Alexandre de Moraes concordou e determinou a prisão.
LATAM
A defesa de Filipe Martins alega que ele não embarcou para os EUA com Bolsonaro no final de 2022. Ele teria viajado, na realidade, para Curitiba (PR), em 31 de dezembro de 2022, em um voo da Latam. Estava acompanhado da namorada Anelise Hauagge. Os advogados apresentaram print’s das passagens e comprovantes de bilhetes.
A PGR (Procuradoria Geral da União) concordou com os argumentos da defesa e emitiu parecer favorável à soltura de Martins. Segundo o procurador-geral da República, Paulo Gonet, os advogados apresentaram provas que comprovam a permanência dele no Brasil, apesar de ter seu nome na lista de passageiros do voo presidencial que decolou com destino aos EUA.
Em razão disso, Moraes intimou a Latam para que confirmasse se o ex-assessor embarcou no voo para capital paranaense. Mas, como mostrou o Poder360, a companhia aérea já confirmou o embarque de Martins para Curitiba na mesma data.
Moraes também acionou o Aeroporto Internacional de Brasília para informar se há imagens dos embarques da comitiva presidencial com destino a Orlando.